O Cristianismo começou como diversas vertentes, ele se
consolidou como uma organização religiosa quase totalitária e depois se dividiu
em três vertentes principais: Igreja Católica, Igreja Ortodoxa, Igreja
Protestante. Dentro destas vertentes existem diversas ordens, irmandades,
tendências. Com a chegada do século XXI, o Cristianismo está se reinventando
para poder sobreviver.
Notadamente tem surgido dentre as igrejas cristãs o que foi
chamado de Evangelho Inclusivo, igrejas cristãs tem flexionado dogmas antes
imutáveis e fossilizados para atingir um público que antes se via excluído,
quando não condenado e perseguido, pelas vertentes majoritárias. A Igreja
Católica tem a Renovação Carismática e a Igreja Protestante tem o Cristianismo
Progressista. Dentro dos moldes das igrejas neopentecostais, vertente da Igreja
Protestante, tem surgido igrejas que pregam um Evangelho aberto para a
comunidade LGBT.
Esse é um esforço complicado, considerando que o
Cristianismo é uma religião de livro. Haverá um determinado ponto onde ou o
Cristianismo deixa de ter suas características e se torna outra religião, ou
simplesmente vai deixar de existir, ou então vai deixar de ter algum tipo de
organização central, voltando a ser tão diversificado como era em seu
aparecimento.
Isso será bom, tanto para o cristão, quanto para o mundo
inteiro. Quando pastores cristãos deixarem de instilar o ódio, o preconceito e
a intolerância e quando organizações medievais deixarem de fazer sentido ou de
existir, a humanidade poderá continuar sua evolução. Com o tempo, isso vai
afetar o Judaísmo e o Islamismo, se é que isto não está acontecendo.
Fora das religiões majoritárias, outras religiões, de origem
oriental e as alternativas, tem uma diversidade que o mundo ocidental desconhece.
Para o ocidental, o Hinduísmo é apenas uma religião, quando são múltiplas. O
Islamismo tem vertentes tão diversas quanto o Cristianismo. O Judaísmo vai além
do Ortodoxo, apresentando uma forma de religião israelita reconstruída, cujas
características são similares das do Paganismo Moderno.
No ocidente, temos as ordens secretas, as ordens místicas e
esotéricas e o Paganismo Moderno. Para os objetivos deste escritor e deste
blog, eu vou focar no Paganismo Moderno, que surgiu e se desenvolveu durante a
Era Moderna.
O Paganismo Moderno é um guarda-chuva com diversas formas de
práticas, crenças, religiões e visões do divino. Pejorativamente acusado pelos
seus críticos de ser fruto do Movimento Romântico do século XVIII e turbinado
pela Contracultura, o Paganismo Moderno assimilou muitas ideias e ideais:
feminismo, direitos civis, ambientalismo e a causa LGBT.
Sable Aradia descreveu, com certo humor, sobre a maldição da
gentileza pagã:
“A maldição da gentileza pagã pode levar-nos a se tornar um
paraíso para abusadores. Tentamos ser tão inclusivos e esse ‘viva e deixe viver’
sobre as coisas, que podemos fornecer um excelente espaço para um predador ou
dar um mero empurrão para fugirem desenfreadamente de nós. A Maldição da
Gentileza Pagã erroneamente sugere que devemos aturar pessoas sem ética,
insistentes e rudes, quando de outra forma não deveria ser tolerado o seu
comportamento.”
Em meus nove anos dentro do Paganismo Moderno eu tive
experiências e conheci pessoas que mostraram que o Paganismo Moderno não é tão
tolerante e inclusivo quanto apregoa. Muitos grupos, covens e tradições flexionam
tanto suas práticas que em algum ponto vão perder seus valores e princípios que
os caracterizam como parte de uma tradição. Muitos grupos, covens e tradições por
manterem seus princípios e valores correm o risco de serem duramente criticados
se não são mais “inclusivos”. Muitos grupos, covens e tradições arriscam a si
mesmos e a todos nós se apregoam publicamente práticas e crenças que extrapolam
o provincianismo e o puritanismo que ainda vigora na sociedade ocidental.
Considerando que o Paganismo Moderno é composto de diversas
tradições e que, como tais, prezem pela preservação da tradição, até que ponto
e o que se pode “incluir” é tanto um paradoxo quanto um dilema.
O Paganismo Moderno mais parece um circo de aberrações. Quando
pagãos, bruxos e wiccanos reúnem-se em um congresso, feira ou celebração
pública, para o público geral nós parecemos egressos de algum cosplay. A Wicca,
que carrega a mancha de ser uma Bruxaria caiada, está cada vez mais diluída e
alvejada para satisfazer os gostos do público. Certos temas e práticas da
Bruxaria são evitados e até mesmo proibidos em fóruns, grupos e redes sociais
que dizem pertencer à Bruxaria. Eu mesmo carrego a péssima reputação por
defender aquilo que eu acredito, pratico e sustento com conhecimento acadêmico.
Então caro dileto e eventual leitor, antes de entrar no
Caminho dos Bosques Sagrados saiba que você tem que se adequar ao Caminho e não
o inverso. Os caminhos, práticas e crenças, tanto as espirituais quanto as e
religiosas, não são Roma, não irão acabar no mesmo lugar. Você não precisa de
autorização, validação, aceitação ou reconhecimento para seguir seu caminho,
sua prática e sua crença. Seja como você perceba, sinta e experimente o divino,
siga sua benção. Tudo que você precisa está em você mesmo, em seus ancestrais e
nos Deuses.
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