Para o pagão, o bruxo, o mundo dos sonhos não é um mero espasmo da mente, mas um canal para a Sabedoria, a Verdade e a Realidade Divina.
A habilidade e a consciência dessa ferramenta não é simples nem é fácil de dominar. Quando eu fazia meus jornais oníricos, tudo o que eu percebia é a constância e a insistência dos temas e tipos de sonhos que eu tinha.
Pois bem, depois que eu parei de escrever os jornais, depois que eu saí da vida de cobaia de um treinamento, depois que eu zerei e reiniciei por conta própria minha jornada é que me veio uma compreensão, durante um estado de vigília, em um dia qualquer.
A miríade de sonhos são laços de um único, central e singular sonho. Como tudo na vida, nós criamos incessantemente elos em torno daquilo que realmente necessitamos.
Adquirimos conhecimento material necessário, mas insistimos em querer saber mais, crentes de que a ciência vai nos dar a resposta sobre tudo.
Procuramos aprimorar cada vez mais a capacidade e a eficiência de produção, confiantes no inesgotável potencial laborativo humano e fertilidade agrária natural.
Tentamos administrar com consciência, responsabilidade e ética nossa família, empresa e cidade, certos de que nossos parentes, colegas e cidadãos farão sua parte.
Escolhemos e seguimos uma espiritualidade, uma crença, uma religião. Falamos e divulgamos proficuamente os beneficios do que acreditamos e promovemos o Amor, fiéis de que há um propósito maior.
A cada anel que construímos, nos afastamos do que é essencial e recheamos o vazio com diversas ilusões para sustentar essa subrotina. Nos dedicamos de tal forma na execução e no aperfeiçoamento dessas atividades que nos esquecemos dos motivos e finalidade delas.
Os descrentes se aferram na ciência, na evidencia, mas estas coisas não servem para explorar o ser, a percepção, a consciência, a existência.
Os burgueses se isolam na riqueza, na expropriação, mas este sistema não produz condições para a justiça, a segurança, a satisfação, a felicidade.
Os governantes se deslumbram no poder, no mandato, mas esta política não legitima a autoridade, a influencia, o prestigio.
Os crentes se vangloriam na benção, na promessa, mas esta disciplina não garante a virtude, a graça, a redenção.
Nossa vida tornar-se-ia bem mais simples e nossa sociedade aproximar-se-ia da utopia se nos atessemos ao que é necessário e fundamental, que é o que eu chamo de círculo do coração.
Neste círculo, há saber e crer, ocupação e produção, representação e participação, razão e imaginação em proporções equilibradas e harmoniosas. Aqui, o Amor é a única lei, sem condições, sem limites, sem fronteiras, irrestrito.
O dileto e eventual leitor esperto há de protestar que este círculo ainda constitui um laço em volta de algo. Bom, não há outra forma de falar do que seria o centro de tudo senão os Deuses.
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