Assim como o coração cresce e se encolhe para continuar batendo, o caminho muitas vezes nega-se a si mesmo para estimular o viajante a descobrir o que existe além da próxima curva. [Sufi Hafik]
Entretanto nós fazemos algumas opções, tomamos algumas decisões que, apesar de serem pessoais, ainda assim são feitas sem saber bem o que (ou quem) se busca e o que se pretende realizar com essa busca. Costumeiramente essa busca começa por uma pergunta que nos acossa, mas nunca nos dispomos a entender por que nos perguntamos, por que nos sentimos responsáveis em encontrar uma resposta, nem por que essa resposta é tão crucial em nossa existência. Simplesmente buscamos, muitas vezes a busca se torna uma obcessão e os indícios não são vistos como objetos, mas como a verdade tão almejada. Nisso consiste a base de todo o fundamentalismo e fanatismo.
Contudo, ainda que consigamos conquistar o alvo de nossa busca, parece que nunca será o suficiente. Nos movemos, de conquistas em conquistas, de objetivos em objetivos, de buscas em buscas e acabamos como o rei Clóvis: queimamos o que adorávamos e adoramos o que havíamos queimado. Seguimos adiante, sem saber para onde, sem saber o por quê, sem saber como. De tempos em tempos, nos pegamos no meio de lugar nenhum, sem entender como fomos parar lá ou o que estamos fazendo ali. Nós somos insaciáveis, não sabemos do que temos fome, não sabemos como nos satisfazer e geralmente em nossa busca ansiamos em conquistar as mesmas coisas que os mais afortunados têm, desprezando ou negligenciando aquilo que nós temos que é desejado pelos menos afortunados.
Nós complicamos tanto essas buscas banais, complicamos ainda mais quando lidamos com buscas espirituais. De início, nós temos um grande complexo quanto à nossa condição e existência natural, não sabemos como encarar nossa espécie: o ápice da evolução cujo comportamento deixa a desejar ou uma criação rejeitada (caída) cuja virtude é omitida. No primeiro caso, buscamos por um desenvolvimento sustentável; no segundo, buscamos pela redenção (purificação) de nossas almas. Em ambos os casos, perdemos tempo com discursos e desperdiçamos oportunidade com elocubrações.
O foco excessivo no sistema acaba gerando ou aumentando mais a nossa obcessão, a nossa enfermidade, a resposta se torna um problema cuja solução nos lança a mais uma busca.
No que tange a este peregrino que está no caminho entre o Bosque Sagrado, eu estou cansado de ver os Mistérios Antigos serem deturpados, eu estou cansado de ouvir queixas de neopagãos (que são muitas), eu estou cansado de ser perseguido e apedrejado por quem diz ser meu irmão, eu estou cansado de ver bruxos e bruxas com recalques sexuais, eu estou cansado de ver a Bruxaria e a Wica ser caiada. Eu devo parar de olhar para as pedras que estão no caminho por um propósito e olhar mais para a magnífica beleza no imenso horizonte. Eu devo me concentrar na minha busca que é encontrar a Deusa e entrar em seus mistérios, para a mim mesmo encontrar e renascer na primavera.
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