segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

O fardo da virtude

Desde tempos antigos a humanidade teve sábios que escreveram sobre a virtude, a moral e a ética. Em nosso mundo contemporâneo, lembrar que essas ideias nasceram e foram desenvolvidas por diversos povos antigos, todos religiosos e pagãos, irá ofender a cristãos e ateus. Mas eu concordo com o dito descrente de que não precisamos de religião para termos um comportamento moral e ético, se assim fosse, não teríamos tantos “religiosos” cometendo os mais variados pecados.

Foi-me pedido, a título de treinamento e projeto pessoal, que eu buscasse fazer voluntariado. A solidariedade e a caridade são práticas que costumam permear a espiritualidade. Curiosamente, de quem se espera um exemplo, o que mais se observa é que não se pratica o que se prega. Mas se eu aprendi algo é que não se pode esperar ou exigir que o ser humano satisfaça as nossas expectativas.

Como eu mantenho um espírito anarquista e punk, eu tenho outra posição a respeito da solidariedade e da caridade. São comportamentos típicos do pequeno-burguês com crise de consciência. A explicação que os gurus oferecem ao diletante sobre a importância da solidariedade e da caridade é que assim nos colocamos no lugar do outro, que percebemos que existem pessoas em situação pior do que a nossa. Um típico caso de pensamento medíocre. Da mesma forma como eu tenho a capacidade e a competência para melhorar de vida, da mesma forma tem o “pobre coitado”. Eu não vou esquecer quando eu ouvi de uma profissional, que trabalha em um centro de pessoas carentes, que a maioria ali tem a vida que tem por que quer.

Eu não me recordo de receber qualquer ajuda quando eu precisei. O que eu mais recebi de outros seres humanos foi desprezo e indiferença. Disso eu posso me orgulhar, eu conquistei meu espaço por esforço próprio e pela ajuda dos Deuses e ancestrais. Mesmo assim, eu aceitei o desafio e fiz alguns trabalhos de voluntariado.

Eu fiz um trabalho em um centro que atende a pessoas de rua, por iniciativa própria. Eu participei de dois cursos de voluntariado, o do Centro de Voluntariado e o da Cruz Vermelha. Como voluntário da Cruz Vermelha eu participei de dois mutirões e de uma triagem. Eu apenas não fiz mais por que eu fui recebido com indiferença e desconfiança nas diversas organizações onde me apresentei para trabalhar voluntariamente. Quando a estatística diz que apenas ¼ da população faz trabalho voluntário, eu tendo a entender que é por falta de interesse ou aproveitamento dos interessados por parte dessas organizações.

Fazer o bem e ser bom não é sinônimo de ser otário, bobo, ingênuo e inocente. Disso eu sei de sobra, pois minha família se aproveita demais da minha bondade. Vai ver que foi por eu não ter sangue de barata, por ser lobo e não ovelha, é que aqueles que diziam ser minha família no Ofício me abandonaram. Nada acontece por acaso. Acabou, passou, foi enterrado.

Eu pratico o que acredito e sustento os valores e princípios da Bruxaria e da Wicca tradicionais. Eu lutei por 20 anos, mesmo sem ser um iniciado, contra a popularização da “religião da Deusa”. Nada ganhei com isso. Mas o bom bruxo é o exilado, não o que tem o aplauso do público. Nisto consiste a verdadeira virtude: fazer o que deve ser feito.

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