terça-feira, 10 de outubro de 2023

Liber de Occulta Confusionis

Oh, por quantos caminhos eu trilhei, por quantos sistemas religiosos e esotéricos eu perambulei, só minha sombra sabe.

Imitação, tudo é imitação, não há um único original.

Eu mesmo formei meu próprio grimório, meu próprio livro da lei e meu próprio texto sagrado.

Agora no alto de minha experiência e maturidade, o que eu vejo em volta são conflitos de egos, títulos vazios e cultos de personalidade, arrebanhando crianças em sua volta e fazendo do Conhecimento Antigo uma ridícula farsa comercial.

Em algo eu devo reconhecer no descrente: eles são criativos e fizeram várias sátiras religiosas, como o Pastafarianismo, a Igreja do Subgênio, a Igreja do Unicórnio Rosado Invisível. Pena que algumas sátiras de religião acabaram se tomaram a sério, como o Jediísmo e o Satanismo.

Mas eu estou adiantando a narrativa. Vamos começar do começo.

Eu comecei minha jornada no colegial, depois que o conhecimento secular finalmente atingiu uma espinha. Ao contrário de muitos cristãos [seja qual for sua vertente] eu li a bíblia para entender a diferença entre o conhecimento secular e o conhecimento bíblico. Ao contrario de muitos cristãos [seja qual for a vertente] os fatos estavam contra a bíblia e este livro sagrado foi descartado como fonte de conhecimento confiável e por um bom tempo eu fui ateu.

No entanto, ao contrário dos descrentes, eu não aceitava simplesmente as soluções ou explicações científicas. Quando eu era pequeno eu desenvolvi um interesse e curiosidade sobre o mundo espiritual, praticamente depois que meus primos e meu irmão tentaram me apavorar contando histórias de fantasmas ou me deixando de fora da “brincadeira do copo”. O que eu mais gostava eram histórias de terror e eu queria saber mais da história dos monstros, de preferência contada por eles.

Ainda que de forma velada, a bíblia conta de práticas e crenças que são definidas por bruxaria. Isso me levou a pesquisar sobre as crenças e religiões dos povos antigos. Ali começou minha jornada, em busca de minhas origens, de minhas raízes, de minha identidade.

Eu também estava em busca de aceitação, reconhecimento ou de pessoas que pensassem como eu, pois o que mais se tem nessa sociedade cristã é violência, segregação, preconceito, intolerância, ódio. Por um bom tempo eu estudei a história do Cristianismo para me livrar de vez dessa crença imposta.

Quando eu estive no fundo do poço, quem esteve do meu lado foram entidades que, para a concepção cristã, eram demônios e o Diabo. Então eu também fui satanista, por um bom tempo, até perceber que isto estava mais para uma paródia do que um sistema coerente ou original.

Sim, a internet. Eu comecei a “navegar” em 2001, nos quiosques do correio, no espaço que existia [gratuito] no Banco do Brasil [centro de SP] ou nos espaços cedidos pela Prefeitura. Ali eu consegui organizar e publicar meus escritos. Ali eu comecei a organizar e construir minhas páginas virtuais. Ali eu tive os primeiros contatos com grupos de todo o tipo: ateus, bruxos, satanistas. Tudo e qualquer coisa que desafiasse, que contestasse a Igreja, eu estava interessado.

Em 2002 e 2003 eu comecei a me interessar pelo Satanismo [La Vey] simplesmente porque muitas coisas que ele escreveu combinavam com o que eu havia escrito dos 18 aos meus 21 anos, uma obra que eu defino como minha catarse, o início de minha cura interior.

Esses trechos, tirados de outros textos meus, resumem a minha jornada, o meu caminho, até hoje.

Eu não devo estar dizendo coisa alguma de novidade quando eu digo que Satanismo é uma sátira religiosa que se levou a sério demais, o Satanismo é uma mera válvula de escape, uma armadilha pueril, que serve apenas para mentalidades imaturas. Assim como inúmeros outros fundadores de um sistema religioso, Anton Szandor Lavey foi um enorme charlatão que plagiou porcamente diversos sistemas mágicos, esotéricos e ocultistas. Em termos ritualísticos e filosóficos, o Satanismo não sustenta a si mesmo.

Eu vou me arriscar e dizer que a Wicca também tem mais furos e lapsos que, somente por um “salto de fé” [frase que o ateu usa muito] para levar a sério diversas de suas afirmações. Ainda causa muito incômodo entre os estudiosos e praticantes wiccanos a forte presença de Aleister Crowley, praticamente o “tio” da Wicca. Gerald Gardner, o fundador da Wicca, tinha mais vínculos com a franco-maçonaria do que com a Bruxaria Tradicional e a narrativa de sua “iniciação” tem tantas contradições que tornam os wiccanos tão crédulos quanto os cristãos são crédulos quanto ao “nascimento” de Cristo. Pouco se fala publicamente que o termo “gardneriano” foi cunhado por Robert Cochrane como um título pejorativo, em meio a uma disputa entre a Wicca e a Bruxaria Tradicional Moderna. Pouco se fala que Doreen Valiente, a “mãe” da Wicca, rompeu com Gardner por que ele não seguia as próprias “regras” que ele dizia pertencer ao Ofício. Pouco se fala que a “tradição alexandrina” começou quando uma pregressa de 1* de algum coven gardneriano “iniciou” Alex Sanders, quando apenas alguém de 3* pode fazê-lo. Pouco se fala das “iniciações” por telefone, por guardanapo de papel e os inomináveis “diplomas” que eram expedidos para “provar” a linhagem de pessoas sem bona fides a troco de dinheiro. Como se isso não bastasse, a Wicca “americanizou” e se tornou uma verdadeira “loja de conveniência”, de tal forma que é impossível sustentar mais a linhagem e a tradição, diante de tantas “tradições” de fundo de quintal e de tantos “sacerdotes” autoproclamados. Se a Wicca é a única religião legitimamente britânica, as “religiões da Deusa” e o Dianismo são religiões legitimamente americanas, no pior sentido possível.

Depois que o [autoproclamado] sacerdote diânico Claudiney Prieto, apesar de seus inúmeros textos atacando os princípios da Wicca Tradicional, foi aceito, treinado e iniciado em um coven com uma legitima linhagem Gardneriana, eu desisti de procurar e pleitear pelo meu treinamento e iniciação. Depois que eu fui feito de palhaço e fantoche por uma pessoa que se diz bruxa legítima, uma pessoa que traiu minha amizade, confiança e dedicação, eu parei de escrever minha jornada espiritual. Eu não estou afirmando que eu sou inocente, só minha sombra sabe o quanto eu contribui para minha péssima reputação e situação dentro do Ofício. Felizmente o Conhecimento Antigo está disponível na internet, o Caminho está diante de nossos olhos, os meus ancestrais continuam comigo e os Deuses Antigos estão ao alcance de todos.

Texto resgatado com Wayback Machine.

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