Pergunte a qualquer pessoa que esteja entrosada ou
interessada em esoterismo e ocultismo se sabe o que é o Caminho de Santiago de
Compostela e você receberá um olhar desconfiado. Pergunte a mesma pessoa se
sabe o que é a Rota [ou Caminho] de Peabiru e você receberá um olhar
inquisidor.
Esotéricos, místicos, ocultistas, magos e pseudo-magos de
todo calibre sabem de cor e salteado o que é o Caminho de Santiago de
Compostela. Muitos até fazem sucesso escrevendo livro sobre suas experiências. Mas
o Caminho de Peabiru não tem o mesmo apelo, emoção, destaque, importância ou
popularidade. Porque alguém falar que fez o Caminho de Santiago é chique, é
europeu, é sofisticado. O Caminho de Peabiru tem suas mística e lenda próprias,
que têm seus méritos.
O Caminho de Peabiru deveria ser mais conhecido e mais
valorizado pelos brasileiros do que o Caminho de Santiago, não apenas por sua
carga espiritual, mas porque exerceu grande influência em nossa história. O
pagão brasileiro deve conhecer tanto sua história quando sua mitificação.
Vamos aos fatos da enciclopédia virtual, a Wikipédia:
Os peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho;
"abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos
indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus,
ligando o litoral ao interior do continente. A designação Caminho do Peabiru
foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra
"História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán", no
início do século XVIII. Outras fontes, no entanto, dizem que o termo já era
utilizado em São Vicente logo após o descobrimento do Brasil pelos portugueses,
em 1500.
O principal destes caminhos, denominado Caminho do Peabiru,
constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico. Mais
precisamente, Cusco, no Peru (embora talvez se estendesse até o oceano
Pacífico), ao litoral brasileiro na altura da Capitania de São Vicente (atual
estado de São Paulo), estendendo-se por cerca de 3 000 quilômetros,
atravessando os territórios do Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil. Segundo os
relatos históricos, o caminho passava pelas regiões das atuais cidades de
Assunção, Foz do Iguaçu, Alto Piquiri, Ivaí, Tibagi, Botucatu, Sorocaba e São
Paulo até chegar à região da atual cidade de São Vicente.
Pesquisas iniciadas no século XIX pelo Barão de Capanema
levaram à formulação da hipótese de o caminho ter sido criado pelos incas numa
tentativa de trazer a sua cultura até os povos da costa do Oceano Atlântico,
abrindo o caminho no sentido oeste-leste, portanto. Como apoio a essa linha,
refere-se o testemunho de mais de um cronista de que os incas chamavam seu
território de Biru. Desse modo, a denominação do caminho poderia resultar do
híbrido pe-biru, que equivaleria a "caminho para o Biru". [Wikipédia]
A controvérsia antropológica:
O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Igor
Chmyz, da área de pós-graduação em Antropologia Social, estuda o Peabiru desde
a década de 70 e, neste ano, tem apresentado algumas conclusões a que chegou
durante os quase 40 anos de pesquisa.
A primeira resposta é a de que muitos autores têm defendido,
erroneamente, que o caminho foi criado pelos índios tupi-guaranis. Na verdade,
a autoria deve ser dada aos índios do tronco Macro-Jê, que são conhecidos por
Jê.
A hipótese de que o Peabiru pode ter sido criado pelos incas
é totalmente descartada pelo pesquisador. Igor Chmyz explica que os incas
aparecem por volta do século 12 nas imediações do lago Titicaca, entre o Peru e
a Bolívia. Porém, apenas no apogeu, isto é, no século 14, é que eles expandem o
Império que chega a atingir o norte da Argentina, Chile e sobe até a Colômbia –
quando foi implantado o sistema de caminho deles. “Isso quer dizer que os
nossos, nesta época, já existiam.” As peças encontradas no Peabiru, que são
associadas aos incas, provavelmente foram trazidas pelos viajantes do século
16, que também usaram o Peabiru. [Gazeta do Povo]
A relação mística:
Se olharmos os mapas existentes do Peabiru, chama logo a
atenção o fato dele não ser na direção norte-sul e nem leste-oeste, mas sim inclinado.
Ao notar essa inclinação, a pergunte é: por que os índios escolheram essa
direção ao abrir a trilha? Como eles se orientaram para percorrer esse caminho?
Se olharmos para o céu, podemos ver a Via Láctea, que era
chamada pelos Guaranis de Caminho da Anta [Tapirapé] ou Morada dos Deuses, [a
Terra Sem Males]. [Ciência e Astronomia]
O Caminho ganhou esse nome posteriormente, por parte de um
explorador espanhol, bem como seus elementos de folclore cristão, ao ser
chamado de Caminho de São Tomé, identificado como o personagem mítico Sumé ou
Zumé. Este foi o caminho que os portugueses, saindo de São Vicente, foram
colonizando o interior do Brasil, até que um jesuíta, um português náufrago e
Martim Afonso fundaram a Vila de São Paulo de Piratininga, que cresceria e
daria forma à grande cidade de São Paulo.
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