O que faria Buda se ele fosse a um encontro?
Essa pergunta provocadora surgiu enquanto eu procurava
ideias de texto no Oráculo Virtual [Google].
No Mundo Espiritual, o assunto rendeu muita polêmica.
Evidente, os maiores protestos vieram da colônia cristã, uma das colônias da
região do monoteísmo. Como a grande maioria das almas, espíritos, entidades e
Deuses não dão a mínima para esses protestos, começou a circular um desafio
entre os moradores.
Os que aceitassem o desafio teriam que se inscrever em um
jogo de simulação de encontro e conseguir ao menos um encontro bem sucedido.
Muitos foram os inscritos da Vila Olimpo, da Vila do Lácio e
da Vila Asgard. Zeus e Jove estavam com enorme vantagem sobre os demais Deuses,
sendo seguidos de perto por Loki e Pan. O que causou mais curiosidade foi
quando viram que Buda, Cristo e Mohamed se inscreveram. Sim, os Mensageiros
mais conhecidos do Mundo Espiritual se inscreveram, provavelmente por que foram
terrivelmente provocados pelas demais potestades.
Intrometidos como sempre, Hermes e Mercúrio foram visitar os
Mensageiros para publicar a entrevista no Jornal do Parnaso.
O dono e gerente da cafeteria onde eu trabalho aproveitou a
onda e ofereceu desconto aos que melhores pontuarem e fui eu que tive que
trabalhar triplicado.
Hermes e Mercúrio passaram por lá, chamando muita atenção, o
que acarretou em mais trabalho ainda para mim.
- Boa tarde, senhores. Qual o seu pedido?
- Hidromel.
- Com uma porção titânica de pomos dourados.
Eu anoto o pedido e prossigo meu trabalho que deve continuar
mesmo depois do Ragnarok.
- Eu digo, Mercúrio, essa matéria vai estourar!
- Sem dúvida, Hermes. Eu mesmo fiquei surpreso com as
respostas.
- Qual dos três entrevistados você sentiu mais pena?
- Pergunta difícil. Eu dei muita risada das respostas do
Buda.
- Nem me lembre. “Eu não preciso ter um encontro, eu estou
em um encontro”. Eu quase mijei nas calças.
- O mais travado, sem dúvida, é Cristo. Eu acho que ele tem
fixação com a mãe.
- Pudera, ele não conheceu o pai e Miriam [Maria] alega que
foi impregnada pelo Espírito Santo.
- Que nega tudo até hoje.
- O mais esperto é Mohamed. Ele defende que cada homem tem
direito a sete mulheres.
- Verdade. Se bem que o inverso não se aplica.
- O que vai atrapalhar o jogo dele.
- Eu hackeei os smartphones deles e vi a pontuação de cada
um. Zero.
- Isso é impossível!
- Pois é o que aconteceu. Eu fiquei surpreso só com a
inscrição de Buda. Ele só fica naquela concha que ele criou chamado Nirvana,
ficando completamente indiferente ao que acontece em volta.
- Coitada da Maya.
- Bom, você pode passar lá e dar uma ajuda a ela.
- E ganhar pontos no jogo.
Os dois riam muito e de forma escandalosa. O dono e gerente
não parece se importar, desde que estejam consumindo. Então o smartphone de um
deles emitiu um aviso, com volume e cores extremos. Alertado, Hermes olha o
smartphone dele.
- Não pode ser! Isso vai dar ruim!
- O que foi, Hermes?
- Diversas entidades femininas e Deusas entraram no jogo e
na competição.
- Isso não é bom?
- Geralmente sim. Eu não me importaria em ser flertado por
uma súcuba. Mas veja quem se inscreveu.
Mercúrio se inclina e olha para a tela do smartphone de
Hermes e a expressão dele é de muito medo.
- Essa não! Nós estamos ferrados!
- Nem me diga. Ela certamente ganhou a competição.
Eu discretamente me aproximei com o pedido feito.
- Senhores, o pedido. Bom apetite.
Eu estava de saída quando Hermes segurou meu avental.
- Você!
- Eu, senhor?
- Sim, você. Não é uma estratégia limpa, mas você é o único
que pode nos ajudar!
- Como, senhor?
- Entre no jogo e inscreva-se na competição. Eu vou mexer
meus pauzinhos para fazer com que você encontre com ela.
- Desculpe, senhor, mas ela quem?
- Ora, quem... ela!
Hermes sacode a tela do smartphone dele e mostra a foto da
Deusa que parece provocar tanto medo e apreensão no Mundo Espiritual. Ah, sim,
eu a conheço. O melhor de tudo é que ela me conhece. Isso deveria ser
considerado trapaça. Foi na época quando eu estava encarnado. Ela me mordeu e
eu me tornei, por assim dizer, o Profeta do Profano. Eu perdi as contas de
quantas vezes eu preenchi aquele divino ventre. Os boatos se espalharam
rapidamente e, constantemente, espíritos/entidades femininas e Deusas vêm na
cafeteria unicamente para conferir os meus talentos.
- Meu senhor, eu mal dou conta do meu serviço!
- Eu pago! Senhorio, eu alugo o seu funcionário pelo dobro
do preço que você paga por ele.
E foi assim que eu fui alugado para Hermes. Como podem ver,
eu não tive escolha, eu entrei no jogo e me inscrevi na competição. Eu
praticamente tinha que correr pelas ruas. Eu tinha que me esconder. O que foi
bom, de certa forma, pois isso me concedeu algumas horas de folga. Sim, eu
consegui parar para sentar, descansar, dormir e comer.
Eu conheço um lugar, o Hotel Califórnia, que poucos conhecem
senão pela música. Como o hotel está abandonado, sem qualquer hóspede,
inclusive espirituais, eu posso entrar e pegar qualquer quarto e eu pude
inclusive tomar banho. Eu estou completamente nu na cama, aproveitando uma
pizza de tamanho titânico quando eu escuto a porta de entrada batendo e passos
pelos corredores. Eu não dou importância, fantasmas estão abaixo de espectros.
A porta do quarto que eu invadi se abre e entra o intruso.
- Olá, querido. Você me deixa ficar um pouco aqui? Eles não
me deixam em paz.
- Claro, [omitido]. Fique à vontade. Sirva-se de pizza.
- Ah, obrigada, querido. Depois que eu entrei no jogo e me
inscrevi na competição, eu sou constantemente cercada e assediada por todo tipo
de espirito/entidade masculina e Deuses.
- Que chato. Eu entendo o que você está passando.
[risos]- Elas também não te deixam em paz, não é?
- Eu só entrei no jogo e na competição por insistência de
Hermes.
[suspiro]- Eu entendo o Hermes. Os meninos não gostam de
perder.
[bufando]- Pois eu acho uma enorme besteira.
[risos]- Isso vai passar. Mas diga, quantas você pegou?
[chateado]- Isso não é importante.
[risos]- Isso é importante para mim. Diga, de quem você
gosta?
Ela se aproxima e se inclina. Eu não consigo desviar meus
olhos daquele corpo perfeito, seios maravilhosos, coxas suculentas e lábios
tentadores. Eu não respondo com palavras. Eu a abraço e beijo com enorme
paixão. Alguns minutos depois, nossos corpos estão emaranhados. Ela me
nocauteia e eu fico no chão, tentando recuperar o fôlego.
[risos]- Sabe, querido, de todos os amantes que eu tive,
você certamente é o meu preferido.
Eu não posso afirmar que ela disse isso. Minha consciência,
mente e sentidos estavam quase derretidos. Eu acho que só tenho certeza de ter
visto um sorriso de satisfação naquele rosto adorado.
Quando nós recuperamos as forças, discretamente saímos daquele
quarto no Hotel Califórnia e voltamos para as nossas rotinas. Felizmente, em
uma semana, o assunto perdeu interesse e tudo voltou ao normal. Incluindo meu trabalho
escravo na cafeteria.
O dono e gerente da cafeteria nem percebeu quando entrou uma
cliente misteriosa que sentou-se em um canto discreto da cafeteria. Todos estavam
ocupados, então eu tive que me desdobrar para atendê-la.
- Bom dia, senhora. Qual o seu pedido?
[risos]- Você sabe o que eu quero.
O disfarce ocultava sua assinatura espiritual, mas eu sentia
até os meus ossos que era ela.
- Eu tenho que avisar o gerente de que eu terei que atender
seu pedido por “serviço especial”.
- Que coisa chata. Aliás, sabe quem ganhou a competição?
[fingindo]- Isso não importa.
[risos]- Nós empatamos, querido. Considere isso uma
revanche.
Evidente que o dono e gerente da cafeteria não dá a mínima,
desde que o cliente pague. No beco que fica atrás da cafeteria, minha
consciência e sentidos se esvaem enquanto meu creme de nozes verte profusamente
dentro daquele sagrado ventre.
Sinceramente, isso não tem a menor importância. Eu estou
muito ocupado me afogando nesse oceano rosáceo chamado êxtase.
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