A Wicca é uma religião politeísta, ou seja, aceita a existência de diversos deuses e deusas. Entretanto seu culto é dualista, voltado a uma Deusa-Mãe criadora, cósmica (universal) e imanente (inseparável) a própria criação e a um Deus-Pai igualmente criador, cósmico e imanente.
A Deusa e o Deus são ao mesmo tempo opostos, complementares e necessários não só a criação como também a manutenção da vida. O culto Wiccano expresso nos Sabbaths, Esbbaths e ritualísticas diárias representa o mecanismo para agradecer, exaltar, conectar-se e auxiliar os Deuses nesse processo.
Se ambos são tão importantes e necessários porque dar ênfase ao culto da Deusa? Muitas pessoas afirmam que o objetivo disto tem relação com um “combate camuflado” às religiões patriarcais, mas não se trata disso. O objetivo da Wicca não é ser um “cristianismo de saias”, tal ênfase até possui relação com o patriarcado, mas não com as religiões dele e sim com as conseqüências sociais, culturais e espirituais geradas por ele.
O culto ao divino masculino, independente de como ele é celebrado pelas diferentes religiões, visa o “Dom do Deus”, as características do Deus. Estas representam a razão, lógica, força, atitude, virilidade, ação, coragem, individualidade e etc. Foi exatamente isto que o patriarcado trouxe a sociedade global, todas as pessoas baseiam suas atitudes e pensamentos na lógica, na força, na imposição do poder pessoal, na guerra, na dominação, enfim, tornamo-nos seres ligados unicamente aos dons do Deus.
Tais dons são extremamente importantes, porém viver baseado somente neles traz uma carga de conseqüências destrutivas sem igual. A lógica não permite a conexão com forças e poderes subjetivos e sutis, ela gera o individualismo, a arrogância, o desnível social e conseqüentemente propicia um maior número de guerras e um total distanciamento do homem com a natureza, esta servindo para dominação.
Em contra partida temos os “Dons da Deusa” ligados aos sentimentos, sensações, intuição, fertilidade, amabilidade, sensibilidade, conexão com o meio externo e etc. Estes dons também são extremamente importantes, pois propiciam a formação de comunidades e famílias mais unidas, trazem mais sensibilidade às pessoas e permite uma real conexão entre os seres e organismo a sua volta. O paganismo é essencialmente matriarcal porque ele visa à conexão do homem com a natureza e o responsável por isso é a Deusa.
“Conhece-te a ti mesmo” é a voz do Deus, é o Dom do Deus. Ambas as capacidades são necessárias, se o homem não conhece a si mesmo será incapaz de compreender a natureza a sua volta. Mas ele não pode visar apenas o conhecimento interno, precisa equilibrar as duas coisas para ser pleno em sua existência.
O “Mito da Deusa” apresentado no livro “A Bruxaria Hoje” de Gerald Gardner, expressa com magnitude o valor de ambos os Deuses em nossa vida. Este texto maravilhoso explica com vivacidade o processo iniciático da própria Deusa, mostrando que o dom dela é o amor, enquanto o dom do Deus (que é a Morte do texto) é o poder da magia e o conhecimento dos mistérios. Para chegar ao Deus, para sermos iniciados e renascer, precisamos antes chegar a Deusa e aprender a amar.
É por isso que a Wicca dá ênfase à Deusa e ao feminino, porque para alcançar a iniciação, conhecer e conectar-se ao Deus e se unir em totalidade com a natureza – que é o corpo dos deuses – precisamos, antes, conhecer e aprender com a Deusa, pois ela é a Senhora do amor, que aprendeu todos os Mistérios e recebeu o dom da Magia.
Ao buscar a Deusa nos tornaremos pessoas mais amáveis, mais conscientes de nossa comunidade, seremos mais sensíveis as necessidades do mundo e nos conectaremos melhor a natureza, conseqüentemente cavalgaremos ao lado do Deus em sua caçada selvagem em busca da renovação. Dar ênfase a Ela, não significa negar Ele, pelo contrário.
Autora: Dayne Anglius
Publicado na "Sociedade Wicca".
Um comentário:
Dons do Deus, Dons da Deusa...
Tenho uma amiga que passa por diversos problemas ultimamente. Ter problemas é comum, mas congelar no meio do caminho presa pela indecisão são outros quinhentos. E era assim que ela estava.
Wiccana em formação, seu foco sempre fora a Deusa, com quem a relação era mais natural.
Depois de ouvir suas queixas durante algum tempo e dar alguns toques, radicalizei:
"Ô meu, vira HOMEM", rs! Como assim virar homem, ela se perguntou! Era justamente isso que o texto cita! Que a gente fica tão conectado aos Dons da Deusa que esquece do Deus e da necessidade de estabelecer com ele uma ligação, aprender com seus mistérios também, sua agressividade, objetividade, seu foco.
Não estamos em uma guerra dos sexos, uma luta do patriarcado. Temos, pelo contrário, uma guerra entre comandantes e comandados onde o lado mais vitimado é o feminino, mas há baixas também entre os homens-beta (vide texto http://blogsementesagrada.blogspot.com/2008/10/do-macho-alfa.html)
Os Dons devem viver em equilíbrio dentro de nós, independente de nosso gênero.
Excelente texto! Excelente blog!
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