Steven Posch, seguindo o mesmo pensamento da Dion Fortune de que todas as Deusas são a Deusa, escreve a seguinte poesia:
O elétron é um ou muitos?
O átomo é um ou muitos?
A célula é uma ou muitas?
O corpo é um ou muitos?
O rebanho é um ou muitos?
O coven é um ou muitos?
A tribo é uma ou muitas?
O povo é um ou muitos?
O solo é um ou muitos?
O planeta é um ou muitos?
O sistema solar é um ou muitos?
A galáxia é uma ou muitas?
O que é, é um ou muitos?
Ela é Uma, Ela é muitas.
Eis a maravilha.
Eu escrevi anteriormente algo sobre isso, baseado na citação da obra de William Shakespeare, sobre o nome da rosa.
O que sabemos do elétron é sua natureza. Enquanto partícula (ou onda), a natureza do elétron é a mesma. Entretanto o elétron que orbita no carbono é diferente do elétron que orbita o oxigênio, ainda que compartilhem a mesma molécula.
Quando nós estamos na escola, nós aprendemos sobre a tabela periódica que lista mais de 60 diferentes tipos de átomos. Qualquer químico que misturar materiais diferentes como se fossem a mesma coisa pode ter uma surpresa desagradável.
Falar em corpo é vago. Corpo de que ou quem? O corpo é composto de diversos órgãos, então seriam a mesma coisa? Um cirurgião certamente teria problemas só por cortar a perna errada.
Passamos da física e anatomia para biologia. Com tantas espécies de animais, seriam a mesma coisa? Cada espécie tem seu próprio grupo, coletivo e, sejamos sinceros, quem usa "rebanho" é o cristão. Pagão não é gado.
Passamos do domínio da natureza para o domínio humano, no campo da sociedade. Mais especificamente, para agremiações religiosas e, para ser ainda mais específico, para os grupos que são formados na Wicca que são chamados de coven. Como bom entendedor e conhecedor dessa religião, considerando que existe confusão até em nosso meio, algumas vertentes do Paganismo Moderno usam o nome da Wicca sem que o sejam. Definitivamente, um coven gardneriano é diferente de um coven alexandrino.
Passamos agora para o domínio da antropologia e sociologia. Nunca, jamais, confunda um povo com outro, isso é ofensivo. Quando nós nos organizávamos em tribos, a comunidade, composta de diversas famílias e clãs, não anulava a distinção e identidade de seus membros.
Passamos para o domínio da produção econômica. Ainda existe, nos dias de hoje, comunidades onde a propriedade e a distribuição de renda é comunitária. Os teóricos do socialismo e da anarquia definem a propriedade privada como um roubo. Quem vive da lavoura sabe que um palmo a mais no terreno é briga na certa. Geógrafos conhecem diversos tipos, portanto, existem diferentes solos.
Passamos para o domínio da astronomia. Gaia é completamente diferente de seus vizinhos. Nós não conseguiríamos viver nesses planetas, portanto, são diferentes.
O mesmo pode ser dito de sistemas solares e galáxias. Nós conhecemos poucos e são diferentes do nosso. Nós conseguimos observar inúmeras formas de galáxias completamente diferentes da nossa.
Então podemos resumir, dentro desse Cosmo, desse Universo, que as inúmeras coisas que são possuem diferenças, a diferença, portanto, faz parte do sagrado e do divino.
Eu olho a Grande Deusa, tal como nós a concebemos. Tal como o Deus Cristão, a Grande Deusa é uma construção cultural.
As supostas evidências de um único antigo culto direcionado para a Grande Deusa é uma interpretação equivocada e recheada de romantismo ideológico.
Vamos voltar alguns passos. Falou-se em diferentes tribos e povos. Cada qual ocupou um território no qual, cada qual, conforme sua cultura, descobriu e desenvolveu o culto aos Deuses e Deusas. Cada Deus e Deusa, portanto, tem um vínculo com um determinado povo e cada qual tem mitos e identidades próprias.
Vamos entender em termos humanos. Eu tenho diversos atributos, muitos dos quais são compartilhados por outras pessoas, mas não somos o mesmo indivíduo. Toda pessoa tem uma mãe, eventualmente uma irmã, uma filha e uma esposa, todas são mulheres, mas são pessoas completamente distintas.
Então dizer que todas as Deusas são a Deusa é igualmente ofensivo e impróprio. Em algum lugar eu disse que a beleza do jardim está na sua diversidade. Negar ou rejeitar a diversidade é homogeneizar. Isso é ficar cego à natureza, portanto, é ficar insensível ao divino. Algo que, definitivamente, não tem nada de pagão.
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