Associação Ogboni
A Associação Ogboni é uma instituição dos Iorubás incumbida de funções religiosas, administrativas, políticas e judiciais. Ela é uma espécie de assembléia de anciãos que, unidos ritualmente, regem um importante culto estruturado a partir da cosmogonia dos Iorubás: o culto a Ilè ou Onílè [a Mãe Terra Iorubá], entidade que é tida como mais poderosa do que os Orixás e Mãe de todas as divindades iorubanas.
Criada para designar determinados tipos de organizações africanas que se estruturavam de modo diferente dos ideais ocidentais, a expressão sociedade secreta se vê associada a instituições africanas que mantêm segredo acerca de seus conhecimentos, crenças e rituais; que proíbem a revelação por parte de seus membros sobre o que ocorre nas assembléias, restritas aos iniciados titulados; e, que não permitem a quebra dos acordos lá firmados.
A Associação Ogboni é uma ressonância de uma religião anterior às mudanças políticas que se fizeram pela chegada, pelo leste, do primeiro rei Iorubá e seus descendentes – aqueles que instituíram o culto dos Orixás. Os sacerdotes Ogboni teriam conseguido conservar o poder e o prestígio dentro do novo sistema porque sabiam pacificar Onílè e mantê-la fértil.
As tradições orais registram essa ruptura que separa dois momentos históricos: um, quando haviam sociedades com pequena estratificação social, vivendo da agricultura e que só faziam culto à terra; e um outro em que o culto à terra persistiu de alguma forma, mas coligado a uma religião estrangeira [o culto aos Orixás], provavelmente adotado e cultivado depois de migrações na região e da intensificação do comércio e formação de reinos.
Entre os Iorubás enquanto o Deus Supremo e os Orixás estão associados ao mundo transcendental, o homem está associado ao mundo físico. Apesar dessa divisão, esses dois mundos são dinâmicos e se interpenetram: tudo que existe no mundo físico possui um duplo abstrato no mundo transcendental e tudo que existe no mundo transcendental possui sua representação no mundo físico.
Onílè é a “dona do Ilê, por extensão, “dona do mundo”. Onílè, então, apartando-se do grupo dos Orixás, relaciona-se intimamente com o homem e com os entes ancestrais, como os mortos Eguns, as feiticeiras Ajés e os espíritos Oros.
O Edan Ogboni, ícone dessa associação, é uma escultura de liga de cobre. Este objeto compõem-se de um casal humano ligado por uma corrente. Este casal, mais do que simbolizar os ancestrais fundadores da cultura, vem apresentar a ideia de que Onílè é uma entidade completa, no sentido de possuir tanto as qualidades do homem quanto da mulher, ou seja, detém a ancestralidade por completo. Somado ao fato de que se considera Onílè a mãe mítica, fonte feminina de poder das Ajés, seu culto envolve ritos com vista a aplacar ou apaziguar sua cólera.
Nas terras brasileiras a associação teve de abdicar de suas funções administrativas e judiciais, restando o componente religioso: o culto à misteriosa e poderosa Mãe-Terra, Onílè, que na verdade é o cerne e o grande sentido da existência dessa importante instituição Iorubá.
Associação Gueledé
O espetáculo Gueledé originou-se em Keto, onde Iya Nlá praticava uma dança com uma escultura [mascara – NB] na cabeça, a qual atraía a atenção de muitas mulheres e crianças. Quando Iya Nlá morreu, a obrigação de continuidade da dança ficou a cargo de seu marido, Babá Aborè. Depois que ele fez a apresentação, a prosperidade de sua comunidade mudou para melhor. Então os anciãos dedicaram um templo a Iya Nlá e imploraram para que Babá Aborè para que fizesse a apresentação anualmente. Depois que Aborè morreu, uma imagem sua foi colocada ao lado da de Iya Nlá, no mesmo altar. Assim, tornou-se uma tradição que as máscaras dancem em pares masculino-feminino, remetendo a esse casal mítico.
Com relação ao santuário, chamado de Asè, este geralmente fica em uma gruta, próxima à arena da performance. Frequentemente dispõe de uma antecâmara para dispor as máscaras e uma câmara interna que é interditada aos não iniciados, onde os símbolos ficam enterrados ou cobertos com um pote invertido.
Fonte: “Parafernália das Mães Ancestrais”, de Ademir Ribeiro Júnior, pg. 33 a pg. 42.
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