sábado, 26 de dezembro de 2015

O universo de Nikolai Gogol

Aproveitando o merecido descanso com o recesso do forum, eu e Kátia passamos vários dias e horas vendo filmes. Um deles, "coincidentemente" visto na véspera do solstício de verão chamou muito minha atenção porque foi tão bom quanto o Labirinto do Fauno. O filme se chama simplesmente de Viy e foi baseado nas obras de Nikolai Gogol.
O filme sintetiza vários textos de Nikolai Gogol e vale a pena ver porque fala muito do folclore eslavo. Eu irei expor tanto o filme quanto Nikolai.
O filme fala sore o folclore eslavo, presente em toda a Europa Oriental. De acordo com o próprio Nikolai, Viy é o Rei dos Gnomos, cujas pestanas alcançam o chão, mas o filme gira todo em torno da antagonista, Pannochka, a "bruxa".
Nikolai foi um dos escritores que se pode definir como parte do "Movimento Romântico", onde intelectuais e escritores tentavam resgatar as origens e raízes dos povos europeus. Nikolai fez parte da Eslavofilia e da Escola Naturalista. Tido como "escritor cristão", vivendo em pleno alvorecer da Era Moderna e dos eventos que desencadeariam a Revolução Russa, Nikolai é estranhamente... pagão. Isso é algo que os pagãos modernos tem que lidar. Muitas das fontes e referências que temos, literárias e acadêmicas, vem de pessoas... "cristãs".
Nikolai demonstra bem como é pertencer a dois mundos distintos. Sua obra contém referências à Igreja Ortodoxa Russa, mas seus personagens parecem mais uma crítica à hipocrisia reinante na Igreja Cristã. A obra de Nikolai e o filme refletem muito essa névoa indistinta, onde a religião oficial se mistura com o folclore popular.
O filme evidentemente reflete esse dilema. Os protagonistas, três padres, mostram como tão pouco separa o secular do clerical, tanto são seus vícios e falhas. O cartógrafo serve mais como narrador, que cumpre o papel de protagonista em duas cenas, que se podem considerar como uma crítica à ciência e à descrença.
A primeira cena do cartógrafo como protagonista é quando ele, junto com os cossacos, estão em uma taverna, quando seus companheiros de viagem começam a se transformar em seres sobrehumanos, quando aparecem outras visagens.
A segunda cena do cartógrafo como protagonista é quando aparece Viy. Nada pode explicar ou decifrar o que o personagem está vivenciando. Todo seu conhecimento acadêmico, científico e "objetivo" falham miserávelmente. O mundo Sobrenatural é quem comanda a cena. O mando da cena é de Pannochka, a "bruxa".
Pannockhka é quem ordena aos espíritos da natureza para evocarem Viy. Pannochka é quem conduz o cartógrafo a descobrir o responsável por sua sina, que é o padre, que a havia estuprado e matado. Pannochka é quem mostra aos padres quão pouca e fraca é a crença e o Deus que eles professam. Pannochka é tanto a bruxa como uma ninfa, é tanto a donzela que ressurge dos mortos por vingança quanto a sacerdotisa de ritos esquecidos.
O filme Viy, certamente com menos recursos e exposição do que o Labirinto do Fauno, dá a correta dimensão do folclore, que vai muito além da literatura infanto-juvenil que tem influenciado filmes sobre o Paganismo, a Bruxaria e a Religião Antiga.
O universo de Nikolai Gogol mostra para consternados pagãos modernos que o que nós temos feito e chamado de Paganismo, Bruxaria e Religião Antiga é um pálido remedo infanto-juvenil do que realmente o Ofício é. Em uma comunidade dominada pela espiritualidade de conveniência, o filme seria anátema. Tanto melhor. O Caminho dos Bosques Sagrados continuará aberto para poucos.

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