Conversa com o Gemini
"Tudo começou na Grécia Antiga, o primeiro lugar conhecido onde pensadores com mentalidade científica questionaram alegações sobrenaturais. Sócrates foi condenado à morte por “recusar-se a reconhecer os deuses” de Atenas. Aspásia, amada amante de Péricles, foi julgada por “impiedade”. Estilpo de Mégara, acusado de dizer que Atena “não era uma deusa”, brincou em seu julgamento que ela era uma deusa. Ele foi exilado. Até o poderoso Aristóteles foi acusado e teve que fugir de Atenas. Outros acusados incluíram Protágoras, Anaxágoras, Teofrasto, Alcibíades, Andócides e Diágoras."
Fonte: https://www.paulopes.com.br/2025/10/desde-grecia-antiga-os-nao-crentes-sao.html
Esse é um blog ateu, nem sempre demonstra compromisso com os fatos. Muitas postagens podem ser consideradas desonestidade intelectual.
O trecho escrito é exato historicamente? Ou é uma fake news feita apenas para sustentar o argumento ateu que toda crença é ruim?
Escreva uma análise crítica.
Resposta:
Trata-se de uma análise que contém elementos históricos factuais, mas os apresenta de forma seletiva e simplificada para sustentar uma narrativa específica, o que pode ser considerado uma forma de desonestidade intelectual ou, no mínimo, uma distorção do contexto histórico.
A acusação de "impiedade" (em grego, asebeia) em Atenas Antiga era, de fato, um instrumento poderoso, muitas vezes usado para fins políticos contra indivíduos proeminentes ou pensadores cujas ideias eram consideradas subversivas ao status quo ou à unidade da cidade-estado (a pólis).
Abaixo, apresento uma análise crítica ponto a ponto.
Análise Crítica do Trecho
O trecho foca em acusações de impiedade para traçar um histórico de perseguição aos "não-crentes". Embora os eventos tenham ocorrido, o contexto é crucial e está omisso.
1. Sócrates (Condenação à Morte)
O Fato: Sócrates foi, de fato, condenado à morte em 399 a.C. por uma acusação de asebeia (impiedade), cujos termos exatos eram: não reconhecer os deuses da cidade (introduzindo "novas divindades", como o seu daimon ou voz interior) e corromper a juventude.
O Contexto Omitido (A Simplificação): A condenação de Sócrates foi complexa e amplamente vista como tendo motivações políticas subjacentes, disfarçadas de acusação religiosa. Atenas havia acabado de sair da Guerra do Peloponeso e do regime oligárquico dos Trinta Tiranos. Muitos dos discípulos de Sócrates (como Crítias e Alcibíades) estiveram envolvidos em movimentos antidemocráticos. A acusação de "corromper a juventude" era uma forma de punir a influência política e intelectual percebida de Sócrates em um período de instabilidade democrática. Chamar a condenação de simplesmente "recusar-se a reconhecer os deuses" ignora a dimensão política e social do julgamento.
2. Aspásia (Julgada por Impiedade)
O Fato: Fontes antigas, como Plutarco, relatam que Aspásia foi, de fato, acusada de impiedade (e também de recrutar mulheres livres para Péricles).
O Contexto Omitido (A Distorção): Plutarco afirma que Péricles defendeu Aspásia no tribunal e ela foi absolvida, em um momento de fragilidade política do estadista. Além disso, Aspásia era uma heterai (estrangeira, companheira intelectual e social, não uma cidadã ateniense), e a acusação de impiedade contra ela fazia parte de uma campanha mais ampla contra Péricles e seus associados. A perseguição tinha menos a ver com a crença individual de Aspásia e mais com a política, atacando-se o principal líder de Atenas através de sua parceira estrangeira.
3. Aristóteles (Acusado e Fugiu)
O Fato: Aristóteles fugiu de Atenas em 323 a.C. para Cálcis e foi, de fato, acusado de impiedade (asebeia).
O Contexto Omitido (A Motivação Política):
Aristóteles era macedônio e tinha sido tutor de Alexandre, o Grande. Com a morte de Alexandre, o sentimento antimacedônio varreu Atenas. Sua acusação de impiedade – motivada por um hino em honra ao seu falecido amigo Hermias – foi primariamente uma forma de atacar a figura política associada ao domínio macedônio na cidade. Aristóteles justificou sua fuga, segundo Diógenes Laércio, dizendo que não daria a Atenas "a oportunidade de pecar duas vezes contra a filosofia" (referindo-se à morte de Sócrates). A acusação era mais sobre xenofobia e política do que sobre ateísmo.
4. Estilpo de Mégara e Outros
Estilpo de Mégara: O relato de que ele foi acusado de dizer que Atena "não era uma deusa" e brincou no julgamento para ser exilado parece ser uma versão simplificada de um anedotário filosófico. Diógenes Laércio menciona que Estilpo foi julgado por asebeia (impiedade) por ter dito que a estátua de Atena não era um deus, mas sim uma obra de arte (estátua de pedra). Este é um caso real de um filósofo sendo perseguido por questionar o culto tradicional.
Lista de Acusados (Protágoras, Anaxágoras, etc.):
A lista final é amplamente correta. Protágoras (sofista) foi exilado (ou fugiu) e seus livros queimados devido ao seu agnosticismo famoso. Anaxágoras (filósofo pré-socrático) foi acusado de impiedade por suas teorias cosmológicas que desafiavam as crenças tradicionais (como dizer que o Sol era uma pedra em brasa e não um deus). Alcibíades (político e general) foi acusado de impiedade por profanar os Mistérios de Elêusis e mutilar as Hermas, crimes com forte teor político. O caso de Diágoras de Melos ("o Ateu") também é bem documentado.
Conclusão da Análise
O trecho do blog não é uma "fake news" pura, mas sim uma simplificação seletiva dos fatos para sustentar a tese de que a perseguição na Grécia Antiga se resumia a punir o "não-crente" ou o "pensador científico".
O que o trecho faz é:
Isolar o Elemento Religioso: A acusação de asebeia (impiedade) era o instrumento legal primário, mas era frequentemente o meio, e não o motivo principal, para atacar adversários políticos, figuras influentes ou pensadores disruptivos em uma sociedade onde a religião era inseparável do estado (pólis).
Ignorar o Contexto Político: As perseguições ocorreram em momentos de profunda crise política (Guerra do Peloponeso, restauração da democracia, domínio macedônio), onde o ataque à religião cívica era visto como um ataque direto à estabilidade do estado.
Reforçar o Argumento Ateu: Ao apresentar as perseguições como puramente religiosas, o autor reforça a narrativa de que o pensamento não-crente/científico sempre foi inerentemente vítima da intolerância religiosa, ignorando as complexas dinâmicas de poder e as questões de cidadania da época.
Em resumo, a premissa histórica é real – existia perseguição por impiedade – mas a conclusão apresentada é tendenciosa, pois omite o papel central das rivalidades políticas e sociais nos julgamentos, transformando complexos processos históricos em uma simples luta binária entre Crentes e Não-Crentes.
Continuação:
Eu acho que o maior "salto de fé" 🤭 do autor é omitir que essas personalidades não eram descrentes. O que você acha?
Resposta:
É uma excelente observação, e de fato, toca no ponto mais fraco da argumentação do blog: a premissa de que os acusados eram "não-crentes" no sentido moderno (ateus ou agnósticos que rejeitam qualquer divindade).
Você está correto: a omissão de que essas personalidades não eram necessariamente "descrentes" é, sem dúvida, o maior "salto de fé" e a principal fonte de desonestidade intelectual no artigo.
O Contexto da Crença na Atenas Antiga
O erro crucial do autor é projetar a dicotomia moderna "crente vs. descrente" (ou teísmo vs. ateísmo) na Antiga Atenas.
1. Sócrates Não Era um Ateu
Sócrates foi acusado de não reconhecer os deuses da cidade (theoi nomizomenoi), mas não de ateísmo completo.
Evidência de Crença: Ele constantemente se referia ao seu δαιˊμονιον (daimonion), uma espécie de voz ou sinal divino que o guiava. Na sua defesa (Apologia de Platão), ele insiste que sua missão filosófica foi ordenada pelo Deus de Delfos (Apolo). Ele não negava os deuses; ele questionava a maneira como eram adorados e concebidos pela cidade, sugerindo uma espiritualidade mais pessoal e filosófica.
2. Anaxágoras Não Era Descrente
Anaxágoras foi perseguido por asebeia por suas ideias cosmológicas.
Ideias Revolucionárias: Ele afirmava que o Sol era uma "pedra em brasa" e a Lua era feita de terra, desafiando a crença popular de que eram deuses. No entanto, ele introduziu o conceito de νου~ς (Nous) – a Mente ou Inteligência – como o princípio organizador e motor do universo. Essa não era uma rejeição vazia, mas sim a substituição da religião tradicional por uma explicação racionalista/filosófica do divino.
3. A Natureza da Impiedade (Asebeia)
O crime de asebeia (impiedade) não era simplesmente ser ateu, mas sim violar o culto cívico da pólis. A religião era um ato público e político:
Político, não Pessoal: A asebeia podia ser acusada por profanação de rituais (como Alcibíades), por introduzir novos deuses (Sócrates), ou por explicar fenômenos divinos (Anaxágoras), o que ameaçava a estrutura da cidade.
Os Verdadeiros Ateus: Filósofos como Diágoras de Melos eram abertamente céticos e, de fato, fugiram ou foram perseguidos, mas eram a exceção. A maioria dos "perseguidos" do blog estava propondo novas maneiras de entender o divino e o universo, e não negando-o totalmente.
Conclusão
Sua crítica é certeira. O autor do blog falha ao não distinguir entre:
Rejeição dos deuses cívicos/tradicionais (o que Sócrates e Anaxágoras faziam).
Ateísmo completo (o que o autor sugere que eles eram).
O blog, ao usar o termo "não-crentes", tenta fazer com que essas figuras históricas pareçam mártires do ateísmo moderno, quando na verdade eram mártires da liberdade de expressão filosófica em uma cidade que, apesar de sua democracia, exigia conformidade religiosa para manter a ordem social e política. É uma reescrita da história para servir a um propósito ideológico contemporâneo.
Criado com Gemini, do Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário