A real diferença entre elétrons e fadas é que para os elétrons acumulamos uma coleção de regras pequenas e específicas sobre como se comportam sob certas circunstâncias. Essas regras nos permitem fazer previsões muito específicas sobre o comportamento do elétron, e sobre o resultado dessas observações.
A palavra “sob certas circunstâncias” indica que a teoria somente se sustenta de forma precária, em outras condições a teoria desaparece por completo. A física quântica é um campo bem delicado, nesse sentido. Pior, as teorias da física quântica ainda não possuem comprovação científica, mas ainda assim dá-se crédito, acredita-se em tais teorias.
Fadas são muito mais arbitrárias. Uma fada sabe o que tem de ser feito. Não pudemos encontrar nenhuma regra útil para predizer como uma fada irá se comportar em determinadas circunstâncias, ou até mesmo nos informar quando uma fada estará envolvida numa observação em particular. Por muitas, muitas décadas não foi possível, aos humanos, testar um conjunto razoável de regras de previsões de fadas, ou encontrar onde estão os erros dessas regras e substitui-los por um conjunto melhor de regras.
Toda a polêmica e celeuma sobre a existência ou não dos Deuses e outras entidades se resumem a essa necessidade neurótica e patológica do ser humano de querer controlar tudo. Toda a busca do método cientifico se resume em coletar provas, evidências e, a partir destas amostras, elaborar uma explicação, uma teoria. Da teoria, tudo se torna previsível, controlável. Quando algo não se encaixa nesse padrão, é ignorado. Quando algo não se comporta da forma como se convencionou, é temido. O que é ignorado é descartado como evidência e o que é temido tem sua existência negada. Coisas e fenômenos físicos podem ser previsíveis porque o comportamento é oriundo de condições naturais, entretanto o comportamento de personas não pode ser previsível porque é oriundo de opções subjetivas. Se a existência das fadas é suspeita por ser imprevisível, muito mais são os seres humanos, mas nem por isso duvidamos de nossa existência.
Há pessoas que acreditam que somente verdades são verdades científicas, mas isso é essencialmente uma fé religiosa individual.
Há pessoas que acreditam que apenas verdades científicas são verdades e isto também é essencialmente uma fé religiosa individual.
Há uma enorme diferença entre dizer que não se acredita em Deus e afirmar que não existe Deus. Assim como há uma enorme diferença entre o método científico e filosofia. A percepção da ciência é material e isto separa por contraste das afirmações de ordem filosófica que se faz a partir da ciência. Os cientistas e os ateus ainda não se perguntaram se não há evidências da existência dos Deuses ou se a nossa percepção [humana e limitada] está convenientemente filtrando os conceitos e ideias de como concebemos do mundo para não admitir que há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.
Baseado no texto de Gabriel Bassi, “Por que acreditamos em elétrons, mas não em fadas”, Sociedade Racionalista USP
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