terça-feira, 12 de agosto de 2014

No fim do desejo

Nós dizemos em nossos rituais:

“E se vos dizeis, ‘ali eu perambulei e não me avaliaste’, melhor que digas, ‘ali eu clamei e esperei pacientemente e vi que tu estavas comigo desde o princípio’, pois aos que me desejaram sempre irão me alcançar, mesmo no fim do desejo”.

O ser humano é finito, mortal, limitado, nós vivemos porque temos desejos em combinação com as necessidades e nós somos movidos pela vontade. Como podemos conceber um lugar ou situação onde algo ou alguém termina, se isto ou este é infinito e eterno? Esta é uma questão que coloca os judeus, muçulmanos e cristãos em uma sinuca de bico. O Deus para estas religiões monoteístas é onisciente, onipotente e onipresente, uma contradição quando pensamos em assuntos como pecado, Inferno, Satan.

Para o pagão moderno, com diversas teologias, o divino é uno ou múltiplo, é imanente e/ou transcendente, os Deuses são identidade distintas [politeísmo], são emanações de um Deus/Deusa [henoteísmo], ou que somados resultam em um Deus/Deusa [panteísmo], ou que todas essas manifestações são emanações de um Uno indistinto [monismo].

Para aqueles que praticam a Wica [uma forma de culto moderno de bruxas], essas questões tem tantas respostas diferentes quanto as vertentes da Wica. O Deus é local, regional, mundial e cósmico. A Deusa é todas as Deusas e tem uma identidade e personalidade própria. No tocante ao que eu conheço da Wica Tradicional, nosso Deus é o mais antigo e o mais novo. Nosso Deus é o Senhor das Florestas, das Feras, da Caça, do Campo, da Semeadura, da Colheita, Ele é o Psicopompo e Guardião do Segredo. A Deusa é Senhora da lua, da magia e das águas, Ela é a Grande Mãe. Os Deuses Clássicos são seus filhos e é comum os sacerdotes wiccanos terem seu culto particular a um Deus ou Deusa.

Sendo tudo cíclico, não há, exatamente, o fim do desejo. Nossa constituição mortal e carnal depende de uma manutenção constante. Sentimos sede, fome, carência, nossas necessidades movem nossa vontade e quando atendemos nosso corpo, sentimos saciedade, satisfação, felicidade, júbilo e êxtase. A sensação quando finda o desejo é esse estado de plenitude absoluta, um estado de beatitude que remonta ao nosso estado primordial, quando nossa existência era una com os Deuses. Então, no fim do desejo, encontramos a Deusa, de onde todos nasceram e para onde todos irão retornar, pois Ela é o Ventre e o Túmulo. Assim como a semente deve ser lançada no solo para que a planta renasça, nosso corpo é plantado para que a alma renasça.

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