Uma das principais características do Monoteísmo é que a Arte Sacra cumpre mais uma função estética ou adornativa, cumprindo parcialmente sua função cerimonial, devocional ou sagrada, ao contrário de como era no Politeísmo.
A Arte Sacra típica do Catolicismo só foi possivel graças à assimilação da Arte Sacra típica do Paganismo, como os Protestantes notaram e denunciaram contra o que chamam de idolatria. Muito embora esta Arte Sacra tenha em sua forma devocional como motivo a representação simbólica dos santos, anjos ou Deus, esta não visava a adoração do objeto, mas a devoção aos valores espirituais que a simbologia que evocar em seus seguidores.
Para os Protestantes, não há diferença entre essa devoção simbólica dos valores espirituais e idolatria, baseado em uma interpretação literal fundamentalista de um trecho da bíblia. Curiosamente, os trechos onde Deus manda fabricar estátuas recebem uma interpretação metafórica.
Para os Judeus, a Arte Sacra tem por objetivo adornar a sinagoga, não são objetos de devoção, não são sagrados muito embora alguns cumpram uma função cerimonial.
A função adornativa e estética da Arte Sacra foram levadas ao extremo pelos Muçulmanos através do uso da caligrafia nas mesquitas. Representações do Profeta, assim como dos anjos, devem ser feitas sem mostrar seus rostos ou com suas faces cobertas com um véu.
A idéia de que a representação simbólica de entidades ou valores espirituais constituem uma heresia, blasfêmia, sacrilégio contra Deus veio da elite sacerdotal que controla as religiões Monoteístas. Na falta de imagens ou estátuas sagradas, torna-se mais fácil impingir e manter na população a idéia de que só há um único Deus e o resto é do Diabo. Por isso que o conceito de Deus é esse de uma entidade cósmica suprema, impessoal, assexuada, divorciada e tirana.
No Monoteísmo a Arte Sacra perdeu muito de sua capacidade criativa, mesmo a Arte em geral tornou-se pobre, restrita e figurativa. As pinturas clássicas que exploraram os mitos antigos apenas mostraram seu lado burlesco e bucólico. Outras formas de Arte tornaram-se meros veículos para o Nacionalismo, o Patriotismo e o Estado Teocrático.
A despeito de toda essa iconoclastia e obscurantismo no Monoteísmo, as imagens sagradas resistem na forma de texto, caligrafia, iluminuras e encadernação, mas cumprindo uma função estética, totalmente asséptica e estéril.
A Arte Sacra durante o predomínio do Politeísmo foi viva, brilhante, criativa, ousada, erótica e estética. Ela celebrou com escritos, pinturas e estátuas a plenitude e a felicidade de viver. O seu propósito era servir como meio, veículo, ferramenta para os antigos ofertar, orar e adorar seus Deuses, da mesma forma como os contemporâneos usam os textos sagrados nas religiões Monoteístas.
A Arte Sacra no Politeísmo era uma extensão, um lembrete dos mitos e mistérios, da humanidade, do mundo, da existência, da divindade, através de uma simbologia sutil perceptível apenas aos olhos treinados. Uma simbologia que tinha uma ligação íntima com a realidade e que só teria sentido dentro do conjunto ou contexto dos mitos do Deus representado, pois os antigos sabiam que as aparências enganam.
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