quarta-feira, 21 de agosto de 2024

O que significa ser pagão moderno

John Beckett escreveu no Patheos um texto com uma reflexão.

O título da postagem começa com uma declaração:

Ser pagão em uma era de declínio religioso.

O título levanta muitas questões.

A palavra "pagão" foi (ainda é) usada de forma pejorativa para designar as pessoas que não eram (que não são) cristãs, ou seja, que ainda mantinha a crença antiga, direcionada aos Deuses Antigos.
Basta um pouco de leitura e estudo da Era Antiga para perceber o óbvio.
Nossos ancestrais não se definiam nem se declaravam "pagãos". O significado original da palavra é "habitante do campo", ou caipira, para usar um termo em português. Para quem habitava as cidades, seus conterrâneos rurais eram vistos como atrasados e/ou incultos.
Essa pecha é o sentido que ficou, quando os cristãos "pegaram emprestado" essa palavra.

Então o Cristianismo foi imposto pelos poderosos da época (seculares e clericais), na base da espada. O crescimento e desenvolvimento da Europa deu espaço para o desenvolvimento científico e, por razões políticas e econômicas, os países europeus fizeram a expansão de seus domínios pela invasão e colonização de outras regiões. O contato com outros povos trouxe uma questão e questionamento - esses povos mantiveram por séculos a mesma crença de seus ancestrais. Mas e nós? Qual era a crença de nossos ancestrais?
A Renascença reencontrou e reavaliou os mitos antigos. Em muitos países, a identidade social e nacional estavam intrinsecamente conectados com essa conexão com os povos antigos e as crenças originais.
Então, movido por uma idealização romântica sobre essa "identidade" étnica, surgiram os grupos de reconstrução cultural, que tem usado a palavra "pagão" e Paganismo de uma forma positiva e favorável. Em muitos casos, isso resultou em idéias políticas equivocadas sobre superioridade e até racismo.
Esse é um espinho a ser tirado do Paganismo Moderno - a péssima associação com a extrema direita, fascismo e nazismo.

O ateu fala bastante, sobre o "declínio da religião", mas de forma desonesta. Outra palavra que tem muitos significados e conceitos é "religião". Para o ateu (e curiosamente pelo cristão), religião é compreendida apenas o Cristianismo e as organizações religiosas que pertencem à esse sistema de crenças.
As pessoas estão evitando estarem associadas à religião exatamente por isso. Não querem estar envolvidas ou associadas à organizações que só demonstram atraso, preconceito e intolerância.
Então preferem usar o termo "espiritualidade", um termo igualmente utilizado até por ateus quando falam de suas crenças. Pois é, muitos ateus, famosos, celebridades, afirmam terem uma espiritualidade.
Eu escrevi em algum lugar aqui sobre a "ginástica mental" que o humano faz para se dar algum sentido 😏🤭.

Eu vou citar os pontos principais dados pelo John;

Paganismo como quem você é – uma parte da Natureza.

Isso é evidente, mas é necessário superar o antropocentrismo. Isso inclui preservar a natureza. A questão do ambiente mostra cada vez mais a necessidade de alterarmos nossa economia e produção.

Paganismo como aquilo que você faz – prática espiritual.

Esse é um ponto sensível. Não temos uma ortodoxia, mas uma ortopraxia. Cada grupo organizou uma forma de sacerdócio, soberano e autônomo. Mas a falta de um controle geral ou central dá um espaço enorme para a ação de farsantes, vigaristas e charlatões.

Paganismo como o que você faz – construa um mundo melhor aqui e agora.

Essa é uma parte que toca na política e na sociedade. Influência talvez do Humanismo renascentista. O conceito de vida além tem muitas variações, afinal, somos diversos.

Paganismo como quem você é – construindo relacionamentos e comunidade.

Essa é a parte mais difícil e complicada. O que não faltam são textos que mostram a relação de amor e ódio que eu provoco na comunidade do Paganismo Moderno.

Eu acrescento outras considerações.
Nossos ancestrais viam os Deuses na natureza. Os fenômenos da natureza eram uma manifestação de um Deus ou Deusa. Mas o divino estava além da natureza. Hoje nós usamos a ideia de imanência e transcendência para falar dos Deuses.
Apesar disso, nossos ancestrais não eram exatamente ecológicos. Faziam sacrifício animal e devastaram florestas.
Temos a escravidão e a misoginia que têm origem na Antiguidade.
Mas apesar de tudo, toda nossa cultura vem dos povos antigos. E certamente havia mais alegria e felicidade.
Um mundo melhor para tod@s é possível. Começa com resgatar nossas verdadeiras raízes, origens e crenças.

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