O logotipo original da P&G [ou melhor, um dos originais] suscitou enorme polêmica unicamente por causa do fundamentalismo cristão e do "satanic panic" [fomentado pelo fundamentalismo cristão] ocorrido em 1980, nos EUA.
"A Procter & Gamble é uma multinacional americana, fundada em 1837. O seu logótipo da marca, muitas vezes chamado de 'homem na lua', foi criado em 1851 e viria a dar muito que falar mais de cem anos depois.
Os primeiros rumores polêmicos sobre a imagem começaram a surgir nos anos 1980. Estes sugeriam que os caracóis existentes na barba e no cabelo da figura em causa 'escondiam' dois chifres e um número invertido: 666. Isso mesmo, o 'número da besta', associado ao anticristo e aos cultos satânicos.
A empresa foi alvo de diversos rumores. Um deles sugeria que o presidente da Procter & Gamble dissera, num talk-show, que grande parte dos lucros da empresa tinham sido doados à Igreja de Satanás. Em 1991, a empresa cederia mesmo à polêmica, acabando por remover os caracóis que tanta polêmica causaram".
[https://observador.pt/2015/09/13/sao-cincos-dos-logotipos-controversia-criaram-todo-mundo/]
Aqui nós temos dois assuntos para explorar.
O que é "pânico moral"?
"Um pânico moral é um sentimento de medo, por vezes exagerado, espalhado em um grande número de pessoas de que algum mal ameaça o bem-estar da sociedade.
As mídias são atores-chave na disseminação da indignação moral, mesmo quando não pareçam estar conscientemente engajados em cruzadas ou realizando uma investigação jornalística. A simples divulgação de algo pode bastar para gerar preocupação, ansiedade ou pânico.
Marshall McLuhan deu tratamento acadêmico ao termo em seu livro Understanding Media, de 1964. De acordo com Stanley Cohen, autor de um estudo sociológico sobre a cultura e mídia juvenil chamado Folk Devils and Moral Panics ('demônios folclóricos e pânicos morais'), de 1972, um pânico moral ocorre quando '... [uma] condição, episódio, pessoa ou grupo de pessoas surge e acaba sendo definido como uma ameaça aos valores e interesses sociais'. Aqueles que começam o pânico quando temem uma ameaça aos valores sociais ou culturais predominantes são conhecidos pelos pesquisadores como 'empreendedores morais', enquanto as pessoas que supostamente ameaçam a ordem social têm sido descritas como 'demônios folclóricos'.
De acordo com Stanley Cohen, existem cinco estágios-chave na construção de um pânico moral:
- Algo, alguém ou um grupo é definido como uma ameaça às normas sociais ou aos interesses da comunidade
- A ameaça é então representada por um símbolo ou forma simples e reconhecível pela mídia
- A exibição desse símbolo desperta preocupação pública
- Há uma resposta das autoridades
- O pânico moral sobre a questão resulta em mudanças sociais dentro da comunidade
Em 1971, Stanley Cohen investigou uma série de pânicos morais. Ele usou o termo 'pânico moral' para caracterizar as reações da mídia, do público e dos agentes de controle social em relação a distúrbios juvenis. Este trabalho, envolvendo os mods e os rockers, demonstrou como agentes de controle social ampliavam o desvio. Esses grupos ganharam a pecha de estar longe dos valores centrais da sociedade consensual e de representar uma ameaça tanto para os valores da sociedade quanto para a própria sociedade; daí o termo 'demônios folclóricos'.
De acordo com Stanley Cohen em Folk Devils and Moral Panics, o conceito de "pânico moral" estava ligado a certas suposições sobre a mídia de massa. Ele mostrou que a mídia de massa é a principal fonte de conhecimento do público sobre desvios e problemas sociais. Ele argumentou ainda que o pânico moral dá origem ao demônio folclórico rotulando ações e pessoas.
De acordo com Cohen, a mídia aparece em pelo menos um de três papéis no desenrolar de episódios de pânico moral:
- Definir a agenda - selecionar eventos desviantes ou socialmente problemáticos considerados dignos de atenção, e então usando filtros mais refinados para selecionar quais eventos são candidatos ao pânico moral.
- Transmitir as imagens - divulgar as afirmações usando a retórica dos pânicos morais.
- Quebrar o silêncio, fazendo a declaração.
Os pânicos morais têm várias características distintas. De acordo com Goode e Ben-Yehuda, o pânico moral consiste nas seguintes características:
- Preocupação - Deve haver a crença de que o comportamento ou atividade considerada desviante possa ter um efeito negativo sobre a sociedade.
- Hostilidade - A hostilidade em relação ao grupo em questão aumenta e eles se tornam "demônios folclóricos". Uma divisão clara forma-se entre 'eles' e 'nós'.
- Consenso - Embora a preocupação não deva ser nacional, deve haver ampla aceitação de que o grupo em questão representa uma ameaça muito real à sociedade. Nesta fase, é importante que os 'empreendedores morais' se manifestem e os 'demônios folclóricos' pareçam fracos e desorganizados.
- Desproporcionalidade - A ação tomada é desproporcional à ameaça real representada pelo grupo acusado.
- Volatilidade - Os pânicos morais são altamente voláteis e tendem a desaparecer tão rapidamente quanto aparecem, porque o interesse público diminui ou as notícias mudam para outra narrativa".
[https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A2nico_moral]
Historicamente, o período conhecido como Caça às Bruxas pode ser considerado um exemplo de resultado de um pânico moral. O Holocausto contra os Judeus que ocorreu na Europa também. Atualmente nós podemos falar dos movimentos contra a população LGBT, contra as religiões da Diáspora Africana e contra os imigrantes. Tem essa paranoia/neurose em torno da pedofilia/pornografia infantil, conduzidos por grupos que podem ser identificados como provindos da direita, conservadores e fundamentalismo cristão. Aqui aconteceu a polêmica do Queer Museu e existe a pregação de televangelizadores contra a dita "Ideologia de Gênero".
Aqui também pode se falar da figura do "bode expiatório", mas vamos falar do "satanic panic" que aconteceu em 1980, nos EUA.
"Abuso de ritual satânico (em inglês: satanic ritual abuse - SRA, às vezes conhecido como ritual de abuso satânico, abuso ritualístico, abuso organizado, ritual de abuso sádico e outras variantes) foi um pânico moral que se originou nos Estados Unidos na década de 1980, espalhando-se por todo o país e, finalmente, para muitas partes do mundo, depois diminuindo em sua maioria no final de 1990. Alegações de abusos por rituais satânicos envolveram relatos de abuso físico e abuso sexual de pessoas no contexto de rituais de ocultismo ou satânicos. Em sua forma mais extrema, o abuso de ritual satânico envolvia numa suposta conspiração mundial envolvendo os ricos e poderosos da elite mundial no qual crianças eram raptadas ou criadas para sacrifícios humanos, pornografia e prostituição".
[https://pt.wikipedia.org/wiki/Abuso_de_ritual_sat%C3%A2nico]
Mas o que seriam os "demônios folclóricos"?
"Diabo popular [nota - demônio folclórico] é uma pessoa ou grupo de pessoas retratadas no folclore ou na mídia como estranhas e desviantes , e que são culpadas por crimes ou outros tipos de problemas sociais.
A perseguição de demônios populares frequentemente se intensifica em um movimento de massa que é chamado de pânico moral. Quando um pânico moral está em pleno andamento, os demônios folclóricos são objeto de campanhas vagamente organizadas, mas generalizadas de hostilidade por meio de fofocas e da divulgação de lendas urbanas. Os meios de comunicação de massa às vezes entram em ação ou tentam criar novos demônios populares em um esforço para promover a controvérsia. Às vezes, a campanha contra o demônio popular influencia a política e a legislação de uma nação.
O conceito de diabo popular [nota - demônio folclórico] foi introduzido pelo sociólogo Stanley Cohen em 1972, em seu estudo Folk Devils and Moral Panics , que analisou controvérsias na mídia sobre Mods e Rockers no Reino Unido na década de 1960.
A pesquisa de Cohen foi baseada na tempestade da mídia sobre um violento confronto entre duas subculturas jovens, os mods e os roqueiros, em um feriado bancário em uma praia na Inglaterra em 1964. Embora o incidente só tenha resultado em alguns danos à propriedade sem qualquer lesão física grave qualquer um dos indivíduos envolvidos, vários jornais publicaram artigos sensacionalistas em torno do evento. Cohen examinou artigos escritos sobre o assunto e notou um padrão de fatos distorcidos e deturpação, bem como uma representação distinta e simplista das respectivas imagens de ambos os grupos envolvidos na perturbação. Ele articulou três estágios nas reportagens da mídia sobre os demônios populares:
- Simbolização: o demônio popular é retratado em uma narrativa singular, sua aparência e identificação geral simplificada demais para ser facilmente reconhecível.
- Exagero: os fatos da polêmica em torno do demônio popular são distorcidos, ou fabricados todos juntos, alimentando a cruzada moral.
- Predição: novas ações imorais por parte do demônio popular são antecipadas".
[https://en.wikipedia.org/wiki/Folk_devil] traduzido com Google Tradutor.
O logotipo? A empresa apenas utilizou a imagem da lenda do Homem da Lua.
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