Foi noticiado [por volta de 31/05/2009] a reabertura do cine Marabá. Para os que são da minha geração (ou mais velhos) certamente devem se recordar do Marabá, o único cinema no centro de São Paulo que resistiu à decadência daquilo que poderia ter sido a Broadway paulistana.
Para os mais jovens, há uma esperança, se (um enorme se) o projeto de recuperação do centro de São Paulo for adiante, a despeito de sua lentidão e timidez. A reabertura do cine Marabá pode se tornar um ícone dessa restauração.
Falar como e por que os cinemas do centro de São Paulo se tornaram pulgueiros, onde se passam apenas filmes pornográficos, quando não se tornam bordéis e prostíbulos disfarçados, é uma tarefa difícil, mesmo porque passa pelo fato que nossa sociedade é sexualmente doente por motivos culturais e religiosos.
O leitor eventual, passageiro e curioso, pode me perguntar o que a religião tem a ver com a exploração comercial do sexo, no que eu explico:
"É muito mais difícil alienar a Mulher de seus sentimentos instintivos, uma vez que elas carregam crianças em seus ventres por nove meses e então os criam por anos até que eles estejam fortes o suficiente para reagirem por si mesmos. Nem seria desejável, uma vez que a descendência exige o amor de suas mães para crescerem saudáveis e fortes. Mas os homens, cujo papel no processo reprodutivo é muito restrita, pode ser alienado mais facilmente e efetivamente, se eles são feitos para cuidarem da mulher e seus sentimentos subjetivos. Por isso os cultuadores da força da Criação são fortemente patriarcais e reservam toda atividade política para os homens. Uma vez que a Natureza programou todos os seres vivos para serem fortemente atraídos pelo sexo oposto e fez a união sexual altamente prazerosa, os homens tiveram que ser ensinados para lembrar este prazer como pecaminoso e vergonhoso. Por isso a forte tendência anti-erótica do Cristianismo e a prática da mutilação do clitóris em muitos países africanos muçulmanos para evitar que as mulheres encontrem qualquer prazer no intercurso sexual. A força da Criação Destrutiva não se importa sequer se é chamada de Shiva, YHVH, Deus Pai ou Allah, nem se é chamada de: Razão (com R maiúsculo, como teologistas iluminados e filósofos ateístas fazem), História (com H maiúsculo, como os marxistas fizeram) ou o Mercado. O Mercado está também tentando resgatar a tradição monoteísta de vergonha e desgosto pela paixão sexual, pela promoção de publicações pornográficas de formas ainda mais degradadas de desvios sexuais. Esta reação do Mercado é mais forte nos EUA onde a Direita Cristã defende os valores do monoteísmo patriarcal em uma moda descompromissada. Significativamente 70% dos americanos ainda vão à igreja nos Domingos , filmes e programas de tevê são muito mais reticentes do que na Europa em mostrar cenas de nudez, mas muito mais voluntarioso em glorificar a violência".[Frederic Lamond]
Isso explica a origem da doença de nossa sociedade, bem como suas consequências (violência física ou sexual, contra crianças e mulheres) e o porque a Indústria Pornográfica (e a Indústria do Sexo) é bem sucedida (a despeito da hipocrisia social). Mas é pouco para explicar por que ocorreu tal decadência urbana no centro de São Paulo. Para isso, a explicação é política, cultural e social. Nós, como todo brasileiro, não somos conscientizados e organizados politicamente, votamos mal e deixamos as coisas como estão. Edifícios podem ser reconstruídos, mas a nossa alma não. Eu espero, como brasileiro e paulistano, que despertemos algum dia.
Texto originalmente postado em 31/05/2009, resgatado com o Wayback Machine.
Eu estou saudoso e melancólico, então outras memórias devem aparecer por aqui.
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