Cena inicial: uma cidade pequena em algum lugar dos EUA
Sra. Murray- Muito bem, crianças. Este será nossa melhor peça de Natal. Agora tirem suas fantasias e não esqueçam de desligar o Menino Jesus antes que sua cabeça derreta.
Uma mãe- Obrigada, sra Murray. Nós todos apreciamos o esforço que você pôe neste projeto todos os anos.
Sra. Murray- Minha alegria é servir ao Senhor.
Uma mãe- Ei, aquele não é seu novo vizinho, senhor Thompson?
Sra Murray- Oh sim, eu acho que sim... Eu aposto que ele e sua querida esposa gostariam de trazer suas duas crianças para fazer a peça da Véspera de Natal! Será uma boa chance para trazê-los para a congregação! Eu vou pegar meu casaco.
Segunda cena: a sra. Murray sai na rua para conversar com o sr. Thompson.
Sra Murray- Ooooi, senhor Thompson! Olá! Eu sou Martha Murray, a professora da igreja aos domingos! Em nome da congregação, eu gostaria de dar as boas vindas a você e à sua família para a nossa vizinhança.
Sr Thompson- Grato, sra Murray! E por favor me chame de Bob.
Sra Murray- Decorando para as festas, não?
Sr Thompson- Oh sim, é a nossa época do ano favorita! Nós estamos nos preparando para uma grande celebração!
Sra Murray- Eu sabia que vocês eram uma familia religiosa! Por isso que eu queria...ah...convidar...uh...AAAAAHHHH!
Sr Thompson- Sra Murray, algo errado?
Sra Murray- Fique lonje! Oh Senhor Jesus...você me disse que estava decorando para as festas!
Sr Thompson- Mas nós estamos! Hoje a noite é véspera do Solstício de Inverno! Oh...Sandra e eu esquecemos de dizer que nós somos pagãos?
[Cena mostrando a casa com uma decoração explicitamente pagã e erótica]
Sra Murray- Tire essa coisa horrível imediatamente!
Sr Thompson- Do que você está falando? Ninguém disse aos Robinsons na rua em frente para tirarem seu Papai Noel grande de plástico!
Sra Murray- Isso é diferente! Este não é um ídolo pagão pervertido! Não é?
Sr Thompson- Ah, sra Murray... quão pouco você sabe...
[Segue algumas explicações sobre os símbolos natalinos, suas origens e correlações com o Paganismo. O autor mostra ingenuidade pois é exatamente por causa disso que os cristãos fundamentalistas criticam tanto o Natal]
Sra Murray- Eu não estou interessada em sua bobagem da Nova Era! Eu vou chamar as autoridades e prendê-lo a menos que você tire essa...coisa...imediatamente!
Sr Thompson- Escute, sra Murray...eu sou um cidadão que paga seus impostos e minha liberdade religiosa está protegida pela Constituição! Então você não vai...
Sra Thompson- Bob? O que está acontecendo?
Sr Thompson- Nada, querida.
Sra Murray- Sra Thompson!
Sra Thompson- Sra Murray, você gostaria de um biscoito caseiro de Solstício? Quente e fresquinho, saído do forno!
[Cena da Sra Murray olhando para um biscoito de forma fálica]
Sra Murray[correndo]- AAAAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIEEEEEEEEEEE!
Sra Thompson- Não se preocupe, querido.
Terceira cena: a sra Murray começa a espalhar sua rede de intrigas.
uma mulher da congregação: O quê?
Sra Murray: Foi horrível! Chame a congregação! Reunião de emergência hoje à noite! Ore ao Senhor!
[Cena da congregação se reunindo na frente da casa do sr Thompson]
um homem da congregação- Este é o lugar. Todo mundo pronto?
[A congregação entoa cânticos natalinos]
Sr Thompson- Mas que porcaria? Que vizinhança é esta, onde uma família não pode sequer desfrutar de um ritual da volta do sol na privacidade de seu quintal? [Nota: a idéia do autor de fazer um ritual pagão em um quintal tão publicamente exposto contrasta com a privacidade alegada pelo personagem]
um homem da congregação- Nós não permitiremos esse tipo de abominação em nossa comunidade!
Sr Thompson- Nós interrompemos suas cantigas de Natal? Nós quebramos seus presépios? De onde vocês tiraram a idéia de que podem interferir em nossa religião? Tire a droga de seus dedos de minha cerca, pregador!
Sra Thompson- Querido...esqueça deles! O poder está aumentando...as estrelas estão descendo para nos tocar. E o ouro vermelho flui por entre meus quadris...
Sr Thompson[reverenciando]- Bendita seja minha rainha.
[Os filhos dos Thompsons dão uma risada sacana]
Sra Thompson- Deixe que a tolice e a tristeza tomem aquele que acha defeito nisso!
Sr Thompson- Batam mais forte esses tambores, crianças! Papai e mamãe tem que acordar o sol.
[Cena dos Thompson em pleno ritual de Solsticio. Papai e mamãe em comunhão carnal enquanto os filhos tocam os tambores. A congregação continua com suas cantigas natalinas]
padre- Senhor, tende piedade destas ovelhas teimosas...
[Sra Murray tenta seguir as intenções da congregação, mas algo parece tê-la afetado]
Quarta cena: a sra Murray desperta nua em um outro plano (astral).
Sra Murray- Onde eu estou? Que barulho é esse? É você!
Deus- Eu retornei. E uma vez que você foi uma boa menina, eu te trouxe um presente...
[Deus em sua forma de Rei Azevinho/Papai Noel põe as mãos dentro da calça. Evidentemente o presente é seu falo]
Sra Murray- Eu...eu não posso...eu sou muito velha...
Deus [rindo]- Não há idade aqui pois eu sou mais velho que o próprio tempo e mais jovem que o amanhã. [Deus oferece um enorme falo a sra Murray]
Sra Murray [aceitando e recebendo Deus nela]- Como eu pude sequer esquecer...que o universo...é um eterno...SIM...
uma pessoa da congregação- Ela está voltando a si!
homem da congregação- Martha?
padre- Você desmaiou, Martha!
Sra Murray- Muito obrigada...vocês são tão gentis...feliz Natal para todos! E para todos uma boa noite![Fim]
Nota final: Ao contrário dos panfletos de Jack Chick, a estória termina sem uma conclusão se houve alguma mudança na vida da sra. Murray ou da congregação. Considerando a realidade dos EUA, a família Thompson certamente passaria por outras aventuras e perigos. Como eu disse, a estória é um tanto ingênua, mas cumpre com seu papel. Nessa época de festas de fim de ano, o "clima de confraternização" nos faz sermos melhores do que geralmente somos no resto do ano. Seria bom se pudéssemos sempre manter esse "clima" pelo ano inteiro, mas como o clima na meteorologia, o humor humano é extremamente inconstante - infelizmente muitas vezes por causa da crença, mas a descrença não é uma opção se for igualmente fanática e fundamentalista. A luta, portanto, não é contra uma religião, uma crença ou uma instituição que as representam, mas contra a doença da obsessão cujo sintoma são o fanatismo e o fundamentalismo.
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