Hoje tem início a Copa do Mundo de 2014 e começamos mal, nós não temos a infraestrutura necessária para um evento desse porte.
A escolha do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 tem um histórico típico brasileiro: tráfico de influência, corrupção, politicagem.
Mas antes, vamos aos fatos mais amenos:
No dia 3 de Junho de 2003, a Confederação Sul-Americana de Futebol (CONMEBOL) havia anunciado que a Argentina, o Brasil e a Colômbia se candidataram à sede do evento. Em 17 de março de 2006, as confederações da CONMEBOL votaram de forma unânime pela adoção do Brasil como seu único candidato.
O presidente da FIFA, Joseph Blatter, disse em 4 de Julho de 2006 que, nesse caso, a Copa do Mundo de 2014 provavelmente seria sediada no país. No dia 28 de Setembro do mesmo ano, ele se encontrou com o Presidente Lula e disse que queria que o país provasse sua capacidade antes de tomar uma decisão. O dia 7 de fevereiro de 2007 seria a data final para as inscrições, porém a FIFA antecipou o prazo, tendo este acabado em 18 de dezembro de 2006.
No dia 13 de abril de 2007, após visitar o Maracanã, no Rio de Janeiro, o Morumbi, em São Paulo, o Mineirão, em Belo Horizonte, e o Beira-Rio, em Porto Alegre, Blatter disse que o país não tinha nenhum estádio em condições de sediar a Copa. Lula, porém, disse a jornalistas no dia 15 de setembro de 2006 que o Brasil deveria construir doze novos estádios para ser capaz de sediar a Copa. Lula ainda disse que nem mesmo a Kyocera Arena, o moderno estádio do Atlético Paranaense em Curitiba, tinha os pré-requisitos, pois havia questões de acesso e estacionamento.
Apesar de tudo, tanto Blatter quando o Presidente Lula estavam otimistas na reunião. O Ministro dos Esportes do Brasil, Orlando Silva, disse que "o Brasil fará o que for preciso para que a Copa seja realizada no país." O presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, disse que recuperar estádios e/ou construir novos estádios seria responsabilidade da iniciativa privada.
Em 31 de maio de 2007, encerrou-se o prazo dado pela FIFA e pela CBF para que as cidades interessadas em sediar partidas do Mundial fizessem suas respectivas candidaturas. Vinte e uma cidades de dezenove estados, mais o Distrito Federal entregaram à comissão organizadora os protocolos preenchidos de acordo com o Caderno de Encargos da FIFA.
Joseph Blatter faz o anúncio do país-sede. Em 31 de julho de 2007 a CBF entregou na sede da FIFA em Zurique, na Suíça, os documentos da proposta, na qual apareciam as dezoito cidades selecionadas (incluída a candidatura conjunta de Recife e Olinda).
No final no mês de agosto de 2007 uma comissão formada por inspetores da FIFA esteve nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre, para vistoriar pessoalmente os estádios e a infraestrutura destas cidades candidatam a sede. Além das visitas, os inspetores da FIFA assistiram às apresentações dos projetos das demais cidades candidatas.
No dia 30 de outubro de 2007 a FIFA ratificou o Brasil como país-sede da Copa do Mundo de 2014. [wikipedia]
Na época, a CBF era dirigida por Ricardo Teixeira e a Fifa era influenciada por João Havelange. Ambos compartilham uma ligação que não é apenas familiar, mas também em negócios escusos. Ambos acabaram pedindo demissão dos cargos que ocupavam quando a coisa engrossou.
No Brasil, o presidente Lula e seu populismo neoliberal se empenharam em transformar o Brasil no palco adequado para o evento, restando pouco mais de sete anos para tentar construir ou reformar diversos estádios para satisfazer os dirigentes da Fifa e seus padrões. Disso veio a piada pronta do “padrão Fifa” que vem sido usado nas recentes manifestações.
Comentários polêmicos surgiram de personalidades, como os do ex-jogador Ronaldo e do ex-jogador Pelé. No exterior, não faltou quem também mostrasse a ingerência do governo brasileiro em sanar diversos problemas que vão afetar a Copa, ainda tem estádio sendo construído, como o Itaquerão, que é palco da inauguração ainda com tapumes e entulho de obra. Em termos de serviços, a coisa está precária, foi dado prioridade aos estádios e não foi feito coisa alguma para melhorar nossos aeroportos, portos, rodoviárias, transportes públicos, vias de acesso, hotéis. Não há nenhum planejamento para urgências e emergências, sistemas de ambulâncias, bombeiros, hospitais. O brasileiro mal fala sua própria língua, menos ainda o inglês mais básico.
A escolha do Brasil para a Copa de 2014, da Rússia para a Copa de 2018 e do Qatar para a Copa de 2022 fez com que a Fifa alterasse as regras dos países elegíveis para serem sede da Copa a partir de 2026: organizado, com dinheiro em caixa, sem grandes problemas de política externa e cuja escolha para receber o Mundial que não gere choques.
No meio do ano de 2013 surgiu um novo aspecto pertinente cuja motivação pode vir a ser mais uma pedra no sapato dos organizadores da Copa. Durante o mês de junho de 2013, em diversas cidades do Brasil, surgiram protestos contra a situação calamitosa da política brasileira, marcada por negligência, imperícia, omissão, imprudência, corrupção, nepotismo, ineficiência e tráfico de influência. O estopim foi o aumento da tarifa de ônibus, mas o protesto acabou agregando diversos grupos, diversas agendas e diversos objetivos, alguns não muito éticos, como as ações do Black Blocks.
A motivação central das manifestações, sem entrar no mérito da ação violenta, da depredação e do vandalismo pontual que aconteceram, é o descontentamento do cidadão contra seu estado de abandono. Nós somos um dos países com a mais alta taxa de juros e impostos, sem que isto não reverta em benefícios à população. Não faz sentido, em um país com um longo histórico de falta de investimento em educação, transporte e saúde pública, faça um esforço tão hercúleo para reformar ou construir estádios. O discurso oficial tenta nos enganar dizendo que a Copa irá beneficiar a população, mas não nos enganemos, apenas as elites e os políticos irão se beneficiar com essa pantomima.
Entretanto, nos meses que antecederam a abertura da Copa, o brasileiro parece que sucumbiu ao efeito hipnótico. As manifestações perderam volume, são noticiadas apenas quando acontece depredação ou tragédia. As ruas ostentam enfeites, painéis, pinturas. Lojas do mercado popular vendem itens para os torcedores. Em seu trabalho, o brasileiro pensa apenas na folga que terá nos dias de jogos da seleção brasileira.
Somente no apito final do último jogo da Copa é que o brasileiro irá voltar ao mundo real e se dará conta que estamos em ano eleitoral. Uma chance para mostrar nossa indignação, uma chance para nos organizarmos e termos consciência política. Ou uma chance para repetir os mesmos erros das eleições passadas e elegermos as mesmas figurinhas que tem se mantido no governo. Ou para ficarmos reclamando por mais um período de quatro anos, feito velhas corocas, dos nossos representantes. Basta de ficar reclamando, a única solução para o Brasil é o brasileiro se envolver na política, é ter participação nas decisões do governo, fiscalizando, cobrando, exigindo soluções.
A Copa dura um mês e quem quer que seja o campeão, isso não irá mudar a nossa conjuntura. O resultado de uma eleição, no entanto, dura muito mais e atinge diretamente nossas vidas. Entre um gol da seleção brasileira e um voto consciente do cidadão, eu fico com o segundo. Entre acrescentar um troféu do Brasil e garantir a justiça social no Brasil, eu fico com o segundo. Vamos mudar o jogo, Brasil.
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