A nossa espécie desenvolveu o sentido de sagrado e divino a partir da natureza, incluindo nisso nós mesmos como parte dessa ópera maravilhosa. Nossa espécie cresceu, expandiu-se e começou a formar as civilizações e as cidades, o contato com a natureza foi minguando e os Deuses foram tomando formas mais intelectualizadas, até serem totalmente absorvidos pela Razão.
Os mitos se tornaram fábulas para crianças e lendas de um tempo selvagem, rompemos nossa ligação com a natureza, com o sagrado, com o divino, sobrando apenas a relação antropocêntrica e individualista, tornando as religiões meras relações políticas e ideológicas.
No debate atrasado sobre a importância da conservação do ambiente, eis que os mitos ressurgem ao nos mostrar que todas as coisas nascem, crescem e morrem. Civilizações foram apagadas, Impérios foram derrocados, Utopias foram exumadas, Deuses morreram.
O Deus coroado enfrenta o Destino, ele venceu o monstro, o Deus primordial, mas a luta teve consequências trágicas. Ele foi ferido ou envenenado, ele matou seu próprio pai ou irmão, uniu-se com sua própria mãe ou meia-irmã. Ele tornou-se o Rei dos Deuses, surge a sombra do monoteísmo dentro do politeísmo. Como se isso não fosse o suficiente para que o torne em um pálido reflexo de seu predecessor, ele sabe enfim que será igualmente desafiado e substituído por um Deus mais jovem.
Esse é o resumo das celebrações wiccanas nos ciclos das estações. O Deus nasce, cresce e morre; ele se torna o Doador da Vida para depois se tornar o Senhor dos Mortos, o outono segue o verão, o inverno se aproxima.
A perda das raízes, da identidade étnica e o esquecimento do significado universal dos mitos dá margem à chegada de um Deus, ou que deseja libertar os homens ou que foi criado pelos homens. Apolo nos entregou a Razão e nos tornamos soberbos. Cristo nos entregou a redenção e nos tornamos frustrados. No nosso mundo interno, nos tornamos inimigos de nosso corpo, de nossa natureza, do mundo, em troca de um puritanismo hipócrita moralista; no nosso mundo externo, nos tornamos adversários da coletividade, da comunidade, da sociedade. Acreditamos tanto na Razão e na individualidade que nos tornamos rebeldes e refratários à Sabedoria.
O Homem tomou o lugar do Deus, uniu-se com sua mãe ou meia-irmã que hoje é chamada de Razão e o Homem tornou-se o tirano de sua própria espécie. O Deus soube aceitar seu sacrifício para a continuidade da existência. Saberemos nós aceitarmos nosso sacrifício com o mesmo altruísmo que o Deus teve para que a existência continue? Nem nós podemos nos furtar ao Destino.
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