Eu vou aproveitar o impulso dado pelos textos anteriores,
motivados pela tentativa de alguns pagãos modernos de reabilitar Satan e pelo
tropeço de outros em insistir em identificar ou assemelhar o Deus Cornífero com
o Diabo. Não por que eu esteja preocupado com a satanização do Paganismo
Moderno e de nossos Deuses, eu estou é mais preocupado com a sanitização da
Bruxaria e da Wicca. Graças ao Cristianismo, Satan, Diabo, ficou
irremediavelmente parte das heresias, ordens secretas e práticas religiosas
heterodoxas. A Bruxaria Tradicional considera a Wicca Tradicional uma prática
caiada. A Wicca Tradicional considera a Neo-Wicca uma prática com mais
alvejante ainda. O que é compreensível, visto que a cultura ocidental ainda é
fortemente marcada e influenciada por essa herança judaico-cristã, o que tornou
indesejável para os grupos ecléticos contemporâneos ter qualquer identificação
ou vínculo com essa concepção cristã de que Bruxaria e a Wicca são coisas...
satânicas.
Em minha jornada eu percebi com certo espanto como assuntos
e práticas da Bruxaria são proibidas, censuradas, omitidas e negadas por
pessoas que se intitulam bruxos e sacerdotes. Para o desespero do cristão
fundamentalista e para nosso infortúnio, o mundo contemporâneo e as expressões
artísticas usa Satan, a Bruxaria e outras religiões não-abraãmicas como se
fossem uma única e a mesma coisa. Por sarcasmo, ironia ou estratégia, muitos de
nós aceita tal pecha exatamente para se manter isento dos apelos da
massificação e popularização.
A Sétima Arte é uma excelente fonte para perceber essa “identificação”,
são vários os filmes que descrevem a bruxa e a bruxaria como algo próprio do
Diabo e isso tem muito a ver com a visão doutrinária da Igreja e do Santo
Ofício durante a Idade Média. Como eu havia dito nos textos anteriores, os
pagãos modernos precisam estudar e interpretar melhor os eventos históricos que
aconteceram durante a Baixa Idade Média, porque tanto por parte dos padres como
por parte das bruxas existe um padrão cultural do qual se pode extrair a existência
da Bruxaria e do Mestre do Sabat.
Mas mesmo o cinema tem suas fontes, vinda dos clássicos da
literatura e até da mitologia. Se o livro “O Mestre e Margarida” é um “anti-fausto”,
quem ou o que seria o “Doutor Fausto”? usando a enciclopédia virtual [Wikipédia]
eis o que eu obtive:
Fausto é o protagonista de uma popular lenda alemã de um
pacto com o demônio, baseada no médico, mago e alquimista alemão Dr. Johannes
Georg Faust (1480-1540). O nome Fausto tem sido usado como base de diversos
textos literários, o mais famoso deles a peça teatral do autor Goethe,
produzido em duas partes, escrita e reescrita ao longo de quase sessenta anos.
A primeira parte - mais famosa - foi publicada em 1806 e a segunda, em 1832 -
às vésperas da morte do autor.
Considerado símbolo cultural da modernidade, Fausto é um
poema de proporções épicas que relata a tragédia do Dr. Fausto, homem das
ciências que, desiludido com o conhecimento de seu tempo, faz um pacto com o
demônio Mefistófeles, que o enche com a energia satânica insufladora da paixão
pela técnica e pelo progresso.
O Fausto histórico
Johann Georg Faust (c. 1480 – c. 1540), ou Georg Faust, foi
um alquimista, astrólogo e mago da época do Renascimento alemão.
Vida
Georg Faust nasceu por volta de 1480 em Knittlingen
(Vurtemberga), no sul da Alemanha [1] Pouco se sabe sobre sua formação
acadêmica, mas parece haver estado associado às universidades de Heidelberg e
Wittenberg. Levava uma vida itinerante como astrólogo, médico e filósofo
natural e, apesar de haver sido perseguido por autoridades de várias cidades
como Ingolstadt, Wittenberg e Nuremberga, também foi contratado como astrólogo
por personalidades da nobreza e até da Igreja. Os humanistas e teólogos da
época, porém, consideravam-no um charlatão.
Faust aparentemente foi vítima de uma morte não natural no
sul da Alemanha por volta de 1540. O reformador Philipp Melanchthon menciona
que "Johannn Faust" morreu de maneira violenta e que seu corpo
parecia haver sido mutilado pelo demônio. Em escritos publicados em 1566,
Martinho Lutero assinalava-o como um instrumento do demônio, algo que deve ter
contribuído na criação de lendas sobre ele. O próprio Faust pode haver
estimulado as histórias de bruxaria durante sua vida com fins propagandísticos.
O Fausto apócrifo
Em 1507 foi nomeado mestre-escola em Kreuznach "um
homem muito douto e místico", chamado Georgius Sabellicus Faust Junior,
que, conforme uma carta achada na abadia de Sponheim, "abusou dos alunos e
fugiu". Em 15 de janeiro de 1509 colou grau de bacharel em teologia, na
universidade de Heidelberg, um certo Johannes Faust. Conrad Mutianus Rufus, da
paróquia de St. Marien em Gota, conta que um tal Georg Faust blasfemava
soberbamente em Erfurt, em setembro de 1513. O bispo de Bamberg declarou ter
pago a um Faust, em 10 de fevereiro de 1520, dez moedas de ouro, para que ele
lhe lesse o horóscopo. Documentos rezam que um doutor Georg Faust foi banido de
Ingolstadt, em 15 de junho de 1528, como charlatão. Um doutor Faust teve negado
salvo-conduto, em Nuremberg, a 10 de maio de 1532. Em Münster o doutor Faust,
em 25 de junho de 1535, predisse a capitulação da cidade pelo bispo, como
depois aconteceu.
Em pouco tempo outros mitos e lendas que envolviam
personagens como Simão Mago, Cipriano e Teófilo, episódios bíblicos e
medievais, burlas e fábulas começaram a compor uma tão considerável tradição
oral e apócrifa acerca desse Fausto, que ele acabou por tornar-se figura literária.
O Fausto literário
No intuito de compilar tudo quanto se acreditava e dizia
acerca de Fausto, Johann Spiess, livreiro e escritor de Frankfurt, compôs no
ano de 1587 a primeira narrativa literária dessa personagem. Era um volume de
227 páginas, intitulado como a Historia von dr. Johann Fausten, cujo enredo
contava como ele se vendeu ao diabo a prazo estipulado, as extraordinárias
aventuras que viveu nesse ínterim, a magia que praticava, e por fim sua morte e
danação. Tudo isso publicado para servir de advertência sincera contra os que
levavam a curiosidade intelectual além do limite estabelecido pelas igrejas.
Enredo da lenda
No afã de superar os conhecimentos de sua época, Fausto
evoca espíritos e, por fim, Mefistófeles, o demônio (palavra que significaria,
etimologicamente, inimigo da luz) - com o qual negocia viver por vinte e quatro
anos sem envelhecer.
Durante este tempo, conforme o contrato assinado com seu
próprio sangue, o diabo serviria a Fausto, em troca da sua alma. Entregue aos
prazeres durante este tempo, é finalmente ao término deles levado para o
Inferno.
Tendo, porém, encontrado o amor de Margarida, dela tenta
obter a salvação, mas foi inevitável o destino a que se comprometera.
Doutor Fausto é um personagem meio mítico e meio histórico, no
entanto existiram e existem muitos ocultistas, magos e bruxos que fazem parte
da história da Bruxaria, muito embora alguns ditos pagãos, bruxos e sacerdotes tenham
decretado a “excomunhão” deles, tudo para supostamente melhorar a “imagem
pública” da Bruxaria e da Wicca, torna-las mais aceitáveis, mais inclusivas,
menos ameaçadoras, no que eu singelamente chamo de sanitização, mas eu sei que
isso é para atingir objetivos e agendas pessoais.
Nota: eu li o livro "O Mestre e Margarida" que é, segundo o próprio autor, um anti-Fausto.
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