Como, onde e por que aconteceu essa crise e quais serão as medidas dos governos para evitar novas catástrofes econômicas no futuro é um assunto para economistas e políticos.
Para os objetivos deste blog, eu irei explorar os dois pontos humanos desta crise: a confiança e o crédito.
A quebra de crédito e de confiança na área econômica causou tanto rebuliço, mas perdas financeiras ou patrimoniais podem ser superadas, ainda existe esperança e vida. Mas uma quebra de crédito e de confiança na área espiritual produziria um estrago muito maior, pois teria se perdido toda a esperança e o motivo de viver.
Nos dias de hoje não é fácil confiar em um sacerdote, quanto mais em um templo e raramente em uma religião. Oh, sim, as histórias das religiões são cheias de conflitos, mas conflitos continuarão a existir, mesmo se as religiões fossem abolidas, simplesmente porque é parte de nossa natureza. Nós somos instintivamente belicosos e sempre encontraremos justificativas e desculpas intelectualizadas para querer agredir, perseguir, prender e matar outro ser humano unicamente por ser diferente.
A opção por crer ou descrer parte dessa confiança em alguma coisa. Cremos ao confiar na filosofia de uma religião. Descremos ao confiar na percepção de uma ciência. Em ambos os casos, o problema começa quando se dá importância demais a apenas este aspecto de nossa humanidade a ponto disso se tornar uma obsessão. A obsessão nos conduz ao fanatismo, ao fundamentalismo, à enfermidade, à ignorância. Coisas que contradizem os princípios mais anelados, tanto da religião quanto da ciência.
Nisso entra o crédito, nós também escolhemos em quem ou no que daremos crédito para que possamos responder às questões que, como humanos, nos fazemos e passamos a vida tentando desvendar, que é o mistério tanto de nossa existência quanto o do porvir. Os que creem se preocupam - até demais - com o próximo passo da vida, os que descreem se preocupam - até demais - com o próximo passo da tecnologia.
Uma vez, em uma palestra, um cristão perguntou a Richard Dawkins de como ele se sentiria se estivesse enganado. Ele respondeu invertendo a questão ao cristão de como ele se sentiria se ele estivesse enganado. O cristão evidente não cogita a possibilidade de estar enganado, mas eu conheci um ateu que igualmente não cogitava a possibilidade de estar enganado e sinceramente tanto cristãos quanto ateus não deram uma resposta convincente, apenas tegiversaram.
Para o cristão, é inimaginável entender a razão de nossa existência sem a crença no Deus Cristão, sem a crença na bíblia cristã, sem a crença no pecado e na salvação, sem a crença no Inferno e no Paraíso. Para o ateu, é inimaginável entender a razão de nossa existência sem a crença na lógica científica, sem a crença na teoria científica, sem a crença na evidência e na experiência, sem a crença na Ciência e na Academia. Para o cristão, quem está fora do padrão cristão está condenado ao Inferno. Para o ateu, quem está fora do padrão científico está condenado à superstição. Para o cristão, a bíblia contem toda a verdade e coisa alguma nela foi manipulada, forjada ou censurada. Para o ateu, a teoria científica contem toda a verdade e coisa alguma nela foi manipulada, forjada ou censurada. Ambos negam ou refutam qualquer pensamento ou perspectiva diferente que indique as falhas, lacunas, contradições, corporativismo ou policiamento dentro de suas instituições.
E a humanidade vai ficando dividida entre Jeová e Apolo. E quem está ganhando é a obsessão, a enfermidade e a ignorância.
Repostado. Texto originalmente publicado em 13/10/2008, resgatado com o Wayback Machine.
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