quinta-feira, 6 de junho de 2013

Beltaine em junho

No Brasil em junho temos fogueiras, como tem na Europa em maio. Nós não temos maypole, mas temos pau de sebo.
Maio passou a 200 km/h. Durante esse tornado, nós iniciamos o processo de mudança de domicílio e os preparativos para a cirurgia da ortognática.
Foram vários meses privado da boa companhia dos meus progenitores espirituais e do consolo de estar no santuário no sítio.
O rescaldo de abril e maio não é favorável. Eu não consegui realizar o trabalho voluntário, o psicodrama foi uma arapuca e o exercício de vocalização eu vou fazendo no serviço.
Houve um breve intervalo, eu pude rever minha senhora e meu senhor. Eu tive a chance de ouvir o oráculo e Ifá e a oportunidade para ofertar as entidades que governam meu destino. Findo maio, findou o linimento. Oh bem, eu passei 48 anos quebrando pedras e comendo carvão, dificilmente coisas boas acontecem e raramente duram. Mesmo atravessando esse caminho espinhoso eu aprendi algumas coisas. Do jeito mais dificil, claro.
Eu consegui controlar meu temperamento. Eu mantive os problemas e dificuldades fora do ambiente de trabalho. Eu aprendi a parar de criar expectativas, positivas ou negativas. Eu apredi que é inútil ficar com pessimismo. Eu aprendi que ficar ensaiando ou roteirizando coisas, eventos ou fatos futuros é um desperdício.
Quando eu fizer a cirurgia eu passarei 15 dias me recuperando, uma quinzena. Falar quinzena tem menos impacto que falar quarentena, embora tenham o mesmo sufixo e tenham o mesmo intuito de marcar um período de tempo.
No fim das contas, crer e confiar a vida, o destino, aos Deuses, requer coragem, confiança e paciência. O chato faz pouco das crenças, religiões e espiritualidades. Como náufragos que passaram muito tempo ilhados, esqueceram que há algo além do oceano, duvidam que todos hão de voltar para suas origens. Tudo que o náufrago acha que sabe é baseado naquilo que é convencionado por realidade. Por mais fatos e evidências, a realidade do náufrago continua sendo uma ilha, não é nada racional atentar à ilha e esquecer o oceano, bem como o que nos trouxe a existir neste mundo.
Um caminho espiritual é baseado na intuição e na prática. mesmo o caminho científico necessita de alguma crença. Quando Cristóvão Colombo saiu para descobrir o "Novo Mundo", mesmo possuindo os mapas náuticos dos chineses, ele teria que crer, confiar que aquele traçado era exato. Um caminho espiritual é como um mapa e requer que se passe pela experiência.
Na jornada haveremos de encontrar pessoas com quem compartilhar o pão, vinho, catre, música e amor. No entanto a caminhada sempre será individual, solitária. Vínculos de sangue e linhagem nos dão a força para seguir adiante. Mas nos momentos dificeis, desafiadores, não haverá nada no mapa, no raciocínio, na lógica, na evidência, que poderá nos auxiliar.
Nós somos Cristóvão Colombo, navegando a nau de nosso corpo, através do mar da vida. Pobre dos náufragos, esqueceram o porto, esqueceram o destino, esqueceram a jornada.
Problemas, sofrimento, dor, fazem parte da existência. Triste é saber que muitos nós mesmos nos causamos e, feito crianças mimadas, só sabemos reclamar e culpar outras coisas, pessoas e mesmo os Deuses.
Nesse instante, sem bússola, sem vento, sem estrela, ao sabor das correntes da maré, eu não vou tentar adivinhar ou fazer uma cena do que virá. O que será, será.

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