sábado, 19 de maio de 2012

A voz do dono - Ofício

Livros sobre e a respeito do Ofício [aka Bruxaria] começaram a surgir, evidente, quando estas práticas tornaram-se um problema e da "problematização" surgiu o discurso oficial e oficioso, tanto por parte de quem detinha o poder religioso - a Igreja, quanto de quem almejava o poder acadêmico.
Aqui eu remeto a dois livros que definem a aparição [eu prefiro dizer reavivamento] da Bruxaria como resultado do Movimento Romântico, a "História da Bruxaria" e "Triumph of the Moon". Mas mesmo esse movimento tem suas raízes e circunstancias históricas, podemos até dizer releitura, do discurso oficial e oficioso sobre e a respeito de Bruxaria que apareceram na opcasião de sua "problematização", entre os séculos XIV ao XVI. Sim, não há engano, este foi a época da Inquisição, conduzida não apenas pela Igreja, mas pelo Estado e, por que não dizer, pela Academia, como é possivel ver em "Pensando com Demônios", muitas "fogueiras" foram alimentadas, justificadas e explicadas por pessoas supostamente cultas, bem-informadas, "científicas", "racionais". Tudo para conquistar e manter o monopólio do conhecimento, da sabedoria, da medicina, pelo que se percebe em "Bruxaria e História" e mesmo em "Imaginário e Magia".
Quando o "problema" deixou de ser problema ou saiu do foco de atenção, da "problematização" humana, este continou a existir no folclore, na "superstição", no meio do povo "inculto e ignorante" das regiões rurais. Quando o "problema" deixa de ser problema, passa a ser diletantismo, fantasia, ilusão, coisa de artista desocupado. O dito Movimento Romantico tornou-se profícuo em explorar aspectos dessas crenças "selvagens" graças ao Colonialismo e Imperialismo [especialmente o britânico], o contato com outros povos e suas crenças aborígenes reascendeu o interesse da Academia por suas próprias origens e raízes. Com o nacionalismo e o patriotismo em alta, começa-se as pias fraudes por parte de estudiosos, cientistas, acadêmicos, pessoas supostamente cultas, bem-informadas, "científicas", "racionais", tentando resgatar aquilo que a própria Academia havia ajudado a queimar em holocauso ao Deus Cristão.
Eis que surge o Neopaganismo, com suas vertentes, algumas bem intencionadas, outras nem tanto. Isso não tira o mérito desse revivalismo, nem refuta suas raízes históricas e antropológicas, a despeito do Movimento Romantico, essas crenças e práticas antigas ainda subexistem e os muitos sistemas religiosos que surgiram disso tem, então, suas bases. Destaco, entre os movimentos contemporâneos, a Bruxaria Tradicional e a Wica, assuntos deste escritor e deste blog. Há que se distinguir esses movimenttos do neopaganismo popularizado e da neo-wicca, como pode-se ver em "As origens americanas da neo-wicca". Há que se distinguir o caminho sério, honesto, dedicado e sacerdotal das empulhações, fraudes e delírios como este escritor denunciou anteriormente em "Os frutos do desespero" ou no "Editorial de Esclarecimento".
Eu tenho visto ser reacendido a "fogueira" contra a "superstição", a "crendice", eu vejo constantemente a religião ser generalizada e jogada no mesmo balaio onde está a instituição da Igreja Católica. Desnecessário repetir que, sem esse aspecto da religião, nossos antepassados não teriam construído a civilização contemporânea. A humanidade possui um conjunto chamado de "cultura" e qualquer aspecto dessa cultura quando é reduzida ou erradicada, deixamos de lado nossa humanidade. Eu geralmente apoio as iniciativas dos ateus, mas tendo em vista algumas manifestações recentes, terroristas, fanáticas, fundamentalistas, obscurantistas, anti-culturais, anti-religiosas, eu temo que vejamos em breve uma Nova Inquisição.

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