O local do culto de Helena pelas virgens espartanas era, certamente, uma ilhota no rio Eurotas. Localizada próximo ao santuário de Artemis Ortia, essa zona pantanosa, lugar de divisão era chamada de Platanistas, por causa das árvores de plátano que, antigamente, a sombreavam.[pg 104]
Os rituais deviam ser intensos, frenéticos, palpitantes de energia juvenil. Dançavam duarnte as horas de escuridão, faziam uma pausa e voltavam pouco antes da aurora para prosseguir. Havia luzes de tochas, bebidas e banquetes suntuosos.[pg 104]
Esses ritos de orgia exclusivamente femininos foram imortalizados pelo poeta espartano Alcman. No século VII AC Alcman escreveu as Partênia, odes corais que grupos de meninas praticavam em segredo e depois cantavam nas competições de coros ou de ginástica. Essas Partênia eram parte central da educação das jovens espartanas, aprendidas e executadas pelas sucessivas gerações.[pg 105]
No século III AC, os greco-macedônios Ptolomeus, que controlavam a efervescente corte em Alexandria, patrocinavam numerosos poetas. Um deles, Teócrito, escreveu com ternura sobre a rainha espartana. Em seu Epitalâmio para Helena ele descreve as moças espartanas, prestes a atingir a maturidade sexual, reproduzindo o momento em que a jovem Helena se casou. Essas canções nupciais passaram a ser, por sua vez, cantadas pelas jovens espartanas nas vésperas de seus próprios casamentos.[pg 137]
No prosseguimento do poema, as virgens encharcam de azeite de oliva o solo em torno de uma árvore sagrada e gravam em sua casca o nome de Helena.[pg 138]
A idéia de epifania, literalmente a "revelação" de um espírito divino, é a essência da prática religiosa tanto em Creta quanto no continente. Na Grécia micenense, os espíritos divinos ferquentemente preferiam "revelar-se" às mulheres das classes elevadas.[pg 165-166]
Quando as mulheres de Micenas dançavam, ou sacudiam as árvores, ou deixavam-se cair sobre os altares, as divindades se materializavam no céu em forma de pombas ou estrelas cadentes.[pg 166]
Entalhes de marfim, afrescos e anéis de ouro mostram que, pelo menos em ocasiões especiais, como comemorações cívicas ou rituais religiosos, as mulheres da ristocracia tinham os seios nus ou cobertos com um tecido muito fino de seda ou linho e não há motivo para imaginar que uma rainha espartana se vestisse de maneira diferente.[pg 173]
Fossem ou não sexualizados, os seios femininos eram com certeza idolatrados na Idade do Bronze. As mulheres da fase tardia aparecem com os seios nus durante os rituais que envolviam árvores e plantas, numa clara associação da figura feminina madura com a celebração da fertilidade e da procriação.[pg 173]
Os indícios materiais sobre a religião na pré-história são limitados e qualquer descrição genérica do culto terá de conter uma parte de análise e duas de especulação.[pg 433]
O problema é que quando o contexto arqueológico é relativamente escasso, os indícios podem ser manipulados para sustentar praticamente qualquer teoria.[pg 444]
Mas, na verdade, há tantas maneiras diferentes de interpretar as figuras quantas são as formas de seus corpos. Embora esse erro tenha sido cometido no passado, seria demasiadamente simplista presumir que tenham um significado constante e uniforme.[pg 444]
Quando vejo a amplitude das figuras femininas e a variedade dos contextos em que foram encontradas, o que me impressiona não são somente suas semelhanças, mas suas diferenças. Não vejo uma uma Mulher-Deusa onipotente, a equivalente pré-histórica de Allah ou Yahveh, como única titular da devoção da Idade da Pedra. Para mim é um erro projetar no passado distante nossa visão monoteísta do mundo.[pg 448]
Grande parte do mundo do Mediterrâneo oriental na Idade do Bronze era animista, acreditava na existência de uma abundância de animae, de forças vitais, em forma de espírito.[pg 449]
No mundo antigo, a linguagem usada para designar a abundância da natureza era altamente passional e abertamente sexualizada. Acreditava-se que a agricultura fosse filha do amor do hiero gamos, a sagrada união entre o céu e a terra. O desejo de fertilidade e o desejo sexual estavam intimamente ligados. Grande parte da adoração tributada a Helena é adequada ao culto de algum tipo de divindade da natureza. A iconografia da Idade do Bronze sugere que a alta sacerdotisa e seus acólitos tinham o dever de convocar todos os recursos a fim de manter a terra fecunda e produtiva.[pg 449]
Trechos coletados e montados a partir do livro "Helena de Tróia", de Bettany Hughes.
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