Hoje é comemorado no Brasil inteiro o "Dia de Nossa Senhora Aparecida", algo que por si cabe diversas questões sobre Estado Laico e feriados religiosos, mas hoje eu prefiro provocar com a história/lenda/mito que envolve a própria santa.
Vamos recorrer à enciclopédia virtual, o Wikipédia:
Segundo os relatos, a aparição da imagem ocorreu na segunda quinzena de outubro de 1717, quando Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, conde de Assumar e governante da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, estava de passagem pela cidade de Guaratinguetá, no vale do Paraíba, durante uma viagem até Vila Rica.
O povo de Guaratinguetá decidiu fazer uma festa em homenagem à presença de Dom Pedro de Almeida e, apesar de não ser temporada de pesca, os pescadores lançaram seus barcos no Rio Paraíba com a intenção de oferecerem peixes ao conde. Os pescadores Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso rezaram para a Virgem Maria e pediram a ajuda de Deus. Após várias tentativas infrutíferas, desceram o curso do rio até chegarem ao Porto Itaguaçu. Eles já estavam a desistir da pescaria quando João Alves jogou sua rede novamente, em vez de peixes, apanhou o corpo de uma imagem da Virgem Maria, sem a cabeça. Ao lançar a rede novamente, apanhou a cabeça da imagem, que foi envolvida em um lenço. Após terem recuperado as duas partes da imagem, a figura da Virgem Aparecida teria ficado tão pesada que eles não conseguiam mais movê-la. A partir daquele momento, os três pescadores apanharam tantos peixes que se viram forçados a retornar ao porto, uma vez que o volume da pesca ameaçava afundar as embarcações.
A história não explica como ou por que a imagem foi jogada no rio, quebrada. Aqui eu entro com a minha interpretação.
Como sabemos, o Brasil foi colonizado por portugueses, que aqui impuseram a religião católica e trouxeram negros para servirem como escravos. Os negros trazidos ao Brasil mantiveram suas crenças de forma sincretizada, disfarçando seus Orixas em santos católicos. Muitas igrejas no Brasil [como a Igreja dos Negros em Salvador] possuem ritos e cerimônias que são formas sincréticas permitidas da mistura da crença católica com a crença afro-brasileira [Umbanda/Candomblé].
Mas isso nem sempre acontecia de forma amistosa. Muitos de nós ainda lembra do pastor evangélico que chutou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. O mesmo ainda acontece, com muito mais violência, em centros e terreiros de umbanda e candomblé. Na época colonial, essa violência deveria acontecer também, por parte dos senhores ou de seus capatazes, contra os cultos feitos por negros.
A imagem encontrada no rio era de Nossa Senhora, mas devia ser um Orixa disfarçado, tanto que a cor original da santa tinha uma cor mais "bronzeada" e atualmente é negra. Certamente foi feita por um artesão de origem afro-brasileira para um culto de negros. Certamente a imagem representava Oxum, mas foi encontrada por um "piedoso católico", que deve ter ficado horrorizado com essa santa cabocla, a quebrou e a jogou no rio.
O resto é história de pescador e padre. A santa demorou para ser reconhecida e canonizada pela Igreja que, mais tarde, diante do apelo e devoção popular, tornou oficial o dia 12 de outubro como "Dia da Padroeira do Brasil", exatamente no "Dia das Crianças", uma data que também tem vínculos com as propriedades do Orixa.
No Brasil a "liberdade religiosa" engatinha, nossos governantes ainda não observam o princípio do Estado Laico e nossa sociedade ainda sofre com a influência e prestígio da Igreja Católica. Como se isso não bastasse, grupos de cristãos fundamentalistas [católicos/protestantes] ainda cometem atos de violência e vandalismo contra as religiões afro-brasileiras e demais religiões minoritárias.
Há muito o que fazer para que nosso país seja um país de verdade, um país soberano, livre, independente, maduro. As mudanças estão acontecendo aos poucos, embora não da melhor forma. Neste dia da padroeira do Brasil, eu pleiteio a Oxum que olhe para este povo que lhe adotou, ainda que na forma de uma santa católica.
Nossa Senhora Aparecida, Oxum, Diana, Isis, Astarte, Ishtar, olhai por todos nós.
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