Eu estou lendo o excelente livro “Deep Ancestors - Practicing the Religion of the Proto Indo Europeans”, de Ceisiwr Serith, ADF Publishing. A informação vem em boa hora, considerando os arriscados arroubos de neopagãos sobre extirpe ou sobre a nossa origem Indo-Européia. Aliviado desde a introdução, eu concordo com o autor que quando se fala de nossas origens, falamos em termos culturais e históricos, jamais em termos étnicos. O próprio termo Indo-Europeu é bem vago e indica uma procedência bem asiática, levando em conta que Indo é uma região da atual Índia. Europeu é igualmente um termo vago, visto que as fronteiras geográficas do que se convém ser a Europa foi formulada na Era Moderna, em sua forma original a Europa inclui regiões limítrofes que englobam o Mediterrâneo [um contraste por natureza], Norte da África, Ásia Menor, Oriente Médio e os Balcans.
O livro trata das origens de inúmeras formas de religião [as religiões dos povos Indo-Europeus] que tem em comum uma cosmogonia, uma teologia e virtudes. Neste sentido foi primordial ler no livro o profundo sentido desses ancestrais de que a cosmologia e a teologia não estão separadas. Em suas características, esta religião primordial tem a Axis Mundi, a árvore do Mundo, como a coluna central do Cosmos. O que intriga é o conceito de que o Cosmos, o Universo, que é a Axis Mundi manifestada, é formado da interação entre Caos e Ordem.
O conceito de que a estrutura do universo é como uma árvore, com seus ramos e raízes, arvore esta que é alimentada pela água de um poço, água que é constantemente reposta e renovada pelos frutos que a árvore derrama, dá uma boa noção do “xártus”. Tal como uma árvore, o xártus é orgânico, cresce e estende-se conforme acontece a interação entre Caos e Ordem. Os ramos entremeiam a todas as coisas e seres, o que inclui os Deuses. Ora comparado ao fluxo de um rio, xártus é mais o estado atual do momento, decorrente do que aconteceu anteriormente, antevendo uma miríade de possíveis vir-a-ser. Como corpo vivo do Cosmos, xártus é a Lei Divina, que se subdivide em dhétis, yéwesā, swārtus e swédos. Dhéthis é o comportamento humano, as leis sociais; yéwesā é a regra ritualística, swārtus é o xártus individual e swédos é a ética, estudo e prática da forma certa de viver, no caminho que nos leva à Virtude, estar de acordo com o xártus.
Os Deuses mantém o xártus e nem poderiam fazer diferente, pois a natureza e as leis divinas são, da mesma forma, estruturas do universo, do xártus. Tudo é um reflexo da estrutura do universo, mesmo idéias abstratas, tudo que pode ser percebido ou concebido tem uma correlação, uma correspondência com essa estrutura do universo, portanto, pessoal, portanto divino. O que nos leva ao campo das leis e virtudes humanas, de como percebemos a estrutura do universo, de como percebemos a existência das forças da natureza [manifestação divina], de como percebemos a organização social, de como percebemos o nosso papel nesse cenário e de como tudo isso se correlaciona e interage.
Nessa Era Contemporânea, falar em Virtude e de suas formas, como Verdade, Justiça, Hospitalidade, Caridade, Coragem, Lealdade, Temperança, Excelência, Responsabilidade, Dever, Piedade, Conhecimento, Amor, entre outros, deve soar pedante e perigoso lembrar que valores morais reais antecedem e precedem nossa limitada humanidade, principalmente quando colocamos nossos assuntos pessoais e particulares acima dos assuntos públicos, da convivência em comunidade, de nossa essência humana, de nosso potencial divino.
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