sexta-feira, 19 de maio de 2017

Heterogênese XIII

Eu louvo toda forma feminina dos seres, mais ainda a mulher, a fêmea humana, por ser esta a mais bela,perfeita e sensual forma feminina existente. Feitas pelas essências mais refinadas do Universo, abençoadas com charme e elegância. Ser sagrado pelo seu sexo, pois o Universo criou a distinção de sexo para que haja evolução da vida e da inteligência. Por isso foi dado à mulher um templo, de onde novas gerações terão origem e fará a humanidade uma raça inteligente, merecedora da preferência dada pelo Universo. Templo ao qual devemos sacramentar com a inebriante cópula e sacrificar, numa explosão, parte de nossa carne e energia. A mesma explosão que cria planetas, ocorre dentro do templo da mulher, escuro e profundo como a noite, poderoso e sagrado como o Universo.

Enquanto o homem é a loucura pelo poder e dominação, a mulher é a razão, a sabedoria do Reino e da soberania merecida. Por isso, é dada à mulher a propriedade, de gerar vida e de representar a morte. Sendo dado ao homem, a incumbência de causá-la, com suas guerras. Ao homem, as armas, para garantir sua liderança acima dos outros e da mulher. Ela, que lhe atribuem como portadora da morte, pelo pecado de Eva que, desarmada, vence milhões, pelos seus olhos e suas palavras. Mulher é motivo de matar, como também de exceder os limites do possível para ofertar algo a ela. Muitos ofertam sua fé, outros, riquezas, alguns mais extremados, a vida. Ela, que ergue impérios, fortalece heróis, desafia igrejas, segue seus caminhos, um passo de cada vez, como um felino caminha na noite.

Apesar de seus dotes, o Homem não será mais do que uma besta inteligente.
Terá muitas conquistas com sua ciência, mas sua sede por poder e riqueza terá prioridade, isto subverterá a ciência, para seus mesquinhos negócios. Consequentemente, grande parte do Homem permanecerá bestial e destrutivo, um ódio irracional, pior até que os animais. Pois matará e ameaçará a própria espécie. Esta é a maldição que há sobre a humanidade, fruto das suas mãos: o quanto mais a ciência avançar, maior será a bestialidade reinante na raça humana. Tudo em nome das paixões: poder e riqueza, que lhe dão enorme prazer. Esse é o tríptico pelo qual o Homem reza: poder, posse e prazer.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Quadrilátero amoroso

Quando Saturno retornou a Alba seu irmão Pontus foi prestativo e receptivo, não por saudades ou preocupação fraternal, mas para não dar chance aos boatos da corte chegarem ao ouvido de Saturno a respeito de suas ações. Para sorte de Pontus, Saturno enredava-se mais e mais nas armadilhas do Destino, Saturno estava apressado e não deu ouvidos a Pontus ou à corte dos Deuses.

- Gaia, minha amada esposa e rainha de Alba. Apronte-se pois iremos à Hélade ter com nosso irmão Urano.

- Meu coração exulta, meu amado rei. Nós poderemos rever Ceres, nossa irmã.

- Oh, sim, iremos. Aquele velhaco do Urano tem uma fortuna e tanto ao se tornar consorte da jovem e bela Ceres. E ela tem dois anos a menos que tu!

- Nós duas éramos bem pequenas quando aceitamos, eu a ti, ela a Urano.

- Sim e se não me engano você não gostou muito de que ela havia se intitulado Deusa da Terra.

- Isso foi uma bobagem. Quem quer ser Deusa do chão, do pó deste mundo, quando se é Deusa do planeta? Nesta e nas gerações vindouras será o meu o nome dado a este mundo.
- Então eu devo ficar de olho em Urano. Eu sei muito bem o que aquele velhaco pensa quando te vê por perto.

Pontus vê Saturno partir em viagem mais uma vez, mas desta vez com Gaia, o que o deixa no trono mas em uma situação precária sem ter uma Deusa que lhe confira a posição e a autoridade. Qualquer Deus poderia lhe cortar a cabeça, se clamasse pelo trono apoiado por alguma das irmãs, primas ou sobrinhas de Gaia. Os problemas de Pontus não nos interessam no momento, seguiremos a caravana de Saturno.

Foram necessárias quarenta semanas de nosso mundo para Saturno chegar até a colônia de Urano, chamada Hélade, sob os auspícios do Deus desconhecido. Povo do mundo, cheios de orgulho e vaidade, saibam que em suas origens, a Hélade e seus habitantes, que fundaram nosso pensamento e cultura, não estavam nas formosas ilhas, mas no continente, em uma região que conforme os gostos e as preferências ora chamam de Europa, ora chamam de Ásia. Tolo e fútil povo do mundo! Colocais nomes, fronteiras e divisórias mesmo onde estas coisas não existem!

Urano ficou agastado ao ver Saturno aproximando-se de suas portas, mas alegrou-se ao ver Gaia na caravana. Ele não suportava os modos graves e soturnos de Saturno e nunca seria capaz de esquecer a leveza e jovialidade de Gaia. Imediatamente fez seus servos abrirem as portas do Olimpo, sua cidade-estado, sua fortaleza e seu castelo. Instou, em seguida, a Ceres para que se aprontasse.

- Exultai, Ceres, minha rainha, pois nosso irmão Saturno e nossa irmã Gaia vieram a ter conosco.

- Alvíssaras! Eu não suporto Saturno mas eu amo minha irmã Gaia.

- Nem tudo é perfeito! Aturemos o que nos agrava e manifestemos amor a quem nos agrada!

Ceres aprontou-se alegremente para rever sua irmã, ingenuamente esquecendo das verdadeiras intenções e planos de Urano para esta visita. Saturno adentrou ao Olimpo e ficou impressionado e invejoso pelo fausto e luxo que encontrou. Franziu a testa e fechou o semblante com a chegada de Urano na sala de recepção, mas logo esqueceu-se de tudo ao ver a bela pele alva e o cacheado dourado dos cabelos de Ceres. Mesmo depois de tantos anos passados neste mundo, Ceres ainda parecia com aquela menina com quem ele brincava na infância e logo seguiram o desejo e a concupiscência.

- Pelos Deuses antigos! Minha irmã Ceres, como tu cresceste!

- Pater Saturno, Mater Gaia, sejam bem vindos em nossa humilde casa.

- Humilde? Há! Ora, vamos, Urano, orgulhe-se de ter saído de sua tenda de pele de cabra e chegado a tal palácio!

- Nosso querido irmão Saturno é muito gentil.

- Gentil e sedento! Ouvi falar que tu faz uma beberagem que rivaliza com o hidromel.
- Vinus, meu caro irmão. Venha, vamos deixar as mulheres com seus afazeres e vamos nós cuidar dos nossos.

- Urano, meu irmão, nós temos que nos unir, agora que Anu foi engolido pelas águas. Enquanto eu construía Alba, eu ouvi falar que estas florestas têm um Deus desconhecido.

- Sim, eu também ouvi tais rumores, mas nunca o vi. Dizem que ele é o Espírito deste mundo, conduz ritos selvagens, em assembléias com diversos espíritos e entidades, em círculos, no meio da floresta.

- Eu também não o vi e nós não sabemos se podemos confiar nele, qual seu poder ou qual a relação dele com nossa corte. Temos que nos garantir. Urania me disse que há um santuário além de suas paredes.

- Sim, o santuário de uma Deusa local, chamada de Pithon. Os boatos sobre a vida de Urânia vivendo como Lupina soam terríveis, mas é um verdadeiro terror o que eu ouço sobre o santuário de Pithon.

- Nós precisamos encontrar este santuário, meu irmão. Esta Deusa pode nos dar a chave do reino dos Deuses. Mas antes de traçarmos um plano, diga-me, do que é feito este vinus?
- De pequenas frutas rubiáceas que brotam de uma moita selvagem que se arrasta, se agarra e se pendura por todo lugar. Gostou do meu vinus, irmão?

Saturno deixa cair sua cumbuca, bem como seu corpo. Desacostumado, deixa-se abraçar pelos vapores do vinus e se deixa levar pelo arrebatamento do sono dos ébrios. Urano prontamente abandona seu irmão e sai em busca daquela que comprime seu coração, Gaia. Ele encontrou-a junto de Ceres, no jardins do castelo. Discretamente, chama a atenção de Gaia que, em sua curiosidade ingênua e juvenil, aproxima-se dele, deixando Ceres entretida com algumas bestas que esta havia domesticado.

- Meu irmão Urano, que bela casa tens!

- Sim, querida irmã Gaia e isto tudo pode ser teu.

- O que dizes? Eu sou esposa de Saturno e Ceres, a quem eu amo mais do que a um irmão, é a tua esposa.

- Isto pode ser acertado. Vem e vê como teu marido e rei não merece teu apreço.
Urano conduziu Gaia até o salão onde ele e Saturno conversavam e lá Gaia viu o orgulhoso, circunspecto e grave Saturno roncando, deitado em um catre, as faces rubras como os frutos usados para a fabricação do vinus.

- Eu estava tratando com ele e teu marido contou-me de seus sonhos delirantes de conquistar a chave do reino dos Deuses. Fique comigo e tudo será teu.

- Tudo? Serei eu a Deusa desse mundo? E o que será de Ceres?

A conversa torna-se íntima e não demora para que Urano conquiste seu prêmio e regozije com o butim. Povo do mundo, não se escandalize com os fatos da vida, do amor, do desejo, do prazer. Não torne o fardo de viver maior que o necessário.

domingo, 7 de maio de 2017

Apostolado profano VII

Estava ocupado com estas, forma curta e rápida de expor o ridículo dos conceitos e consciências, até então existentes, quando veio me ver um homem, em meu quarto, o que não permito senão a mulheres, sem ser convidado, sem entrar pela porta ou invadir minha privacidade pela janela.

-A paz esteja contigo.

-A paz esteja na tua casa, para que não apodreça mais pela senilidade!

-Não seja tua língua tua orientação ou acabará mordendo-a e morrendo pelo seu próprio veneno.

-Uma lâmpada é responsável por sua luz ou sua chama? Veja estas mãos. Elas são tão responsáveis quanto minha língua e não são a lâmpada, mas a chama e a luz delas te incomodam. Devo eu te dizer por que ou também conhece o conteúdo da minha lâmpada?

-Eu sou o que moldou a lâmpada, lhe pus o óleo para queimar e a acendi. Por que não me serve esta lâmpada para combater a escuridão?

-Porque a chama que lhe é agradável é muito pequena para mim. Tenho a meus cuidados a lâmpada que diz que formou, troquei o óleo por outro mais fino e raro, apesar disso a entornei e agora por inteiro se incendeia, para o desespero e tormenta das lâmpadas que lhe servem, tão conformadas e acomodadas com a débil luz que lhes permite ter.

-As chamas vão quebrar tua lâmpada, com tanto calor.

-Tanto melhor! Estarei livre de ti e meu óleo irá incendiar toda tua morada e te vencerei!

-Tu, queres me vencer, a mim que sou Senhor de todo o universo e redentor das pessoas que tem sua pequena lâmpada e a mantém agradável a mim?

-Não achas possível? Espere até minha chama ser vista pelos olhos imbecis de tuas pessoas. No mesmo momento turvarão o óleo que destes a elas, trocarão a chama que acendestes pela minha. Então teu poder ficará solto no vazio, sem ter o que comandar. Para teu desespero, tuas pessoas ainda vão ver-te como és, não como lhe descrevem os seus oleiros, os que espalhaste pelo mundo para conquistar as consciência, pela manipulação ou pela força. Agora, o que me diz, Nazareno?

-De fato, quer se tornar o cego que vai guiar os cegos ao abismo...

-Chama de abismo o conhecimento pleno? Realmente! Convenceu as pobres mentes disso para que permaneçam ignorantes, pois só assim consegue exercer poder sobre elas!

-Elas vêm a mim porque sou o Redentor e a salvação do Mundo. Pode duvidar e provar o contrário?

-Redimirás a ti, cabe a ti salvar-te pelos teus meios e aos outros, cada qual escolha o seu. Ou não percebeu, apesar de ser o Verbo Encarnado, que teu Pai e você mesmo dependem da existência do material, para justificarem a vossa própria? No que ganharia um espírito formar a carne? Por que ela veio a existir no teu Reino, como se fosse para ser conservada, tratada como animal para exibição ou abate, como rebanhos, cercados e adestrados? A quem mostrariam este rebanho, se é único teu Pai? Porque não vejo outra razão, senão esta. E não me diga que foi por amor, senão Ele saberia perdoar este gado (homem), quando este começou a conhecer sua condição como ser racional. E como poderia este conhecer, senão pela razão que já lhe era própria, já que o homem veio a existir por outros meios, que não o divino. Como poderia o homem ter falhado com o Pai se, em tua filosofia, um supõem ao outro e ambos são como um na razão, na alma e no corpo? É esta razão, vinda de mim mesmo, comum ao homem, próprio dele mesmo, originado das evoluções, que não me permite aceitá-lo. Dê a verdadeira compreensão ao gado que lhe resta e observe se não fazem o mesmo!

-Foi então pela misericórdia.

-Oh sim! Eu sei bem que misericórdia tiveste, tu e teu Pai, com todos os cientistas e pensadores que só queriam trazer um pouco da luz deste verdadeiro conhecer: os matastes! É assim que vós demonstrais a bondade que deveríeis ter?

-Eu sou o responsável pelo conhecimento! Você o recebe de mim.

-Impossível, a menos que concorde com minhas idéias e se assim fosse, teria negado teu Pai e esses massacres, teria feito algo para ajudar-nos e teria feito algo para mostrar a tua Igreja o quanto de absurdos esta cometia pelo poder e em nome de Deus!

-Conheço-te bem Siron. Também me conheces. Embora tua essência tenha vindo me perturbar, antes que tu viesses a existir, quando eu estava em peregrinação pelo deserto, antes de começar minha pregação na Terra. Apesar disso, podemos ser amigos.

-Perdeu tua chance e teu tempo! Antes tivesse vindo me ajudar e consolar. Não me avisou sobre a crueldade deste mundo, apesar de católico, não pude combater teus infames jovens, que me relegaram ao esquecimento, porque era diferente, me discriminaram. Na depressão, prestes a acabar com o pouco de sobriedade que me restava, alguém me levantou (e não foi você). Eu me assustei de início, pois normalmente são considerados demônios. Mas eles sim, foram meus amigos. Ainda sofro, ainda me despreza o teu mundo cristão. Mas agora estou amadurecendo, porque soube descobrir a verdadeira sabedoria e reconhecer o Reino das Trevas, onde vim eu a saber onde está meu mundo real, meus familiares reais. Você veio a se concretizar, sabe o quanto o mundo de teu Pai foi ingrato e ainda o é aos pensadores. Eu também estou aqui, mas não vou reforçar esse sistema de dominação! Farei ruir esse mundo baseado nessa filosofia superficial do Império das Luzes que teu Pai fundou e faz as pessoas julgarem pela aparência tudo que lhes oferece aos olhos! Farei com que as pessoas venham logo a descobrirem estupefatas, da verdade dessas coisas sobre teu mundo cristão e teu Império. Mesmo que tenha o seu tempo de júbilo e vitória, você sabe e não preciso dizer, que as Trevas irão prevalecer, já que o poder e sabedoria destas são superiores em intensidade e qualidade aos teus!

-Então por que não me mostras teu poder, Siron?

-Não posso. Sou um mero escritor, não um dos ministros das Trevas.

-Então me permita!

Era a minha vizinha, que já vinha mostrando grande afeição por mim. Escutou nossa discussão, viu que eu falava com sinceridade e tomou minha defesa. O que é muito surpreendente, pois eu a conhecia bem, como uma católica de um fervor que nem eu mesmo poderia supor! E lá estava ela a desafiar seu Cristo por mim! Ela apontava seu dedo acusador a Cristo e parece que, toda a culpa dos assassinatos cometidos em seu nome, caiu sobre ele, que desapareceu. Ela tremeu, gritou e chorou, porque não conseguia entender o que aconteceu e o que tinha feito! Eu a abracei, tentando acalmá-la, aos poucos foi se tranqüilizando e algo de dentro dela, próprio dela, parecia despertar de anos de agonia e pesadelo, abafado pelos preceitos cristãos de moral, virtude e pureza.

Já calma, foi embora e fez questão de me mostrar: ela quebrou toda a coleção de imagens de santos que tinha, rasgou todos os livros e encíclicas papais, incinerou a bíblia junto com os inúmeros crucifixos e rosários que tinha.

-Nesse momento todo, o senhor morava ao meu lado e só agora o entendo! Devo ter sido um tormento para você, querendo trazê-lo a essa infâmia em que estava presa e convencida de ser a religião verdadeira, do Deus verdadeiro! Quantas vezes me trouxe alegria e satisfação de explicar muito melhor que os padres das paróquias, certos trechos desse livro maldito, a bíblia, nesses momentos de cristianismo, desse meu passado turbulento e terrível! Ainda assim o afastava de mim, pois ofendi ao senhor!

Beijei-lhe com desejo, na boca murmurante e a levei para o templo onde eu iria iniciá-la na prática do verdadeiro culto e lhe mostrar quem é o Soberano, de quem sou apenas o escritor. E ela aprendeu rápida, fácil e gratamente a lição.