terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O paradoxo de Epicuro

Causa-me risos ver Cristãos tentando [inútilmente] refutar os pensadores antigos, especialmente quando o pensamento desafia a doutrina limitada do Cristianismo.

O paradoxo de Epicuro diz:

Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente.
É capaz, mas não deseja? Então é malevolente.
É capaz e deseja? Então por que o mal existe?
Não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus?

Então, um cristão [católico], cita parcialmente a coluna de Hélio Schwartsman que diz:

Com efeito, a contradição entre a ideia de um bem absoluto e o mal visível é conhecida desde a Antiguidade. Atribui-se a Epicuro o seguinte dilema: Se Deus é bom e onipotente, não poderia haver mal sobre a Terra; havendo, ou Deus não quer acabar com o mal --e não é benevolente-- ou não pode fazê-lo --e não é onipotente. (Poderíamos, é verdade, reduzir o dilema a um problema de linguagem e, portanto, a um falso paradoxo: a questão é insolúvel porque foi mal formulada; não posso exigir nem de um Ser Supremo que aja contraditoriamente. Mas, com essa interpretação, perderíamos toda a graça do debate metafísico).

Helio Schwartsman não deve ter entendido o paradoxo de Epicuro, pois um paradoxo não é um dilema e a questão não é de linguagem, mas de ética. Mas como o paradoxo incomoda aos Cristãos, tenta-se desviar do paradoxo, reduzindo-o à uma questão mal formulada e, portanto, insolúvel. Não procuram responder porque sabem que isto os levaria a questionar a base ética do Deus Cristão e é insolúvel porque o Deus Cristão é amoral.

E o cristão [católico] comemora uma falsa vitória:

[O texto de Schwartsman] Só queria apontar que (a) Epicuro é um falso paradoxo, como o próprio articulista comenta; (b) o mal não é uma “aparência”, e sim uma ausência; e (c) é interessantíssimo que o articulista reconheça que o acaso, “a ausência de propósito”, são insuportáveis ao ser humano.

Que foi derrubada com um único comentário:

A despeito do esforço do articulista, o paradoxo de Epicuro resiste.
Se o problema do mal é ausência, permanece o paradoxo, pois se teu Deus é onipotente e onipresente, como pode haver ausência?

O paradoxo de Epicuro é um desafio aos teístas, não porque questiona o problema do mal - fato, ação, circunstãncia - mas porque questiona a presunção das crenças humanas ao atribuir a um (ou mais) Deus(es) a Bondade, a Justiça, a Onipotência, a Onipresença e a Onisciência. Este era o cerne da questão quando Epicuro escreveu seus pensamentos, uma época em que as cidades-estado da Grécia Antiga concentravam o poder político, econômico e religioso; uma época quando o Politeísmo começava a se transformar em Monoteísmo; uma época onde começava a ter uma religião de Estado, uma religião nacional.

Nesta Era dos Impérios, uma transformação se operava no espírito humano, mas ainda assim se buscava um respaldo, uma base, uma consagração na Religião Antiga. Uma vez consolidada a transformação, a organização social e política na Idade Antiga foi determinada pela religião de Estado, pela religião nacional, pela religião do Império.

Com o colapso do Império Romano, a organização política ficou com os Bárbaros e a estrutura religiosa do Império ficou com a Igreja. Assim como os reis bárbaros haviam assimilado a cultura romana, os sacerdotes cristãos haviam assimilado a filosofia grega. Assim como os reis bárbaros usaram o poder militar dos romanos, os sacerdotes cristãos usaram o poder da retórica grega.

A Idade Média foi uma época de estagnação na filosofia. Mesmo os pensadores apologéticos, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, não se aprofundaram nas questões filosóficas, apenas repetiam ou citavam os pensamentos de Aristóteles. A Igreja nunca consegui refutar completamente os trabalhos de Epicuro, Celsus, Juliano e outros.

O paradoxo deixa de ser um desafio simplesmente refutando a premissa de que um (ou mais) Deus(es) deve(m) ser bom(ns), justo(s), onipotente(s), onipresente(s) e onisciente(s). Na concepção dos povos antigos, conservada nos mitos, os Deuses demonstravam ter um comportamento assombrosamente humano. Mesmo os Deuses seguiam determinados padrões de ética e moral.

Nos dias atuais, a humanidade vê sacerdotes de uma religião majoritária dar mais importância às doutrinas de suas crenças do que aos valores humanos. Diante disso, é necessário retomar os questionamentos, contestar, resistir e, por fim, apostatar. Está na hora da humanidade acabar com a tirania da Igreja. Está na hora do ser humano retomar o domínio de sua vida.

PS: há que se anotar que o "Paradoxo de Epicuro" não é de autoria do mesmo, foi-lhe atribuído por Lactâncio.

6 comentários:

amigo_blogger_2010 disse...

O paradoxo de epícuro pode ser derrubado pela seguinte argumentação: Deus é sim onipotente, onisciente e onipresente. Mas então pergunta-se: porque ele não impede o mal? porque o mal é ausência de Deus. Donde vem outra pergunta: mas se Deus é onipresente, pode haver algo que não seja Deus? Não porque Deus não pode ser paradoxo. Não pode contradizer ele mesmo. Deus é perfeição e paradoxos são imperfeitos. Um exemplo simples é perguntar se Deus poderia ser um círculo quadrado. Óbvio que não, pois círculos têm características próprias de círculos e quadrados de quadrados. Nenhuma imperfeição vem de Deus. Temos dois tipos de sofrimentos que afligem o homem. O causado pelo pecado do homem e as fatalidades da vida, como doenças e perdas. No primeiro caso, se
Deus interviesse estaria se contradizendo, pois fez os homens livres para o amarem e decidirem por isso livremente. No segundo caso, o sofrimento que o homem passa na terra é consequência de sua desobediência, no início dos tempos. Em nada comparada ao sofrimento que o próprio Deus passou para nos redimir e tornar possível nos unirmos a Ele novamente. Cabe aqui lembrar um outro ponto. Deus não é apenas amoroso e misericordioso. Deus é exigente e o pode ser simplesmente por ser Deus. Ter criado tudo que conhecemos e nos ter dado o bem mais valioso que é a vida. Por isso tudo que este pradoxo já caiu há tempos com Santo Agostinho e, anteriormente, com São Thomás de Aquino.
Abraços e a paz de Cristo.

betoquintas disse...

Paradoxo é o sr acreditar que elaborou uma resposta coerente.
Gente, sério, eu desisto de tentar entender os Cristãos.
Pagãos, bruxos e wicanos não podem ter este privilégio de ser tão alienado assim. };)

Unknown disse...

Cara... círculos, quadrados? Q isso? Doenças e tristezas pra aquele q anda na desobediência? PQP! E quanto a Jó? Sério, sua resposta tá cheia de palavras, mas nenhuma coerência entre elas.

Unknown disse...

Beto, eu não teria respondido melhor q vc...

Munir Bazzi disse...

"Deus é onipresente...o mal é ausência de Deus". De uma contradição qualquer coisa se segue, e será de qualquer modo inválida.

Divina disse...

Como já disseram, o comentário está cheio de palavras e vazio de argumentos, mas vou destacar só um trecho para exemplificar parte do absurdo de tantas palavras inúteis: "fez os homens livres para o amarem e decidirem por isso livremente". Um deus tão perfeito não faria seres inferiores com o objetivo de ser amado, isso é coisa de um ser megalomaníaco e, até onde eu sei, megalomania não é uma característica que se possa combinar com perfeição. Decidirem por isso livremente? Essa coisa de "decidir livremente" que é extremamente comum nos discursos teístas é de doer de absurda! Como assim livremente se temos que amá-lo para que ele não nos envie para o inferno por toda a eternidade a fim de satisfazer o sadismo de teístas como Tomás de Aquino que dizia que um dos prazeres do paraíso seria assistir o sofrimento dos ateus no inferno? Acabou, se só esse trecho tem tanto absurdo, e tive que escrever tanto, precisaria de muitas páginas para destacar cada um de todos os outros muitos que estão aí.