Katmandu, 12 set (EFE).- O jejum religioso mais conhecido do mundo talvez seja o Ramadã, mas no Nepal as mulheres hindus celebraram no último sábado o "Teej", um festival durante o qual se abstêm de comer e beber e rezam pelo bem-estar de seus maridos.
O desejo de uma duradoura felicidade conjugal motivou como a cada ano as hindus a exibir saris, pulseiras e colares vermelhos e dançar perante os templos do deus Shiva espalhados pelo Nepal, o último reino hindu até que em 2008 foi proclamada a República.
"Estou aqui para rezar por uma longa vida e prosperidade não só para meu marido mas para toda a família", disse à Agência Efe Dev Kumari Gautam.
Ela é uma das dezenas de milhares de fiéis que se aproximaram do grande complexo templário de Pashupatinath, em Katmandu, o mais sagrado no Nepal para esta religião professada aproximadamente por 80% da população do país.
A devota explicou que durante o dia todo não bebe água e apenas come frutos secos depois do fim do dia, quando são realizados os últimos rituais no lar.
Este festival da frugalidade, que dura apenas um dia, é especialmente difícil para elas porque se dedicam a se reunir, dançar e cantar em frente aos templos, além de fazer as correspondentes preces.
Segundo a mitologia hindu, a tradição se inspira no exemplo de Parvati, que jejuou para seduzir Shiva, algo que convenceu este deus do panteão hindu de sua força de espírito.
De fundo está um dos conceitos fundamentais desta religião, o "tapasya", ligado ao ascetismo como guia espiritual, o sofrimento, a vontade e a meditação.
Perante as críticas ao "Teej" por não obrigar também os homens a jejuar, o especialista em sânscrito Tikaram Sharma Poudel lembrou antigas tradições como o "sati" - em virtude do qual se um homem morre sua mulher deve ser incinerada para unir-se assim a seus restos - e sustentou que durante esta jornada na realidade rezam, também, por elas mesmas.
Além disso, destacou que é uma boa oportunidade para que compartilhem um dia juntas.
"Antes, quando os meios de transporte não eram como os de hoje, os pais e os irmãos iam a casa de suas filhas e irmãs para levá-las a seu lar natal. Elas se reuniam e compartilhavam suas dores", disse à Efe Poudel.
"Não, meu marido não está jejuando", constatou à Efe uma devota de Katmandu, Ishwari Ghimire, de 50 anos, que assegurou observar rigorosamente o festival desde que se casou aos 17 anos.
As mulheres jejuam e este é um dia festivo só para elas, mas se supõe que seus maridos devam ser generosos e dar presentes a elas para que passem da forma mais agradável possível o dia.
Durante os últimos anos, as lojas se deram conta do evento e um mês antes do festival já fazem ofertas especiais ou descontos em artigos para a mulher.
Não só as casadas realizam o "Teej": também as solteiras, que esperam que sua oração sirva para encontrar um marido cujas qualidades se aproximem às de Shiva, algo para o qual é fundamental a intervenção divina, já que muitos casamentos no Nepal continuam sendo arranjados.
Fonte: EFE [link morto]
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