domingo, 2 de março de 2008

O mito do Cristo

Quem ou o que seria Cristo para um pagão começa com o conceito da palavra que, em grego, significa Ungido ou Iluminado. Muito antes da possível existência da pessoa Yeshua bar Pandera ou do personagem Jesus existiram outros Iluminados como Pitágoras, Sidarta, Confúcio, Zoroaster.
Para entender como o conceito de Cristo foi identificado com o personagem que foi um ou vários rabinos líderes de um movimento messiânico que se encerrou com as Guerras Judaico-Romanas, precisamos entender as circunstâncias históricas e sociais da época.
O Império Romano havia conquistado a Judéia, que previamente se encontrava anexada ao Império Macedônio e antes estava dominada pelo Império Persa.
Após a libertação cedida por Ciro, rei persa, ressurge a Torah, a conhecida Septuaginta, a primeira versão em sua forma escrita da crença Judaica, até então passada oralmente. Os rabinos que se empenharam nessa transcrição dos mistérios tradicionais, da forma oral para a forma literária, acabaram inserindo muito do Zoroastrismo Persa, institucionalizando o monoteísmo. A influência Helênica durante o Império de Alexandre foi a influência da filosofia grega conhecida por estoicismo na crença dos Judeus. Na época do domínio romano começaram a aparecer alguns grupos de resistência aos editais de César, bem como de um crescente nacionalismo e busca por uma reafirmação religiosa.
Na época, o Judaísmo se dividia em quatro grupos distintos: os saduceus, os fariseus, os essênios e os zelotes. Cada qual clamava para seu grupo a verdadeira e sincera adoração ao Deus de Israel, até então um Deus étnico. Mas também haviam grupos menores, de marcante proselitismo entre os não-Judeus (chamados de gentios), com mensagens escatológicas e sectarismo social. Dentre estes grupos surgiram os Nazirenos, seguidores do Nazireu, que aceitavam os gentios, desde que seguissem os preceitos da vida comunitária e ascetismo defendidos pela seita.
Com o início da Guerra Judaica-Romana, esses grupos se tornaram proibidos, qualquer tipo de congregação ou reunião religiosa Judaica era vista como rebeldia contra Roma, uma vez que a Guerra surgiu da resistência dos Judeus contra a adoração exigida pelo Império Romano à César. Por uma questão de sobrevivência, os Nazirenos romperam suas raízes Judaicas e tomaram uma identidade mais helênica, mas para isso deveriam abrir mão do personagem crucial de sua pregações - o Ha-Massiah - e adotar o personagem Cristo. Para resguardar os ensinamentos místicos e iniciáticos dessa seita, escreveram na forma de evangelhos - a boa nova - as doutrinas necessárias para que os membros se tornassem iguais a Cristo. Graças a essa identidade mais helenizada é que a nova religião encontrou maior impacto e aceitação tanto entre gregos quanto com romanos.
Para os Nazirenos, a vinda do Ha-Massiah e da restauração do Reino de Judá era iminente, mas com a Guerra Judaico-Romana e a mudança para um núcleo mais helênico, o sentido da crença tornou-se um acontecimento presente, pois era a próprio corpo da congregação a presença de Cristo e do Reino de Deus nesse mundo. Com a presença cada vez maior de servos, os ensinamentos místicos e iniciáticos foram perdendo as referências metafóricas e os evangelhos tornaram-se registros de fatos que aconteceram. As raízes provindas das escolas de mistérios gregas foram perdidas, os grupos aceitavam cada vez mais e mais pessoas sem condições de empreender o longo caminho necessário para a compreensão dos mistérios, no lugar da iniciação se faziam batismos, Cristo se tornou Deus.
A mensagem do evangelho ganhou um enorme sucesso porque dava conforto e esperança exatamente aos pobres, aos escravos, aos miseráveis, aos ignorantes. Quando a humanidade abraça essa doutrina, crendo em um Deus sem raízes étnicas ou naturais, crendo por serem forçados a crer, crendo em uma doutrina que favorece o mais fraco, esta se torna debilitada, enferma, frustrada, rancorosa, violenta.
O mito de Cristo se tornou a Verdade Absoluta, tornou-se a adoração de um Deus externo, arbitrário e vingativo, tornou-se a justificativa perfeita para guerras, massacres e injustiças. A mensagem do evangelho deixou de ser uma metáfora de um mistério iniciático que conduziria à uma transformação interna do cristão e se tornou na maior tirania contra a humanidade.

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