Os pagãos modernos pelo mundo todo adotam o que se
convencionou chamar de “Roda do Ano”, um calendário supostamente Celta que
divide o ano em oito datas que os pagãos modernos se apropriaram da Wicca Tradicional.
Como um pagão moderno estudioso, eu percebi que essa “Roda
do Ano” não é Celta e não possui qualquer relação com qualquer civilização de
origem Indo-Européia. Muitos dos ditos “sabats” que os pagãos modernos celebram
tem origem em datas festivas galesas, datas festivas germânicas e algumas são simples
invenções modernas.
No entanto a base de nossa crença é o sagrado na natureza,
no mundo. Então a “Roda do Ano” é mundialmente adotada pelos pagãos modernos,
conforme as datas das estações locais e os solstícios e equinócios, que são
eventos astronômicos, historicamente atestados como datas festivas celebradas
por diversas culturas e povos.
Ao visitar o blog Chakaruna, eu fiz um achado que vem bem a
calhar para os pagãos latinos: a existência de uma “Roda do Ano” latina e uma
astronomia Tupi-Guarani.
Eu vou citar os trechos mais importantes:
O tempo é uma constante da natureza em que existimos e todas
as civilizações do mundo desenvolveram sua maneira própria para compreender e
ser relacionar com ele. A civilização Qolla, por exemplo, conta com dois
calendários: o primeiro é o CALENDÁRIO AMAWTA, contendo as metáforas sobre a
origem do tempo e suas respectivas idades; o segundo é o CALENDÁRIO QOLLA.
Ambos, no entanto, têm referência astronômica e são calendários luni-solares.
Em sua versão ancestral, o calendário qolla sistematiza o
ciclo solar, lunar e agrícola usando uma unidade de tempo chamada KUMI - um
período de 20 anos, muito conhecida nos Andes e ainda hoje usada, sobretudo
pelos mais velhos, que contam o tempo de 20 em 20 anos. O kumi é formado por
cinco TAWA, e cada tawa tem quatro anos. Um tawa une-se ao seguinte por
intermédio de um dia chamado JACH’A URU ou JUTUN P’UCHAY, que significa “O
Grande Dia”.
O termo andino para significar o ano é MARAWATA. Mara
significa “ano” na língua Aymara; em quéchua, mara é uma pedra especial,
aquecida pelos raios solares e wata significa “reforço” ou “remendo”,com o
sentido de sustentar algo. Portanto, MARAWATA significa “sustento do ano”. O
marawata se expressa através da INTIWATANA (as amarras do Sol), um gnomo: uma
coluna de pedra usada para acompanhar a passagem do ano através da sombra
projetada pelo sol nas diferentes épocas. O campo dessa sombra é dividido em
dois tirsu, que equivale a meio ano, e quatro taru, que é a quarta parte do
ano. As estações do ano de acordo com o material lítico e as informações orais
que nos chegaram, se traduzem em quatro PACHAS [indicada pelos quatro taru],
que são:
Juyphipacha (tempo do
frio), começa em 04 de Maio e termina em 02 de Agosto. Em 04 de Maio acontece a
FESTA DA CHAKANA, talvez a mais popular em todo Andes, sinalizada pelo Cruzeiro
do Sul (Chakana) que atinge seu ponto mais alto no céu. No dia 21de Junho –
solstício de inverno – acontece o INTIRAYMI ou a FESTA DO SOL. Essa festa
começa a ser preparada a partir da lua nova antes de 21 de junho, e dura três
dias antes e três dias depois solstício, ou seja, de 18 a 24 de junho.
Wayrapacha (tempo do
vento), começa no dia 3 de agosto e acaba em 1º de Novembro. No dia 21 de
Setembro – equinócio da primavera – acontece a QHUAYARAYMI ou FESTA DOS JOVENS
Jallupacha (tempo das
chuvas), começa em 1º de Novembro e termina em 02 de Fevereiro. No dia 21 de
Dezembro – solstício de verão – celebra-se o QHAPAXRAYMI ou A GRANDE FESTA DO
SOL, festa da família.
Llamp´upacha (tempo do calor), vai de 2 de fevereiro a 2 de
maio. No dia 21 de março – equinócio de outono – acontece o PAWKAR RAYMI ou
FESTA DOS SÁBIOS, das pessoas mais velhas.
O ano qolla é composto por 13 meses lunares de 28 dias
aproximadamente chamados PHAXIS, que começam sempre na Lua Nova. Em aymara,
“phaxis” tanto significa “mês” quanto “lua”. Dessa forma, o ano tem normalmente
364 dias. Para equivaler ao ciclo solar, recebe um dia extra chamado MARAT’AQA
ou WATAP’ITI, que significa “ruptura do ano”.
O Marat’aqa é considerado um dia fora do ano, um tinku – a
ponte entre o ano velho e o ano novo.
Só bem depois, os dias foram recebendo nomes mais fixos e
associados às cores do arco-íris – outro símbolo potente nos Andes:
Sábado - Chupuru - VERMELHO
Domingo - Wanturu - LARANJA
Segunda - Q’illuru - AMARELO
Terça - Ch’uxñuru - VERDE
Quarta - Laqpuru - CELESTE
Quinta - Larmuru - AZUL
Sexta - Qulluru – VIOLETA
Fonte: Chakaruna
Desse mesmo blog vem a informação mais crucial aos pagãos
latino-americanos, que é a astrologia tupi-guarani, que ordena e organiza seu
calendário pela constelação do Cruzeiro do Sul.
Eu vou citar os trechos mais importantes:
O Cruzeiro do Sul fica em plena Via Láctea, sendo a constelação
mais conhecida dos indígenas do Hemisfério Sul, que a utilizam para determinar
os pontos cardeais, as estações do ano e a duração do tempo à noite. As
Plêiades ficam em segundo lugar, sendo utilizadas para calendário.
Segundo d’Abbeville, os tupinambá conheciam muito bem o
aglomerado estelar das Plêiades e o denominavam “Seichu”. Quando elas apareciam
no lado leste, ao anoitecer, afirmavam que as chuvas chegariam como chegavam,
efetivamente, poucos dias depois. Como a constelação aparecia alguns dias antes
das chuvas e desaparecia no fim para tornar a reaparecer em igual época, eles
reconheciam perfeitamente o intervalo de tempo decorrido de um ano a outro. Da
mesma maneira, atualmente para os tembé, que habitam o norte do Brasil, o
surgimento das Plêiades anuncia a estação da chuva e o seu ocaso, quando elas
desaparecem no lado oeste, ao anoitecer, indica a estação da seca. Para os
guarani do sul do país, o aparecimento das Plêiades anuncia o verão, enquanto o
seu desaparecimento indica a proximidade do inverno.
Fonte: Chakaruna
Nossos índios não eram ignorantes como nos fizeram crer. Eles
foram capazes de fazer observações astronômicas e astrológicas. Os tupi-guarani
tem até seus próprios sistemas de signos astrológicos. Então a sugestão que eu
dou a todos os pagãos latino-americanos é que adotemos referências que têm mais
afinidade com a natureza e as nossas origens e raízes neste continente.
2 comentários:
Muito interessante. Parabéns pela postagem. Os wiccanos brasileiros deveriam servir à Deusa orientando seus festivais segundo os ciclos da natureza brasileira. Afinal, não é a natureza uma manifestação da Deusa?
Abraço.
Que interessante! Em 2016 eu criei um calendário lunar adaptado à região do meio norte do Brasil, e hoje revisando, percebi a complexidade de alinhar com os equinócios e solstícios. Encontrei uma possível solução no calendário lunisolar celta, que adiciona o 13o mês a cada 2,5 anos, porém, não sei em que ano começar... De qq forma sua postagem adiciona ótimas informações!
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