Hesíodo nos conta, em sua obra Teofania, sobre o "rapto" da Europa:
"Zeus, um dia, olhando distraidamente para a costa da Ásia Menor, viu uma mulher de extraordinária beleza. Era Europa, filha de Agenor, rei da Fenícia. Zeus apaixonou-se por Europa e para tê-la disfarçou-se de um belíssimo touro branco, com chifres em meia lua. Europa viu tal touro tão amável que montou em suas costas e foi levada até Creta, onde ela teve seus filhos Minos, Radamanto e Sarpedão."
Minos depois se tornou o rei de Creta, dando origem à civilização Minóica, tão citada como uma das civilizações antigas mais avançadas. O que Hesíodo não nos conta é por que o touro era branco, por que Europa não teve medo e o que há por detrás do "rapto".
Europa não foi raptada, ela montou voluntariamente no touro branco. Mesmo nos dias de hoje, "montar" tem uma conotação sexual. Não foi Zeus, a despeito de todo seu histórico como conquistador, que se disfarçou como um touro branco, mas foi Hesíodo que o associou ao touro branco, provavelmente o símbolo de um Deus anterior e mais antigo que Zeus.
Na antiguidade, os livros eram escritos para a aristocracia. Hesíodo não conhecia, não tinha meios ou não tinha liberdade para escrever a respeito dos mitos e crenças da época. No tempo em que Hesíodo escreveu Teofania, os Gregos Antigos estavam esquecendo de seus Deuses e Deusas, a filosofia tomava o lugar e a função dos mitos, a religião estatal esmagava os cultos mais antigos. Hesíodo escreveu Teofania para organizar, hierarquizar e justificar a supremacia da religião estatal, onde Zeus reinava absoluto sobre um panteão com Deuses e Deusas mais antigos (e, outrora, mas poderosos) do que Zeus.
Hesíodo escreveu para tranquilizar a aristocracia que se sentia insegura diante da imensa diversidade de cultos, crenças e Deuses que existiam na Grécia Antiga, sobretudo para suprimir os mitos, os cultos e crenças mais velhas, que estavam vinculadas aos povos nativos que, como muitos dos povos primitivos, cultuavam uma Deusa Terra e um Deus Touro. Hesíodo cumpriu com seu trabalho e, inadvertidamente, eternizou o antigo, o perturbador e o poderoso Deus Touro.
Um comentário:
Pois é... Zeus sempre eterno no Olimpo é a imagem e semelhança do desejo do governante de se manter no poder.
E temos o touro que se sacrifica e renasce no colo da Deusa como deve ser o mito dos camponeses.
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