O que há em comum entre alguns evangélicos e alguns ateus? Radicalismo. Este é um texto baseado na tentativa de debate que tive com um desses seguidores de Dawkins.
- Ensinar ateísmo é o mesmo que ensinar uma crença: imposição.
- Não exatamente. A escola ensina o que é ateísmo, e não a ser ateu, o que é bem diferente. Ao invés de ensinar uma "verdade", imaginária, lendas antigas, ensina a pensar racionalmente e as bases do pensamento crítico.
Na verdade, nem é preciso ensinar ateísmo propriamente, pois somos todos ateus ao nascer, e é preciso muita doutrinação e lavagem cerebral para deixar esse ateísmo natural e passar a acreditar em superstições ancestrais e em seres imaginários.
- Se ensina-se apenas uma ideologia, sem contraste, sem controvérsias, não deixa de ser igual à inculcação doutrinária feita pela Igreja. Segundo estudos com crianças, todas apresentam a ideia de um ser superior, então essa bravata falaciosa de que se nasce ateu não cola.
- Não existem 'controvérsias" sobre a lógica e o pensamento racional não levarem em consideração a existência de coisas sem evidências.
Crianças podem ter uma idéia de "ser superior" apenas se isso for algo comum a seu ambiente.
- Falar em evidências é método cientifico. Fala-se em visões e interpretações sobre o mundo. O ser humano não é feito apenas de pensamento racional, mas do abstrato também, senão não tem arte, poesia, literatura, teatro e até mesmo matemática.
- O ser humano, dadas as evidências disponíveis, é sim formado apenas por matéria, e as abstrações que produz, com sua mente, são, bem, apenas de sua mente. Arte, poesia, etc, são abstrações da mente humana, não elementos concretos deste mundo. Não é preciso evidência de existência.
- O argumento foi o de que ensinar ateísmo é ensinar o pensamento racional, o que remete a anular ou ignorar o pensamento abstrato que, como você atesta, faz parte da matemática.
Querer limitar o entendimento do mundo e do universo a algo tão pobre é mais típico das "malvadas religiões" que você tanto critica. O ser humano não é formado apenas por matéria, senão não há como entender a mente, o pensamento, a ideia.
- Nada implica que o pensamento racional não inclua o abstrato. Matemáticos pensam racionalmente. Escritores, ao criar suas obras, abstratas, pensam racionalmente. Um matemático sabe que o número "1" é uma abstração, não um elemento real, concreto, deste universo. Um escritor sabe que seus personagens não existem de verdade.
- Você mesmo em seus argumentos acaba fazendo essa suposição. Voltando um pouco: crianças acreditam em um ser superior devido ao ambiente, então o ateu está desambientado ou é um alienígena. Você argumentou que só existe o que está evidenciado. Portanto, aquilo que é abstrato não pode ser aceito pelo pensamento racional, o que inviabiliza os conhecimentos humanos que listei.
- Para existir, para que se conclua pela existência, é preciso evidências, mas abstrações, imaginação, nada tem a ver com isso.
- Você tenta ignorar seus próprios argumentos, nos quais se pode concluir que apenas o pensamento racional e válido, onde apenas o que é evidenciado é aceitável, portanto tudo o que é abstrato é irracional, invalido, inaceitável. Eu não toquei no tema filosófico/teológico das crenças, mas abordado que o pensamento racional deve incluir o pensamento abstrato, o que, de acordo com você, não faz parte do ateísmo.
- A existência de algo, existência real, só pode ser objeto de conclusão confiável, se apresentar evidências. Pensamentos abstratos, conceitos abstratos, nada tem a ver com isso, sejam matemáticos, sejam imaginativos. ‘Existir’ na imaginação nada tem a ver com a existência real. Evidências, é o que importa, quer você acredite ou não. Pode acreditar que pular de um prédio não vai causar dano a você, mas se pular, vai se machucar.
- Muito bem. Apenas evidências que importam. Então evidencie o numero 1. Evidencie uma soma. Se eu lembro bem, você concorda que são conceitos abstratos, portanto, não existem, portanto não são importantes para a matemática. Se eu acreditasse que posso pular de um prédio, eu procuraria uma forma de poder pular sem me machucar. Crer e saber não estão em conflito.
- Somas não existem, não são reais, são descrições de relações numéricas, matemáticas. Coloque duas maçãs sobre a mesa, depois coloque mais duas. E quando precisar explicar o que aconteceu, e quantas maças tem sobre a mesa, vai usar um conceito que chamamos de 'soma’. Mas, a soma propriamente, não existe, não pode colocar uma 'soma’ em um saco, ou bater com a soma na cabeça de alguém. Algo que não 'existe’ de forma concreta, ainda pode ser importante como idéia ou abstração, como o conceito de honra. Mas continua a não existir materialmente, concretamente, apenas como conceito. Não tem evidências de existir.
- Vamos dividir o tema em "evidência" e "existência". Evidência é assunto do método cientifico. A ciência não afirma que Deuses não existe, apenas que não tem evidências, afinal o homem aceita idéia de abstrato numa boa. A soma é um conceito abstrato, uma convenção, não existe no sentido de ser algo concreto. Mas são usados para se explicar algo. A existência também é algo a ser explicado e não apenas por evidências, por elementos concretos, pois muitas "coisas" existem e não são concretas, como elétrons, ondas, diversas energias. Estes elementos podem ter a existência evidenciada pelo efeito que causam, ou seja, uma evidência secundária. Então não deveria haver tanta resistência em aceitar que a existência dos Deuses pode ser evidenciado pelo efeito causado, que é a própria natureza. Da mesma forma que cessam os efeitos com a ausência destes elementos, da mesma forma cessaria a natureza, o mundo, o universo, a vida tal como conhecemos na ausência dos Deuses. E isto explica apenas o aspecto material da natureza, não da existência. A existência é um tema da filosofia, visto que procede de conceitos e convenções humanas, não de evidências, da ciência, do método cientifico. Você não quer compreender que nem tudo que existe tem evidência, conceitos abstratos existem embora sem evidência. Existência está além da ciência. Não é função ou preocupação da ciência explorar questões existencialistas, metafísicas ou sobrenaturais, mas tudo isso faz parte do questionamento e natureza humana.
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