A Wica, no Brasil, começou bem tarde, lá por volta dos anos 70, do século XX. Quando a Wica 'desembarcou' em nossas terras, veio pelas mãos de pessoas interessadas em Ocultismo e Magia, trazendo para cá a vertente 'Americanizada' da Wica. Por isso que é comum ver indivíduos pavoneando seu conhecimento ou cargo na religião para 'vender' idéias e práticas que nada têm a ver com a Wica.
Mas, enfim, qual é a origem da Wica? Ao contrário do que se afirma por aí, a Wica é um resgate da Religião Antiga praticada na Europa, resgate feito graças ao trabalho de Gerald Gardner. Para esse resgate, Gerald Gardner reuniu diversas fontes da cultura Celta, mas isso não significa que a Wica seja uma 'religião Celta', nem tampouco uma 'religião que remonta desde o Neolítico', sequer que seja a 'religião das Bruxas' e muitíssimo menos a 'religião da Deusa'.
Uma pessoa pode dar um pulo aqui e pensar: 'ahá, então ele inventou a Wica'. Isso é uma simplificação e uma generalização monstruosa. Como todo conhecimento e credo humano, a Wica é formada por diversas fontes e reúne diversos recursos para constituir-se como uma estrutura religiosa. Todas as demais religiões devem muito a outras fontes culturais: o Judaísmo não seria o mesmo hoje sem ter assimilado a religião Persa; o Budismo não seria o mesmo hoje sem ter assimilado o Xamanismo; o Islamismo não teria sobrevivido se descartasse sua herança Caldéia e certamente o Cristianismo não seria um fenômeno mundial sem seu alicerce nos mitos Pagãos.
A Wica, por definição, é uma religião de revelação pela experiência, mas mesmo essa experimentação segue um modelo, uma metodologia, que requer o mesmo rigor que a metodologia científica. Esse modelo vem do que nos é ensinado por quem já experimentou e testou uma forma de magia, este modelo se chama Tradição e a sequência daqueles que nos precederam se chama Linhagem. Quando esse modelo não segue tais pré-requisitos, pode ser qualquer outra coisa que não Wica; infelizmente é o que acontece no Brasil e a Wica 'Progressiva' divulgada por auto-proclamados sacerdotes.
Aqui eu não quero avaliar ou censurar os caminhos optados, apenas concerne a cada um a validade de seu caminho. Quando eu critico certas opiniões, não critico a pessoa, mas a postura em divulgar práticas que esta pessoa defende como pertencentes à Wica, quando na verdade se tratam da opinião, opção, credo ou interpretação que esta pessoa tenha sobre a Wica.
Imaginem, por um momento, que cada um carrega consigo uma ânfora que deve ser levada até o altar dos Deuses. Tudo que nós temos é uma noção da direção e muita euforia. Em algum momento, nós podemos cruzar com outra pessoa que irá tentar colocar de sua água em nossa ânfora. Em algum momento, nós podemos cruzar com um grupo que irá tentar nos fazer carregar mais ânforas, cheias com as águas que estes nos deram. Em algum momento, nós podemos cruzar com quem tente trocar ou nos roubar a ânfora.
O que poderemos dizer, para nos justificar ou nos defender se, ao chegarmos no altar dos Deuses, formos impedidos de entrar? Nossos Deuses não são ciumentos, exclusivistas ou cruéis, mas nós não podemos entrar com uma ânfora estranha, nem com líquidos estranhos, ou com mais carga do que a necessária. Nós não poderemos dizer que fomos roubados, ludibriados ou usados por outros, a responsabilidade é sempre nossa.
Antes de ouvir e concordar, cândidamente, no que um alegado sacerdote ou escritor diz, lembre-se do princípio da Wica: 'se aquilo que tu almejas alcançar não está dentro de ti mesmo, não encontrarás fora de ti'.
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