Estamos no século XXI, mas ainda mantemos velhos e surrados preconceitos que vieram de outros séculos. Quando a Imprensa e seus lacaios bem pagos abusam de um fato para defender a “liberdade de expressão”, onde não cabem o preconceito e o estereótipo, estamos revivendo a histeria coletiva que vitimou milhões de inocentes nos séculos anteriores, vítimas do Colonialismo Ocidental, vítimas da Tirania da Igreja.
Quando aconteceu o atentado de 11 de setembro não faltaram denuncias de que o seu pretenso autor o estava fazendo por ordem da CIA. Caiu no esquecimento que eram falsas as denúncias de que o Iraque fabricava armas de destruição em massa, o motivo estapafúrdio usado pelos EUA e Inglaterra para darem um golpe de Estado em outro país. Nos dois casos, a única intenção não era a questão humanitária, nem justiça, mas apenas acesso ao tão cobiçado petróleo.
Evidentemente, alguém ganha alguma coisa ao colocar o alvo em um povo, uma cultura, uma etnia, uma religião, um país. Na Europa, a xenofobia e ações contra imigrantes são apenas os efeitos imediatos do crescimento da extrema-direita. Estes, assim que tiverem o poder, vão cuidar de atingir outros grupos e minorias que não se adequam à sua visão de mundo ocidental, cristão e conservador de direita.
A Liberdade de Expressão não é uma licença ou permissão absoluta. Preconceito e estereótipos nunca foram humor. Em plena Era da Informação, ainda tropeçamos na Ditadura da Mediocridade. Nunca foi tão fácil escolher um bode expiatório para expurgar os nossos problemas. Os problemas tendem a permanecer por que não eliminamos as causas, apenas atiramos a pedra no alvo escolhido pelos poderosos.
Eu vou comentar o texto por Reinaldo Azevedo, em sua coluna publicada na Veja.
Há muito tempo, de reforma em reforma, o catolicismo entendeu que não é nem pode ser estado.
Pelo visto, Reinaldo Azevedo não leu as últimas notícias nem se recorda dos descalabros cometidos pela ICAR e CNBB, onde o prelado espiritual da Igreja é alavancado como autoridade internacional para assuntos de Estado [como políticas de planejamento familiar, uso de anticoncepcionais, casamento homossexual, aborto, etc].
Em que país do mundo o cristianismo, ainda que por intermédio de seitas, se impõe pela violência e pelo terror? Em que parte da terra a Bíblia é usada como pretexto para matar, para massacrar, para… governar?
Eu recomendo que Reinaldo Azevedo leia a História do Ocidente a partir do momento em que o Império Romano instituiu o Cristianismo como a única religião oficial. Destruição de estátuas, templos, bibliotecas, perseguição, tortura, genocídio. Reinos e povos sofreram com inúmeras guerras, sem falarmos nas Cruzadas, na Inquisição, na Colonização e no Imperialismo que ainda assolam o mundo.
É claro que um crente dessa religião tem todo o direito de se ofender quando alguém desenha a imagem do “Profeta” — assim como me ofendo quando alguém sugere que Maria não passava de uma vadia, que inventou a história de um anjo para disfarçar uma corneada no marido. Ocorre que eu não mato ninguém por isso!
Reinaldo Azevedo esqueceu de casos atuais de cristãos [evangélicos] que mataram outras pessoas simplesmente por terem outra religião.
Ocorre que não existem líderes da minha religião que excitam o ódio por isso. Se um delinquente islâmico queima uma Bíblia, ninguém explode uma bomba numa estação de trem.
Reinaldo Azevedo esqueceu de Fred Phelps e a Igreja Batista de Westboro, dos EUA.
Podemos incluir diversos atentados a bomba, cometidos por americanos, em solo americano, a maioria cometida pela influência de algum líder religioso cristão.
O atentado cometido por muçulmanos somente chamam atenção por que são vistos como “invasores”, “estrangeiros”, “não-ocidentais”, “fanáticos”. Quando o ato é cometido por um extremista cristão, como Andres Behring Breivik, disseram que ele sofria de psicose. Reinaldo Azevedo pode fazer de conta que nada disso existe ou é real, mas cristãos também matam, cometem crimes e terrorismo.
Nas causas do extremismo e fanatismo muçulmano, podemos colocar a culpa na partilha do Império Otomano feita pelo Ocidente. Onde há muita miséria, fome, ignorância e falta de cultura, haverá condições para oportunistas captarem a indignação e revolta dos excluídos para fins próprios.
Eu lamento que cartunistas foram mortos, mas a liberdade de expressão, o humor, não precisa de mártires. Mas transformar as vítimas em heróis, omitindo que disseminaram preconceitos e estereótipos baixos e vulgares, nos colocamos ao lado do mesmo discurso que propaga o racismo, a misoginia e a homofobia.
Não se combate o preconceito, a intolerância, o fanatismo, o fundamentalismo, a exclusão com esse discurso à lá Rafinha Barros. Vencemos estas coisas com educação, tolerância, diálogo, respeito.
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