O ressurgimento romântico
Mesmo quando a sabedoria popular finalmente rejeitava a crença em bruxaria, já surgiam indícios de um novo ponto de vista entre os intelectuais no começo do século XX. Em 1828, Karl Ernst Jarcke argumentou que a bruxaria era uma religião natural que se mantivera ao longo de toda a Idade Média até o presente. Era a antiga religião do povo germânico, a qual a Igreja havia falsamente decarado como culto ao Diabo. Tal posição proveio de um romantismo que glorificava o passado e de um nacionalismo que glorificava a Alemanha. Em 1820, Lamothe Langon publicou vários documentos referentes à bruxaria no século XIV, que ele afirmava ter transcrito de registros da Inquisição que ulteriormente haviam sido destruídos. O efeito da falsificação foi estabelecer o que parecia ser algo como um culto organizado de bruxas já no século XIV e assim conferir mais crédito à idéia de que a bruxaria poderia ter sido uma religião antiga que subsistiu durante a Idade Média.
O romantismo contribuiu para o ressurgimento da idéia de bruxaria tanto na Inglaterra quanto na Alemanha. Em 1830, Sir Walter Scott publicou suas Letters on Demonology and Witchcraft, as quais, em virtude da popularidade e prestígio de Scott, tiveram grande efeito no reaparecimento do interesse pela bruxaria. Nenhum desses novos escritores argumentou que a bruxaria era um culto diabólico ou que os julgamentos de bruxas deveriam ser restabelecidos. Ao contrário, acreditavam que as pretensas bruxas tinham sido mal compreendidas e maltratadas. Em 1839, Franz Josef Mone alegou ter a bruxaria derivado de um culto clandestino pré-cristão do mundo greco-romano, um culto relacionado com Dionísio e Hécate e praticado pelas camadas mais baixas da sociedade. O argumento de Mone teve grande impacto em um mundo assustado com os excessos revolucionários e com medo de sociedades secretas. Em 1862, Jules Michelet aproveitou o argumento de Mone e deu-lhe sustentação histórica. A bruxaria originou-se nos estratos sociais inferiores, mas isso era admirável: a bruxaria era uma manifestação primitiva do espírito democrático. Desenvolveu-se entre os camponeses oprimidos da Idade Média, que adotaram os remanescentes de um antigo culto da fertilidade em protesto contra a opressão da Igreja e da aristocracia feudal. A tese de Michelet de que a bruxaria foi uma forma de protesto foi adaptada mais tarde pelos marxistas; seu argumento de que a bruxaria se baseou no culto da fertilidade foi adotado pelos antropólogos do começo do século XX, influenciando obras como O Ramo de Ouro, de Sir James George Frazer; From Ritual to Romance, de James Watson e O Culto das Bruxas na Europa Ocidental, de Margaret Murray.
O interesse pelo ocultismo aumentou no entediado mundo do final do século XIX. As sociedades secretas estavam adquirindo prestígio. A Ordem Hermética da Aurora Dourada deleitava-se na criação de chistes e imposturas literárias e ocultistas, traduziu livros cabalísticos e grimoires, inventou sistemas criativos de numerologia, sortilégios e afrodisíacos. Os elementos de magia cerimonial que atualmente aparecem na bruxaria moderna podem ter sua origem na influência de Crowley sobre Gerald Gardner, o fundador da bruxaria moderna e a devoção de Crowley a Pan também ajudou Gardner a desenvolver o neopaganismo.
Fonte: "História da Bruxaria", pg.137-142, de Jeffrey Russel e Brooks Alexander, ed Aleph.[com permissão]
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