sábado, 5 de março de 2022

O revisionismo histórico da Igreja

Não é de hoje, mas desde a Idade Moderna a Igreja e seus acólitos tem feito um verdadeiro revisionismo histórico para explicar, justificar, encobrir ou negar os inúmeros crimes cometidos em nome do Deus Cristão.
O exemplo mais recente foi a reação contra o filme "Ágora" onde se conta [nos moldes da sétima arte, ou seja, não espere exatidão histórica] a história de Hipátia e de seu assassinato e a destruição do Serapeu de Alexandria e de sua biblioteca.
Vejamos a reação [traduzida no blog Sentir com a Igreja]:

"Acabei de ver o novo filme Ágora , que é uma recontagem da história de Hipátia, a brilhante mulher filósofa de Alexandria que foi morta, supostamente, por uma multidão de "cristãos", no ano 415."
"[...]de fato Hipátia foi  uma filósofa e de fato foi morta por uma multidão em 415, mas praticamente tudo o mais sobre a história que Gibbon, Sagan e Amenabar dizem é falso.
A biblioteca de Alexandria foi queimada até o chão, não por uma turba cristã no século V, mas pelas tropas de Júlio César, cerca de quarenta anos antes de Jesus nascer."

FATO HISTÓRICO:
"Esta teoria está hoje abandonada. Na altura em que César mandou incendiar os navios do porto, terão ardido simplesmente mercadorias, armazéns, e pacotes de livros que estavam no cais para serem transportados para Roma.
A Biblioteca e o Museu terão sido realmente incendiados, juntamente com o Bruquion, em 273 da era cristã, na época do imperador Aureliano, durante a guerra com a princesa Zenóbia. Depois deste acontecimento, a biblioteca foi reconstruída num Museu mais uma vez renovado.
Em 642 d.C., data em que os árabes ocuparam a cidade, não é possível dizer se a Biblioteca e o Museu ainda existiam na sua forma clássica. Pensa-se que terá sido nesta época que os livros da biblioteca terão sido destruídos."

"Um templo ao deus Serápis, chamado Sarapião, foi construído no local da antiga biblioteca (e pode ter havido alguns pergaminhos nele no século V), e foi este edifício que foi destruído por um grupo de cristãos enfurecidos na época de Hipátia, em resposta às contaminações pagãs de casas de culto cristão."

FATO HISTÓRICO:
"O reinado de Teodósio marca o auge de um processo de transformação do Cristianismo, que efetivamente se torna a religião oficial do estado. Em 391, atendendo pedido do então Patriarca de Alexandria, Teófilo, ele autorizou a destruição do Templo de Serápis[...]"
"Em 391 d.C., o famoso templo de Serápis (ornamentado com mármores, ouro e alabastro de primeira qualidade) que também possuía uma biblioteca, foi destruído a mando do Patriarca cristão Teófilo que dirigiu um ataque aos templos pagãos. Todo o bairro onde se situava o templo, Rhaotis, foi então incendiado."
Ou seja, o templo de Serápis e demais templos pagãos estavam em seu lugar de origem. Os templos invasores e estrangeiros eram os dos cristãos.

"Não só havia cristãos nas aulas de Hipátia, não só havia bispos cristãos entre seu círculo de amigos, mas havia também teólogos cristãos - Agostinho, Ambrósio e Orígenes, só para citar os mais proeminentes -  e eles eram entusiastas defensores do neo-platonismo."
Fontes, por favor? A existência de "amigos cristãos" não explica nem desculpa a violência. Aliás, onde estavam estes "amigos"? Cristãos são amigos da onça. Curiosamente os cristãos chegam a negar que o neoplatonismo influenciou a filosofia doutrinária da Igreja, quando os lembro que o neoplatonismo era pagão. O que me faz lembrar da constante atenção seletiva com que os cristãos que aqui comentam, sempre se valendo de autores, livros e textos escandalosamente pró-Igreja.
Caros diletos e eventuais leitores, lamento, mas este blog e seu autor dará preferência a autores, livros e textos, se não pró-pagão, ao menos que sejam pró-verdade.
Fontes perdidas. Repostado. Texto originalmente publicado em 29/07/2011, resgatado com o Wayback Machine.

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