No entanto, há outros concelhos como Vinhais, Bragança e Macedo de Cavaleiros, igualmente procurados pelos apreciadores do turismo cultural e mitológico. Recorde-se que, por serem de origem pagã, o clero tentou proibir algumas das tradições ao longo dos séculos, mas continuaram a resistir dada a vontade popular em preservá-las.
Assim, na década de 70 do século passado, estas festividades renasceram e algumas delas ganharam, mesmo, maior dimensão.
O Período dos 12 dias (como é designado pelos investigadores), desde o dia de Natal aos Reis, é a época alta para as festividades do Solstício de Inverno e quando Chocalheiros, Carochos, Sécias, Velhos, Farandulos, mascarados e vestidos com trajos espampanantes e por vezes de aspecto “demoníaco” saem à rua com alaridos e trejeitos próprios, trazendo às aldeias da região transmontana momentos únicos de alegria e diversão.
A viagem ao universo destas figuras pode tornar-se inesquecível, sendo que para uns são assustadoras e para outros, apenas, rituais de iniciação e fertilidade. Cheias de simbolismo e interesse cultural, é comum ver por estas paragens, historiadores, antropólogos e turistas, que são cada vez mais arrastados pela curiosidade proporcionada por estes mascarados.
Planalto Mirandês é rico em tradições pagãs
Faça frio ou sol, novos e velhos ainda dão continuidade à tradição, como em Vale de Porco, no concelho de Mogadouro, onde o Chocalheiro ou Velho é representado por um moço que, vestido com um fato de serapilheira e uma máscara tauromórfica esculpida em madeira e com chocalhos à cintura, percorre as ruas da aldeia no dia de Consoada, numa autêntica algazarra no intuito de recolher esmola em beneficio da igreja, cujo culto pertence ao Menino Deus e Senhora da Conceição.
“Como cada terra tem seu uso”, o percurso continua por outros locais, sendo que o difícil é assistir a duas celebrações no mesmo dia. Assim, outra das sugestões passa pelo Chocalheiro de Bemposta que, com o simbolismo da sua máscara, torna-se numa das mais emblemáticas figuras do Planalto Mirandês a sair à rua a 1 de Janeiro.
Há muito tempo que este ritual é feito por promessa, uma vez que, pessoas no meio das aflições do dia, fazem uma promessa ao Menino Deus. Sendo praticamente impossível descrever a pureza desta figuras, tomamos rumo à aldeia de Bruçó, no concelho de Mogadouro, onde, na manhã do dia de Natal, dois casais saíram à rua.
Por um lado, o Soldado e a Sécia e, no outro, um par de Velhos, todos mascarados e vestidos a preceito. Já na rua, as personagens ganham vida própria e os mascarados iniciam funções: Sécia, protegida pelo Soldado, é uma mulher mundana, “de vida fácil”, que, ao longo do trajecto, é assediada pelos rapazes com mais coragem, enquanto o valente Soldado atira umas valentes “ cinturadas” a quem dela se aproximar.
Para terminar este roteiro mitológico, fica a sugestão das Festas das Morcelas ou da Mocidade, dedicadas a São João Evangelistaque têm lugar a 27 de Dezembro na aldeia de Constantim, no concelho de Miranda, e que constitui um dos exemplos mais emblemáticos destes rituais que se prolongam até ao Dia de Reis e onde os actores principais são o Carocho e a Velha.
Autor: Francisco Pinto, Jornal Nordeste, Diário de Trás dos Montes [link morto]
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