Muitos têm se manifestado em defesa do sr Ratzinger, tentando explicar a declaração que ele deu e que causou uma comoção pública.
Eu tenho visto na Internet textos de católicos e defensores da Igreja dizendo que a Imprensa exagerou, aumentou ou inventou que o sr Ratzinger “liberou” o uso de preservativos. Então vamos aos fatos: A citação foi extraída do livro, A Luz do Mundo, publicado com entrevistas do sr Ratzinger com o repórter Peter Seewald. O trecho explorado pela Imprensa refere-se a uma questão feita pelo repórter quanto à declaração que o sr Ratzinger fez na ocasião de sua visita à África, afirmando que o preservativo não deteria o avanço do HIV no continente.
Na época, os “especialistas” da Igreja saíram em defesa do sr Ratzinger, citando “estudos científicos” que comprovavam a ineficácia do produto. Estudos que foram citados de forma distorcida, desonesta e tendenciosa. Então o Dr. Edwar Green surgiu com uma nova interpretação ao que o sr Ratzinger declarou na África, colocando o enfoque no comportamento do usuário. Neste momento eu escrevi ao Dr Green e compartilhei com ele meu desacordo com esta interpretação dada por ele, mas ele preferiu dar o “benefício da dúvida” ao sr Ratzinger.
Infelizmente nenhum repórter entrevistou o sr Ratzinger depois da infeliz declaração, mas ele teria dito o mesmo que os “especialistas” da Igreja, afirmando que o uso de preservativos não evita o contágio, sem falar qualquer coisa em relação ao comportamento.
Evidentemente a Igreja, o Vaticano e o sr Ratzinger assimilaram e assumiram a ajuda dada pelo Dr Green e passaram a usar esta desculpa esfarrapada para explicar, defender e justificar a posição da Igreja contra o uso de preservativos.
O que o Vaticano tenta ocultar da opinião pública é que o que está em questão é o poder e o controle da Igreja sobre o corpo [e a sexualidade] de seus seguidores. Para defender as doutrinas da Igreja que condena toda e qualquer forma de controle de natalidade, seja o preservativo, seja a pílula, seja o aborto, essa instituição é capaz de fazer qualquer coisa. Para a doutrina da Igreja, a concepção é sagrada e o uso de qualquer contraceptivo é um atentado contra a vontade de Deus.
Depois da polêmica, a divulgação da entrevista foi descrita pelos católicos e defensores da Igreja como sendo uma “opinião pessoal” do sr Ratzinger, não um discurso de autoridade de Bento XVI. Mas na prática, para milhões de católicos, tudo aquilo que o Papa fala deve ser ouvido e obedecido sem questionamento, por toda a humanidade. Tanto que, na época, os católicos criticaram a Lancet por ter contestado o discurso do Papa.
O fato é que na África ele condenou o uso de preservativos, não o comportamento de risco e na entrevista ele admitiu que o uso de preservativos é justificado em certos casos. O resto é fogo de artifício, um jogo com espelhos e fumaça. O sr Ratzinger se contradisse.
Como eu comentei no blog do Jorge Ferraz [acena], há algo de muito errado se, sempre que um alto signatário diz o que dá na telha, o Vaticano tem que explicar ou contradizer o que foi dito. O problema é que a classe clerical não sabe o que diz. Seja como opinião pessoal ou discurso de autoridade. Com tanta confusão pela ou por causa da Igreja, está na hora da humanidade gritar, em plenos pulmões, para o sr Ratzinger, para o Vaticano e para a Igreja: “Por que no te callas?”
Texto resgatado com Wayback Machine.
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