sábado, 10 de setembro de 2022

Fake news pagãs no YouTube

O eventual e dileto leitor que me perdoe por repetir e insistir, mas pelo visto, não leram meu texto (de 30 de janeiro de 2008) "A origem do mito moderno da Deusa Mãe". Eu encontrei, pelo menos, dois vídeos no YouTube endossando esse romantismo ideológico sobre o "antigo culto da Deusa Mãe".

As análises e conclusões oferecidas por Marija Gimbutas em suas obras são, no mínimo, fantasiosas e ilusórias. Então eu vou repetir: esse "culto da Deusa Mãe" é um mito moderno.

Gimbutas coleta diversas esculturas que vão do Paleolítico ao Neolítico que representam uma figura feminina, mas além de falarmos de culturas e povos diferentes e distintos, não foram encontrados sinais típicos de culto (como oferendas ou sacerdócio). Até então, essa arte pode muito bem ser um tipo de magia simpática ou animista, retrata o corpo feminino com formas generosas (seios, quadris e bunda) para incentivar e estimular sua cultura (agrária ou pecuária) a ser igualmente fértil e fecunda. Se essa arte é "prova" de um antigo culto da Deusa Mãe, então é também "prova" de um antigo culto ao Deus Bisão, tal como eu escrevi (20 de junho de 2016) no texto "O antigo culto ao Deus Bisão".

Outro indício que eu apresento é cronológico. O Paleolítico Superior durou até 10.000 AC e o Neolítico durou até 3.000 AC. A cultura Yamna (provável origem da "expansão Curgã") surgiu na Era do Cobre, que durou de 3.300 AC até 1.200 AC. A distância cronológica e geográfica dessas culturas pode indicar que houve uma transição interna e inerente nesses povos (que supostamente tinham um culto a Deusa Mãe) para outra organização social e religião. Mesmo que tivesse existido tal "culto da Deusa Mãe", falamos de diversas culturas e povos, é muito pouco provável que adorassem a mesma ou uma única Deusa.

Como eu disse anteriormente: "…citar experimentos ou coletar apenas as partes que interessam se chama desonestidade intelectual. Isso também acontece no Paganismo Moderno, com a divulgação das teses estapafúrdias de Marija Gimbutas." (apud, Bilhete para lugar nenhum).

Igualmente é desonestidade intelectual e má fé afirmar que a devoção à Maria (Miriam) seja um resquício desse "antigo culto da Deusa Mãe ". Qualquer católico rejeitaria tal associação, ali não há uma adoração, mas uma devoção (hiperdulia). Além do que, o mais provável é que a Igreja tolerou (e oficializou tardiamente) a devoção diante de Maria porque o costume popular foi mais forte, costume este mantido pelo folclore, ricamente enraizado (este sim, histórica e antropologicamente comprovados) nos antigos cultos à inúmeras Deusas. Deusas, diga-se de passagem, tão distintas, diversas, diferenciadas (e com mitos e ritos próprios) que dificilmente se tratam de uma retratação de uma única Deusa Mãe ou que sejam resquícios de um antigo culto a uma única Deusa Mãe.

O culto e mito da Deusa Mãe é moderno. Sim, Ela é linda, maravilhosa, deliciosa, completamente nua (baba), oferecendo seu seio e sexo para que tenhamos nossos desejos e necessidades eternamente saciados. Mas Ela tem seu Consorte e a companhia da miríade de Deuses e Deusas. Nesse novo culto antigo, nós, ousadamente, proclamamos que o mundo, o corpo, o desejo, o prazer e o sexo são sagrados. Portanto, nosso culto é uma reencenação dos antigos cultos de fecundidade e fertilidade, onde o sacerdote encarna o Deus e realiza o Hiero Gamos com a sacerdotisa que encarna a Deusa.
Por isso que eu sou declarado herege até entre os meus. Porque eu ouso declamar meu amor incondicional à Deusa, querendo ofertar meu sêmen para seu ventre sagrado. Sim, meu mais profundo e intenso sonho é o de estar entre as coxas da Deusa (heresia!), anular a minha existência e sumir nesse esplêndido arrebatamento do êxtase.
Assim seja, assim é, assim será.

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