Jason Mankey escreveu em seu blog “Raise de Horns” um texto intitulado “Finding the Goddess”. O texto descreve a experiência pessoal do autor com a Deusa e isso é crucial para uma análise crítica, haja visto que a maioria dos pagãos modernos teve um “contato” com a Deusa [e o Deus] por livros de autores pagão que começaram a surgir pela década de 70, no século XX. Eu vou tentar não estressar o caro dileto e eventual leitor com o fato de que eu sou politeísta, tradicional e tenho aversão ao domínio da neo-wicca e do dianismo no cenário pagão mundial. Neste blog eu tenho textos que abordam os aspectos da Deusa, mas não em como isto se encaixa no paganismo moderno.
Na definição de Jason Mankey, o Paganismo [Moderno] tem como definição: a) religião natural, b) politeísmo c) princípio feminino d) tradição religiosa ocidental. Isto coloca vários problemas com a experiência que ele teve e a forma como ele expressou tal experiência.
Como pagãos modernos encaixam a natureza como base de sua religião enquanto falamos e defendemos o uso do sacrifício ritualístico de animais? Para muitos pagãos modernos esse é um tema polêmico e conturbado, principalmente aos que optam pelo veganismo, pela defesa do “direito animal” e pela preservação ambiental.
Como os pagãos modernos encaixam o politeísmo como base de sua religião, se acabamos nos rendendo a formas de henoteísmo, panteísmo, monismo e até monoteísmo? Muitos pagãos modernos, devido à influência literária e pouca investigação acadêmica, irão ter problemas em conciliar sua epifania divina com a Deusa [e o Deus] com a sua interpretação de tal experiência, com a forma como ele irá expressar tal experiência e até mesmo com a visão do grupo ou tradição ao qual ele faz parte.
Como pagãos modernos encaixam o princípio feminino como base de sua religião, especialmente homens, sem incluir o princípio masculino, o Deus? Eu passei muitos anos de minha jornada lutando contra a impostura da neo-wicca e do dianismo. Per faz, per nefas, eu agora estou focando em minha jornada. A comunidade pagã brasileira que se resolva com gurus, farsantes e vigaristas.
Como pagãos modernos encaixam uma “tradição religiosa ocidental” como base de sua religião se muito de nosso legado cultural e religioso provêm do Oriente Médio, Ásia Menor e regiões mais orientais? O conceito de uma religião indo-europeia nos remete ao vale do rio Indus, bem no meio do atual Paquistão. Fica difícil encaixar a Anatólia nesse eurocentrismo, nessa ocidentalização de nosso legado.
Transmitir, por escrito, uma experiência espiritual, uma epifania, uma revelação, é um trabalho difícil e ingrato. O limite da forma de uma redação, o limite da língua, o limite de nossa capacidade mental em compreender quando Ela [ou Ele] mostra Sua face para nós chega a ser cruel. Livros sagrados nasceram dessa necessidade que temos em compartilhar o que presenciamos e quando o pensamento se fossiliza em papel e tinta, deixa de ser divino para ser humano, eis o porquê não existem livros sagrados no Ofício.
O encontro com a Deusa passa pela questão de como conceituamos, vemos e percebemos a divindade. A referência mais primordial da Deusa é a nossa mãe e a figura, o símbolo e o papel da mãe na mente ocidental nos dá uma pálida ideia da Grande Mãe. A segunda referência da Deusa que é mais forte é a nossa mulher e essa figura se subdivide entre a esposa e a amante, onde conceitos como a virgem, a santa, a cortesã e a prostituta se misturam. A referência mais temida é a anciã e essa figura se subdivide na bruxa e na morte, pois Ela é o ventre e o túmulo. Outras referências, como a figura da irmã e filha, são menos exploradas e utilizadas e, mesmo nesses papéis, há uma mistura de laços de família e tabus como o incesto, um mito que poucos falam e é evitado pela neo-wicca e pelo dianismo.
Apesar de tudo isso, os aspectos Dela ainda estão longe de ser amplamente explorados. Ela é associada à lua, à natureza, à noite, ao firmamento, ao campo, ao plantio, à colheita, às estrelas, ao nascimento, à fertilidade, à fecundidade, à fartura. Ela não é a soma da multitude de outras Deusas e as outras Deusas tem suas próprias identidades e personalidades. Ela resume a completude divina do feminino, Nela há recato e ousadia, pudor e sensualidade, pureza e erotismo, castidade e promiscuidade. Ela resume a plenitude da mulher, sendo dona de si, de seu corpo, de sua sexualidade, de sua sensualidade, esposa e amante, santa e puta, anjo e demônio. Procura-la é querer a morte, morrer para renascer. Encontra-la é loucura, a loucura dos poetas e profetas. Deseja-la é querer abraçar o Amor, consumir-se em uma união que irá desintegrar nossa existência, ser arrebatado no mais longo orgasmo.
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