quarta-feira, 11 de maio de 2022

Como erramos ao falar de amor

Steven Posch escreve algo com o título Amo Ergo Sum. Eu acho que é uma referência ao René Descartes e sua frase Cogito Ergo Sum.

A frase de Descartes é traduzida como "penso, logo, existo". Para quem conhece ou leu os filósofos deve estar ciente do que Descartes escreveu e não é exagero lembrar que citar algum pensador sem considerar o contexto da obra é algo aviltante.

A frase do Steven poderia ser traduzida como "amo, logo, existo". Isso é interessante e pertinente, afinal, como podemos definir a nossa existência, ou como definimos a existência por si mesma, são questões filosóficas que o pnesamento científico não pode solucionar.

Nossa espécie fala bastante sobre o amor. Temos pensadores, poetas, dramaturgos e músicos que abordam esse tema, mas aquilo que conceituamos e praticamos como amor está longe daquilo que p amor realmente é e nossa limitação humana não compreenderia o amor no sentido divino.

Nós, Pagãos Modernos, temos um pálido vislumbre, quando falamos de Vênus e Afrodite, as Deusas do mundo ocidental encarregadas desse atributo. Mas o conceito fica mais complexo e difícil de vislumbrar, quando falamos de Inanna, Ishtar e Astarte. Como entender uma Deusa do Amor que também é Deusa da Guerra?

Segundo Steven, a frase Amor Ergo Sum é um provérbio de Nova Creta, uma utopia do futuro, onde haveria uma adoração à Deusa, concebida por Robert Graves. Eu conheço deste autor o livro "A Deusa Branca", então eu estimo que esta Deusa seja esta descrita por Robert Graves nesta obra. Assim sendo, nós estamos dando um salto na interpretação de dois homens diferentes.

Segundo Steven, o amor é o valor central da cultura. Isso é curioso, pois valor nos remete a algo usado como troca ou como princípio. Para Steve, o inverso do amor não é ódio, mas o desamor. Eu diria que é a indiferença.

Steven cita Holman Keith que (segundo Steven) diz, na obra Divindade como o Eterno Feminino que qualquer religião baseada na Deusa deve necessariamente adotar o amor como seu princípio central. Na sequência, Steven cita Doreen Valiente, a que reescreveu a "Carga da Deusa" na liturgia da Wicca o trecho que diz: “Minha lei é amor a todos os seres”.

Isso é bastante peculiar, afinal, a liturgia da Wicca, concebido por Gerald gardner, utiliza trechos dos rituais criados por Aleister Crowley, que foi o motivo que levou Doreen a reescrever a liturgia. Então de qual Deusa falamos?

Chega a ser quase um ato falho, quando Steven cita a frase mais famosa da Thelema: “Amor é a lei, amor sob vontade”. Thelemitas vão adorar lembrar que o Amor é a Lei conforme a Vontade.

Steven pergunta: O que significa a Lei do Amor da Senhora ? Quais são suas implicações para as ações de Seu Povo?

Questões difíceis, pois temos que considerar qual é o conceito de Steven sobre lei, amor e a "Senhora".

Vejamos o que Steven diz:

Em certo sentido, a afirmação é uma observação de senso comum sobre todos os seres vivos que se reproduzem sexualmente.

Mais amplamente, porém, acho que ela está falando sobre uma abordagem geral da vida. Tomar o amor como seu princípio central e principal motivador mudará a maneira como você pensa sobre o que faz. Da próxima vez que você tomar uma decisão, pergunte-se: Qual é a coisa amorosa a se fazer aqui?

A Lei de Amor da Senhora governa não apenas nosso comportamento em relação aos outros de nossa espécie, mas também aqueles que não são de nossa espécie: outros humanos que percebemos como não sendo como nós, bem como nossa família maior de parentes, animais, plantas, e, finalmente, todo o mundo “não-vivo”.

O amor usa muitas faces.

E o boi? Apaixonado pela minha família, preciso deste boi para os alimentar. Mas eu também tenho uma responsabilidade de amor para com o boi que eu mato, então eu preciso matar tão rápido e limpo quanto minha habilidade permitir. Isso também é amor.

Esse é, talvez, o cerne de todos os nossos problemas, furstrações e recalques. Nós ainda somos fortemente influenciados pela doutrina cristã, um culto focado na dor, sofrimento e morte. Nossa sociedade e civilização ainda não superou a repressão e opressão sexual oriunda da doutrina cristã que implica que tudo que se refere ao mundo, à natureza, ao corpo, ao desejo, ao prazer e ao sexo, como algo sujo, proibido, errado e pecaminoso.

John Lennon cunhou a melhor frase que demonstra como vivemos: "Vivemos em um mundo onde nos escondemos para fazer amor enquanto a violência é praticada em plena luz do dia".

Dependendo das circunstâncias e do país, algumas formas de amor são consideradas crime. Mas nada disso nos explica nem resolve a imagem de Ishtar com seus (lindos) tornozelos cobertos com o sangue de seus inimigos.

Em algum lugar eu disse que alguém se veste para a batalha como se veste para se encontra o seu amor.

Estamos errados por queremos definir e limitar o amor conforme nossas conveniências ou convenções. Amor não tem forma, não tem lei, não tem limite.

Todos tem o direito e a liberdade de amar quem quiser, quantos quiser.

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