quarta-feira, 6 de novembro de 2024

O pastor do neoliberalismo

Por Marcia Tiburi.

Max Weber disse que o capitalismo gera os corpos de que precisa para se manter. Assim, em seu processo histórico surgem profissões e profissionais adequados ao sistema a todo momento.

Uma das novas profissões do capitalismo em seu estágio neoliberal é a profissão de “coach”. Recentemente, um deles migrou da esfera do empreendedorismo e se tornou famoso como candidato a prefeito de São Paulo. Pode parecer apenas um reposicionamento profissional do campo da economia ‘empreendendorista’ para o campo da política, ou da impostura à demagogia se olharmos com lentes morais e políticas. De fato, o candidato em questão representou a caricatura da passagem do homem de negócios ao poder político – típica da política brasileira - que deveria ser tão proibida como a passagem que o setor religioso tem feito ao campo dos cargos eletivos. De fato, o candidato misturava em seu discurso a promessa de enriquecimento com a crença em Deus, no típico jogo da teologia da prosperidade.

Com a destruição da política reduzida à publicidade, surgirão nos próximos pleitos mais e mais tipos como esse que misturam economia e religião num discurso de empoderamento baseado na autoconfiança e na confiança em Deus. O que não fica claro para todos é que esses tipos agem contra a democracia se aproveitando de suas fragilidades, dentre as quais podemos contar a pobreza e a ameaça à laicidade.

O coach vende facilitações. Originalmente, “coaching” significa acompanhamento. Quando um trabalhador de uma empresa, seja líder ou subalterno, considera necessária uma orientação pessoal e profissional para assuntos pessoais, ele chama um coach que o escuta e lhe dá conselhos. O coach parece um psicólogo, mas pode ser também uma espécie de padre ouvindo confissões e fazendo sugestões e recomendações para alguém sobre como seguir na sua vida profissional. O coach não está preocupado com o todo da personalidade de alguém, como deve estar um psicólogo, pois o indivíduo como um todo e suas complexidades não importam na era do homo oeconomicus; nem determina penitências como o padre, pois a religião do capitalismo não precisa de penitências. O capitalismo já é a própria penitência. Ele é o inferno na terra e, para suportá-lo, é preciso confiar no próprio taco, ou seja, auto-iludir-se diariamente de que será possível sobreviver apesar dos pesares, que não são poucos. O poderoso engravatado que opera no mercado financeiro não precisa de Deus nesse processo, pois ele tem a tradição, a família, a propriedade, séculos de capital acumulado na forma de branquitude, educação, cultura e oportunidades infinitas. Mas o pobre que dirige uma motocicleta nas rodovias sob risco de vida e sem direitos precisa acreditar em Deus. Como Deus nem sempre ajuda, tudo fica ainda mais difícil. Parte-se então para algo mais direto que se oferece à sua frente pleno de crenças no poder pessoal. O velho individualismo burguês foi atualizado no “precariado” sobrecarregado da pseudo energia positiva do pensamento mágico. O coach vem a ser o que há de mais próximo do psicanalista, do padre, do “guru” ou do messias, o salvador da Pátria ameaçada para o pobre coitado que teve a sua capacidade de pensar sequestrada por um sistema que avança sobre o corpo maltratado e desesperado. O capitalismo neoliberal precisa do medo de cada um e do mascaramento desse medo através da confiança em si, para poder se manter em seu curso.

O capitalismo neoliberal não é apenas uma ideologia que oculta seu funcionamento, como acontece com toda ideologia, mas uma espécie de religião que precisa se instaurar na vida de cada um de modo ritual através da dedicação total ao trabalho – mesmo sem direitos e sem condições dignas - e do consumismo, ele mesmo transformado em projeto de vida. As igrejas do mercado com seus pastores – que vendem Deus e Jesus como se fossem um sofá novo em prestações das Casas Bahia -, nada mais são do que mercado da fé no contexto da fé no mercado. O coach é o pastor do neoliberalismo.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/o-coach-e-o-pastor-do-neoliberalismo

Preconceito e intolerância ilegal

A postagem de um deputado distrital que expõe uma professora de escola pública do Lago Sul gerou polêmica entre a comunidade escolar. O parlamentar acusou a docente, que leciona uma matéria eletiva – de escolha facultativa por parte dos próprios alunos do ensino médio –, de incitar “crianças a pronunciarem nomes de deuses” de religiões de matriz africana em sala de aula.

No vídeo, publicado pelo Pastor Daniel de Castro (PP) nas mídias sociais, o distrital disse que denunciou a professora ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) por “fazer rituais de magia em sala de aula”. “Estou fazendo uma representação junto ao MP agora, inclusive com áudios e vídeos em que essa professora incute na cabeça das crianças uma religião afro e as leva a falar nomes e cultuar essas entidades. Isso é um crime”, declarou.

Após a repercussão do vídeo, a Diretoria do Centro Educacional do Lago (CEL) divulgou uma nota de repúdio contra as declarações do deputado e afirmou que Daniel de Castro acusou injustamente a professora da disciplina optativa de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

“Na última semana, um deputado distrital publicou gravação sem autorização de atividades do Centro Educacional do Lago e teceu uma série de ataques, acusações caluniosas, racistas e de intolerância religiosa contra servidores públicos no exercício de suas atribuições. Tal afirmação não é apenas inverídica – uma vez que que ‘rituais de magia’, conforme dito pelo deputado, não acontecem nessa escola –, mas também expressa um preconceito contra as religiões de matriz afro-brasileira”, ressaltou a escola, por meio da nota.

Os gestores do CEL acrescentaram que o conteúdo ministrado pela professora está “em total conformidade com as diretrizes educacionais estabelecidas pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF)”. Além disso, enfatizaram que o conteúdo do currículo “segue rigorosamente” as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, “que determinam a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas”.

“[A matéria] faz parte do catalogo oficial de disciplinas da SEEDF e visa promover o respeito e o reconhecimento das contribuições culturais e históricas desses povos na formação do Brasil. É essencial que os alunos recebam uma educação plural e que respeite a diversidade cultural e religiosa”, completou a escola.

A direção do CEL ressaltou que apoia “integralmente o trabalho” da professora, além de reafirmar o “compromisso com a educação inclusiva e respeitosa”. “Não toleramos qualquer forma de preconceito, inclusive a intolerância religiosa. Nossa escola permanece um espaço de promoção do respeito às diferenças e de aprendizado livre de discriminação.”

Críticas em plenário

Os responsáveis pela gestão do Centro Educacional do Lago também denunciou o caso à Comissão de Educação da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

Ao Metrópoles o deputado distrital Gabriel Magno (PT) contou que visitou o colégio escola para entender o caso e detalhou que, no momento da gravação do vídeo mencionado pelo deputado, a professora desenvolvia com os alunos uma tarefa para o Dia da Consciência Negra.

Ainda segundo o parlamentar, o tema da atividade foi escolhido pelos próprios estudantes, e o resultado seria apresentado em uma feira escolar por ocasião da data. Em discurso no Plenário da CLDF, o distrital destacou que Daniel de Castro não confirmou a informação que recebeu e publicou o vídeo sem saber o contexto das imagens.

“Toda vez em que publicamos algo sem saber, corremos risco de errar. Dizer que uma professora da escola obrigou os estudantes a falar nomes e cultuar entidades […], primeiro, é [uma fala] carregada de preconceito, de racismo, porque quer comparar ou tentar traduzir religiões de matriz africana a rituais de magia. [Segundo, afirmar] que a professora em questão tentou obrigar os estudantes a isso: não foi o que aconteceu na escola”, declarou o petista.

Gabriel concluiu o discurso dizendo ser fundamental que um parlamentar ou um servidor público respeite a lei e a profissão do magistério. “Eu lamento e repudio que nossos professores, infelizmente, tenham sido vítimas desse ataque e dessa perseguição. Encerro dizendo que estamos à disposição dos educadores”, afirmou.

Caso na corregedoria

A reportagem entrou em contato com a SEEDF. Por meio de nota, a pasta comunicou que “recebeu, em 23 de outubro, o Ofício nº 164/2024, enviado pelo deputado distrital Pastor Daniel de Castro, pedindo apuração de fatos supostamente ocorridos” na escola.

“Em resposta, a SEEDF encaminhou as informações à Corregedoria [da secretaria], para adoção das providências cabíveis, como estabelece a Instrução Normativa nº 2, de 19 de outubro de 2021, da Controladoria-Geral do Distrito Federal. A pasta reforça o compromisso com a transparência e com a condução criteriosa dos processos, seguindo as normas e assegurando uma gestão educacional democrática e responsável”, salientou a secretaria.

“Valores constitucionais”
Questionado pela reportagem acerca do ocorrido, o deputado Daniel de Castro confirmou ter protocolado a representação junto ao MPDFT, pois os alunos “teriam sido instigados a participar de rituais religiosos” durante as aulas em questão, e alegou que as atividades da disciplina optativa representam “uma possível afronta ao princípio da laicidade do Estado, assegurado pela Constituição Federal”.

Leia na íntegra a nota emitida pelo parlamentar:

“Em respeito ao compromisso com a proteção dos direitos dos alunos e a defesa do princípio da laicidade do Estado, o nosso gabinete protocolou representação junto ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), referente a relatos de práticas religiosas específicas ocorridas em ambiente escolar sem o consentimento prévio dos responsáveis legais.

A representação foi motivada por denúncias de que alunos teriam sido instigados a participar de rituais religiosos durante atividades ministradas no Centro Educacional do Lago Sul. O ocorrido representa uma possível afronta ao princípio da laicidade do Estado, assegurado pela Constituição Federal, que determina que o espaço escolar deve ser neutro e respeitoso para com todas as crenças e convicções, garantindo que nenhuma religião seja imposta aos alunos.

Considerando a importância da pluralidade e o direito dos responsáveis de serem informados e autorizarem a participação dos seus filhos em atividades que envolvem aspectos religiosos, foi solicitado ao MPDFT a apuração dos fatos e a adoção das medidas cabíveis para cessar tais práticas. Reiteramos nosso compromisso com o respeito aos valores constitucionais e à diversidade de crenças no ambiente escolar.“

Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/deputado-acusa-escola-de-ensinar-magia-e-religiao-afro-em-aula-optat

Nota: quem cometeu crime foi o deputado. Cassação nele. E se fosse algo ligado ao evangelismo? E se alguém também entrasse com uma ação contra, digamos, aulas bíblicas na escola? O deputado ficaria com mimimi de liberdade de expressão e de crença.

Ginástica mental

Em 2016, no Rio de Janeiro, um grupo de pessoas evangélicas da comunidade LGBTQIAPNB+ e alguns aliados testemunharam um marco histórico: o I Encontro Nacional do Evangélicxs Pela Diversidade, um movimento que celebra a pluralidade sexual sem as amarras do fundamentalismo e que se organiza como coletivo para enfrentar o preconceito e a discriminação por parte de muitos que se dizem cristãos. Agora, em 2024, a chama da fé da afirmação e celebração se reacende em São Paulo!

No próximo sábado, dia 02 de Novembro, a Igreja da Vila, que fica na Vila Mariana, em São Paulo, abrirá suas portas para acolher a segunda edição deste encontro que tem como objetivo trazer sérias reflexões sobre a igreja cristã no Brasil e os diversos temas ligados à realidade da comunidade LGBTQIAPNB+. Será um dia inteiro de celebração, aprendizado e debates, com palestrantes de diversas frentes e igrejas, sem medo de enfrentar esse tema que, para alguns, ainda gera tanto preconceito e desconhecimento.

A Fórum conversou com um dos organizadores do encontro, o reverendo Bob Luiz Botelho, que é ativista LGBTQIAPNB+ e membro da UN Religion Fellow, da ONU. Bob diz que as expectativas para o evento são enormes, pois “teremos 32 cidades representadas, gente vindo de todas as 5 regiões do Brasil pra participarem desse Encontro Nacional. Receberemos o Deputado Guilherme Cortez, a Deputada Patricia Gama e outras pessoas importantes do campo político pra debates corajosos. Desde a pandemia o Evangélicxs não fez nada presencial e agora a gente tá podendo oportunizar abraços que estão esperando anos pra acontecer.”

O II Encontro Nacional do Evangelicxs promete ser um espaço seguro, de compartilhamento de experiências, fortalecimento de laços e construção pontes de diálogo dentro da comunidade evangélica. “Vamos realizar a ordenação de dois pastores com anuência de 5 denominações e mais 12 igrejas locais e isso é histórico porque nós estamos felizes em poder dizer que pessoas LGBTI+ não só estão aptas a participar da vida da igreja, mas também somos capacitados e temos o direito de servir com nossos dons e ministérios”, conclui Bob Luiz.

A programação será intensa, da manhã até à noite e contará com palestras, debates, workshops, momentos de espiritualidade e muita música, tudo isso num ambiente de inspiração e celebração pela diversidade sexual como um dom de Deus, segundo os organizadores.

O evento acontece das 8h (credenciamento e recepção) até às 22 horas deste sábado (2). A igreja da Vila fica na Rua Francisco Cruz, 43, na Vila Mariana em São Paulo.

Fonte: https://revistaforum.com.br/lgbt/2024/11/1/evangelicos-celebram-diversidade-sexual-em-encontro-nacional-em-sp-168585.html

Nota: deve ser de conhecimento público que os evangélicos tem rejeição à comunidade LGBT. Estes são evangélicos e LGBT. Quantos são, percentualmente, em relação ao público total? Pois nada fazem e nada falam quando um picareta pastor faz um discurso de ódio disfarçado de pregação.

O bico de Lorena

Crônicas de Furland.

Todos os personagens são fictícios, zoomórficos e maiores de idade.

Nós estamos no melhor momento do ano. Perto da melhor festa do ano. Evidente que eu falo de Halloween, que eu conheço como Sanhaim.
Muitas faculdades estão nas provas de fim de ano. Os alunos estão com muita coisa para estudar e tem os trabalhos de conclusão de curso.

Lorena é um caso à parte. Mesmo sentada na "turma do fundão", suas notas eram exemplares. Apenas nas apresentações diante da classe, os professores ficavam mais ressabiados.
Lorena explicava fazendo performance. No mundo humano, isso geralmente gera confusão e protesto dos conservadores.
Isso não era problema em Yffiburg. O problema era a falta de espaço. Nas apresentações de Lorena, tinham que ceder o espaço do teatro e mesmo assim ficava lotado.

Lorena é um caso completamente fora de qualquer curva. Ela (ele?) é uma pessoa intersexual. Tem dias que se sente mais garoto e assim se porta. Tem dias que se sente mais garota e assim se porta. Se é que existe algum papel definido em ser homem ou mulher.
Os cidadãos nascidos em Yffiburg não tem o mesmo problema dos humanos nascidos aqui. Enquanto pessoas ignorantes negam e omitem a existência de pessoas intersexuais e transgênero, aqui em Yffiburg é tão banal quanto beber água.

Eu não especifiquei a espécie de Lorena. O Gemini sugeriu que fosse uma gata. Ou gato. Para seus muitos admiradores e admiradoras, são seus... dotes que interessam.
Eu, coitado de mim, não consigo olhar direito para ela (ele?). Dois belos melões. Duas belas nádegas. Suas roupas pouco escondem aquelas partes que sempre são mais visadas.
Eu, que sou primitivo, ainda homem e heterossexual. Velho. Mesmo nesse mundo, como Sapo Bardo, eu duvido que teria alguma chance com as mulheres (cis ou trans) dessa cidade.

Lorena estava livre das provas de fim de ano e dos trabalhos de faculdade. Então ela teria três meses para decidir qual outro curso, de qual faculdade, faria. Três meses. Faz tempo que ela (ele?) estava de olho em um dispositivo mecânico/eletrônico/digital para sua ginástica de Eros.
Ela (ele?) iria precisar de grana. Então pegou um classificado de emprego e foi olhando os anúncios. Até encontrou algo interessante. Então resolveu colocar ela mesma (ele mesmo?) um anúncio.

Dizia o anúncio:

"Procuro trabalho em Yffiburg!

Sou a Lorena, alguém que vai mudar a sua vida. Minha aparência é variável, adaptável, conforme o humor, o ambiente e a companhia. Às vezes, sou como um macho, outras vezes, sou como uma fêmea.

Busco um ambiente de trabalho que valorize a individualidade. Tenho habilidades em cuidar de coisas e pessoas. Sou adaptável, curiosa e sempre disposta a aprender coisas novas.

Se você procura alguém com uma perspectiva única e que traga um toque de magia para o seu negócio, me contrate!"

(Sugestão dada pelo Gemini, com edições)

O jornal (revista? estação de rádio? de televisão? site da internet?) recebeu tantas cartas (ligações? e-mails?) que tiveram que pedir ajuda de outros jornais.
Isso era bastante peculiar, mas em Yffiburg, ao contrário do mundo humano, são as empresas que competem para contratar os habitantes. Lorena podia escolher o trabalho, o horário, o local e o salário.

Uma resposta cativou sua atenção. (Adendo. Eu decidi a espécie de Lorena. Raposa). O nome era familiar. Olga. Seria sua boa e velha tia, moradora de uma enorme mansão?
O endereço também lhe era muito familiar. decidiu ir, para ver se seus instinto e intuição estavam certos.
Bingo. Praça da Aveleira. Cruzamento da avenida Carvalho e rua Azevinho. Era a casa (mansão?) de sua tia Olga.

Animada, Lorena tocou a campainha e tratou de gritar.

- Ooooi? Tiiiaaa Oooolgaaa! Sou eu, Loreeeeenaaa!

- Só um minuto, querida!

Uma voz doce e gentil ressoou de dentro da mansão.

- Hei, barulhenta! Quem pensa que é? Onde está sua educação?

Um vulto enorme, duas vezes maior do que ela (ele?). Era Rudolf. Com seu icônico nariz vermelho. Ela ouviu falar que ele tinha um emprego com Nicholas Claus, vulgo Papai Noel.

- Oi, Rudolf. Não lembra de mim? Lorena. Eu sei que lembra.

O rosto (focinho?) de Rudolf ficou vermelho como seu nariz. Sim, ele lembra. Ele era apenas um aprendiz de rena do natal. Era para apenas ele entregar o presente de natal para Lorena. Lorena pegou algo mais além do presente. Foi a primeira vez dele.
Tentando disfarçar, Rudolf vira o rosto (focinho?) fingindo indiferença.

- Bah! Grande coisa! Aqui é uma casa de família. Eu acho bom se comportar.

- Isso quer dizer que não quer "brincar" comigo, Rudolf?

(vapor sai dos ouvidos, apitando)- Você ouviu. Comporte-se.

- Boa tarde Lorena. Obrigada por vir. Pode limpar minha casa? Eu quero que esteja toda limpa até a festa de Sanhaim.

- Vai receber visita de outras bruxas?

(Rudolf, bravo)- Lorena! Comporte-se!

- Está tudo bem, querido. Ela não está errada. Sim, meu anjo, eu vou reunir minhas colegas da assembléia de bruxas.

- Xácomigo, tia Olga!

Lorena sabe onde fica a despensa. Ali acha um uniforme de empregada. Desses que atiçam o fetiche. Curto e apertado para seu corpo, mas para ela (ele?) estava perfeito.

Olga Dunkel herdou a mansão da família. Aquilo era grande demais e caro demais para ela.
Então ela adaptou a mansão para ser um hotel. Raramente tem vagas. Ali tem moradores temporários e permanentes.
Evidente, ela reserva os melhores quartos para as bruxas e bruxos. Muitas celebridades do mundo Furland passam temporadas ali.
Esse é o caso de Wolfred. Fez um enorme sucesso na peça Chapeuzinho Vermelho, como o Lobo Mau. Mas ficou com trauma em contracenar com jovens atrizes.
Depois fez sucesso com a peça Os Três Porquinhos. Acreditou que seria bom variar, tentar ter um relacionamento homossexual. Mas novamente, fez o papel do Lobo Mau.
Quando ficava estressado, buscava descanso na mansão de Olga. Foi o que fez, quando conseguiu férias de seu papel como Lobo Mau nas produções da Disney.

Estava sonhando com um papel de príncipe ou de herói quando uma cantoria veio ressoando pelos corredores.
Ele conhecia aquela voz. Seguiu o som. O som estava mais intenso na biblioteca. Abriu a porta. Lá estava. Ele conhecia. Lorena. Foi em uma encenação da peça O Pequeno Príncipe.
A peça era muito diferente do livro. Fora de Yffiburg, era impensável. Um sorriso cínico brotou de suas mandíbulas.

Aproximou-se, cautelosa e silenciosamente. Então a agarrou.

- Bom dia, Lorena.

- Senhor Wolfred?

- Senhor? Eu não sou tão velho. Você continua maravilhosa.

Wolfred a beijou e suas mãos enormes e fortes percorreram o corpo dela. Ela não reclamou nem resistiu. Dava sinais que estava curtindo aquele assédio.

(detalhes apenas se o/a leitor/a interagir)

Os dois estavam no chão, sem fôlego, quando deram pela presença de Rudolf. Roxo. Com a boca aberta, como se estivesse com um grito preso na garganta.
Sem perder a postura, Lorena fez psiu com a mão.

- Quer se juntar a nós, rena-piloto?

Algumas horas depois, os três estavam largados pelo chão. Wolfred juntou a força que restava e levantou.

- Venha. Vamos. Está tarde e ainda tem muita limpeza a fazer. Eu te ajudo.

Ele chutou Rudolf.

- Você também, imprestável.

Com a ajuda de Wolfred e Rudolf, Lorena conseguiu limpar tudo no tempo certo.
Olga, satisfeita com o serviço, entregou um bolo de notas.

- Tia Olga, aqui tem mais dinheiro do que o combinado!

- Eu sei, meu anjo. Considere isso um pagamento pelo seu "serviço extra" com o senhor Wolfred e Rudolf.

Olga então teve um estalo.

- Gostaria de ficar, querida? Em breve muitas bruxas vão chegar.

- O senhor Wolfred também está convidado?

- Claro, querida. Rudolf também, caso ele queira.

Rudolf temia perder o emprego, mas temia mais perder a oportunidade de continuar com o triângulo amoroso.

Feliz Halloween para todos.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Ativismo do regime farmacopornográfico

Desidentificação: rejeição das normas de produção de identidade segundo as taxonomias petrossexorraciais. Dar prioridade à invenção de práticas de liberdade mais que à produção de identidade.

Desnormalização: questionar a definição normativa da doença. Explicitar os processos de construção cultural e política da vulnerabilidade e da saúde. Entender que "sua normalidade" e "sua saúde" têm um custo e produzem a doença e a vulnerabilidade de outros.

Emancipação cognitiva: criar redes de produção de conhecimento e de representações alternativas às produzidas pelos discursos médicos, farmacêuticos, psicanalíticos, psicoló- gicos, governamentais e midiáticos.

P.A.I.N. (Prescription Addiction Intervention Now); consumo (toda forma de consumo, não unicamente o de estupefacientes) é adição. Não consuma passivamente. A comunicação é adição. Não comunique passivamente. Intervenha. Atue. Agora."

Coletivização da somateca: criar, fora do controle estatal e/ou corporativo, redes de intercâmbio de cuidados e afetos, mas também de gestos, de saberes corporais, de técnicas de sobrevivência, de células, de fluidos etc., necessários para a produção e reprodução de formas de vida descarbonizadas, despatriarcalizadas e decolonizadas. Essas redes incluem práticas de cura e de restituição diante da violência petros- sexorracial.

Desmercantilização das relações sociais: inventar práticas de produção de valor que não estejam semiotizadas pela economia, o mercado ou mesmo a troca.

Destituição de práticas institucionalizadas de violência: a inscrição da diferença de gênero nos documentos de identi- dade no nascimento é uma forma de discriminação legal e deve ser abolida. As instituições de origem patriarcal e colonial (como o casamento, a prisão, a instituição psiquiátrica e o mercado financeiro) devem ser radicalmente transformadas ou abolidas.

Restituição do expropriado, reparação do destruído: assim como as práticas que produzem violência devem ser destituídas, aquilo que foi expropriado violentamente deve ser restituído para que possa ter início um processo de reconstrução dos mundos dissidentes.

Ação por deserção: retirar-se das cadeias de reprodução social e política da violência.

Secessão: fomentar a ruptura do que foi normativamente reunido de acordo com a lógica binária ou com as categorias normativas da epistemologia petrossexorracial (homem e mulher, animal e humano, heterossexual e homossexual etc.) e que fundamenta a maior parte das instituições das

Mutação intencional e rebelião somatopolitica

democracias ocidentais (casamento, família, fazenda etc.). A secessão pode operar através da destituição ou da fuga. Criação de supercordas: como é necessário romper as uni dades identitárias formadas normativamente, é pertinente unir também o que foi separado. As associações de séries heterogêneas mostram-se, portanto, potencialmente revolucionárias. A criação de supercordas une o distante e o dissonante, associa, por exemplo, os praticantes de bodybuilding e os movimentos de luta pela vida independente, os aposentados e as adolescentes, os jovens imigrantes e exilados e os times de futebol, os coletores de trufas e as as associações de defesa dos cães, os teletrabalhadores e as linhas diretas de escuta e apoio, as trabalhadoras sexuais e a clínica antipsiquiátrica, os frequentadores do Narcóticos Anônimos e a implementação de uma rede cooperativa planetária.

Hibridação antidisciplinar: como a taxonomia capitalista petrossexorracial funciona por segmentação de valores, corpos e poderes, é pertinente hibridar o que foi separado para provocar mutações intencionais. Isso vale para as artes (literatura, cinema, música, vídeo, performance, teatro etc.), a filosofia, as ciências, mas também para as práticas institucionais. Por um lado, o cinema deve tornar-se filosofia; a filosofia, poesia; a poesia, teatro; um teatro deve ser laboratório; um laboratório, uma orquestra; uma startup, um centro de mobilização social etc., numa transformação de formas e funções que escape à economia capitalista.

Politização da relação com as próteses energéticas de subjetivação (cibertecnologias e inteligência artificial, algoritmos etc.), do Autobiohackeamento: nada vai acontecer sem uma mudança de sua própria estrutura cognitiva e de sua relação com as próteses de subjetivação técnica. Nada acontecerá se você não mudar o modo como usa aquilo que considera, erroneamente, seu próprio corpo: seu corpo não lhe per- tence mais que seu celular, o que você deve buscar para se emancipar não é propriedade e privacidade, mas uma transformação do seu uso e da conectividade crítica.

Utilize sua disforia como plataforma revolucionária.

Dysphoria Mundi, Paul Preciado, pg 523 - 526.

Vargem Grande tem bruxas

Por Madson Gama — Rio de Janeiro.

No universo das lendas e do senso comum, as bruxas são associadas a feitiços e mulheres que voam de vassoura e até chupam sangue de crianças — crenças, inclusive, que levaram muitas pessoas a serem acusadas de praticar bruxaria e acabarem executadas na fogueira a partir da Idade Média. Há também quem não acredite na existência delas. O fato é que elas existem e muitas estão em Vargem Grande, onde várias mulheres (e homens também) se intitulam como tal, vivendo uma rotina imersa no misticismo, mas diferente da ideia difundida pela mitologia. Em comum está a forte ligação com a natureza, que dita rituais diários envolvendo água, terra, fogo, ar e plantas.

Quase todas se conhecem. Elas formam uma rede de apoio, em que uma participa da vida da outra. O GLOBO-Barra esteve no bairro na última segunda-feira (21), às vésperas do Dia das Bruxas, celebrado em 31 de outubro, para entender essa cultura. A primeira parada foi no Luz das Fadas, onde a equipe de reportagem foi recebida com um chá, feito na panela, de capim-limão, louro e erva-cidreira, para a purificação do organismo. A anfitriã, Mônica Ferrão (@luzdasfadas2022), estava acompanhada de outras sete bruxas: Jane Fabres (@janefabres), Lolli Celtic (@lolli_celtic_), Marcele Scram (@marcelescram), Nathália Ribeiro, Carol Santosha (@carol.santosha), Cris Marotta (@govindacandradd_108) e Dany Stenzel (@donadanyma).

O ritual de abertura do encontro incluiu um cântico que invoca as forças da natureza e termina dizendo “amém” e “viva a bruxaria ancestral”. Tudo embalado por incensos e batuques em tambores xamânicos, usados em cerimônias sagradas. O segundo momento foi marcado por uma roda em volta de uma fogueira, com um canto que pede: “Mãe terra, ouça a nossa voz”.

— A bruxaria é verde, porque se dá muito através das plantas e das ervas. Além disso, para nós, a maior magia é a intenção, o conjuro. E a magia faz parte do nosso existir. Não é só acordar e falar: “Vou fazer uma magia”. Nós acordamos e somos a própria bruxaria. Temos uma forte conexão com as fases da Lua, as estações do ano, as pedras, os cristais... Sabemos, por exemplo, que, quando a Lua estiver minguante, vamos nos sentir mais introspectivas — explica Dany.

De acordo com Carol, tanto sombra quanto luz permeiam a bruxaria.

— A bruxaria é definida pelo trabalho com a natureza. É uma compreensão mais aprofundada das vibrações que compõem o invisível. Acabamos sendo vistas como algo ruim e temidas porque entendemos que as sombras fazem parte da nossa essência. A filosofia da bruxaria entende que o mesmo que temos de luz, temos de sombra; então, para nos mantermos na luz, temos que atravessar e curar as sombras primeiro. Assim, vamos ficar no polo positivo verdadeiramente, e não apenas no discurso. As pessoas deveriam ter medo de não trabalhar suas sombras e jogá-las para debaixo do tapete, porque uma hora elas implodem.

Cristais contra energias negativas

O esoterismo está presente em cada canto da casa de Mônica Ferrão, com diversos cristais e sinos de vento na decoração, para afastar energias negativas, fadas de biscuit e tecido na entrada, para proteção, e muitas plantas no quintal. Cada elemento faz parte do ritual diário da bruxa.

— Eu acordo às 5h, dou bom-dia para tudo e vou me conectar com as árvores. Depois, vou ao meu pé de cristal e fico ali um pouquinho, para receber as energias. Faço meus mantras e ouço algumas rezas. Só depois disso me sinto pronta para começar meu dia. No jardim, tenho os elementais, seres mágicos como fadas, duendes e gnomos que há anos são meus protetores e cuidam também das plantinhas e dos bichinhos. São as forças da natureza. É nisso que acredito — frisa Mônica. — Eu sempre me senti uma bruxa, desde a mais tenra idade. Eu morava numa casa que tinha cachoeira, e, quando estava envolvida com meus problemas, sempre ia me conectar com a água e sentia uma energia fluindo em mim. Essa sensibilidade foi se intensificando com o passar do tempo.

Embora haja cursos de formação para a bruxaria, em que se aprende, por exemplo, sobre a história e os diversos tipos de magia, a maioria das feiticeiras de Vargem Grande, assim como Mônica, se inclinou para esse universo de forma natural e intuitiva, a partir de uma espécie de chamado. Foi o caso de Jane Fabres, que viu essa sensibilidade aflorar quando foi morar no bairro, na década de 1980, atraída pelas nascentes de água.

— Vargem é o lugar do misticismo, por conta da abundância de mata e cachoeira e de pessoas que vibram na energia desses elementos. Vim morar numa casa de barro no meio de um sítio, e todo o contexto contribuiu. No meu dia a dia, costumo acionar os quatro elementos da natureza. Primeiramente, pego a energia do sol: abro a mão para ele e, quando a palma esquenta, passo-a pelo corpo. Para acordar a terra, faço uma dança indígena batendo o pé no chão. O ar já flui naturalmente; e, para absorver a energia do fogo, faço fogueira. Trabalho também com plantas medicinais e reflexologia, uma massagem curativa nos pés que beneficia todo o corpo enviando energia — detalha.

A fogueira também é parte da rotina da bruxa Nathália Ribeiro.

— Gosto de fazer transmutação no fogo: escrevo num papel coisas que não quero mais e jogo na fogueira, para que aquilo vire cinza e se transforme em energia positiva — conta.

Entre elas, um bruxo

Em meio à presença feminina maciça, um bruxo se destaca: Márcio Moreira, dono do Recarregando o Espírito (@recarregando_o_espírito), um espaço que faz jus ao título do proprietário. Repleta de espiritualidade, a casa é toda iluminada à meia-luz e contém símbolos de diferentes religiões, como o terço do catolicismo logo na entrada, pendurado na porta, e deidades do hinduísmo estampadas numa parede da sala, onde há também uma imagem de buda, uma fogueira que fica acesa dia e noite e uma cachoeira artificial que usa água da chuva.

Em um dos cômodos, Márcio montou uma espécie de capela, com imagens de divindades como Iemanjá, Nossa Senhora Aparecida, Preto Velho, Santa Sara, São Jorge, São Lázaro e Jesus Cristo ao centro. Na entrada, cristais foram embutidos no piso para atrair boas energias, o que também prometem velas e incensos espalhados por toda a casa.

— Sou universalista, o que significa absorver o que há de positivo em diferentes religiões, como catolicismo, budismo, kardecismo e evangelismo, e criar a sua própria. Sou muito sensitivo e só recebo ordens da espiritualidade, tudo de forma intuitiva. Deixo sempre uma música suave ligada para criar um ambiente de paz, mas há quem não fique bem ao entrar aqui, sentindo uma cólica e precisando sair de imediato. Já aconteceu de lâmpadas estourarem ao chegar alguém — relata ele. — Estou construindo um espaço terapêutico nos fundos do quintal e vou fazer parcerias com oraculistas, astrólogos e terapeutas de reiki para receber o público.

Produtos artesanais e serviços como ganha-pão

A alquimia, ciência mística cujo objetivo é a transformação de um elemento em outro, constitui a matéria-prima para a bruxaria de cada dia de Mariana Zogaib, nutricionista que se define também como fada e que cria produtos como sabonete e kombucha, um chá fermentado, a partir de frutos orgânicos cultivados na agrofloresta de seu quintal, como jaca, jambo, cacau, banana-d’água, tomate, hortelã, ora-pro-nobis e manjericão.

— Toda a minha bruxaria e encanto se dá dentro da cozinha, onde incorporo a bruxa alquimista, que transforma matérias-primas em produtos mágicos. Recebo o que a intuição está trazendo de informação para que eu consiga chegar a um produto final. Essa agrofloresta está no sítio que era do meu sogro e está na família há 50 anos; eu sinto a presença da nossa ancestralidade aqui — diz Mariana, dona do Projeto Germiniscência (@germiniscencia), em Vargem Grande. — Tudo o que eu faço leva Scoby, uma placa de bactérias e leveduras responsável pela fermentação da kombucha. Bato essa placa no mixer e, a partir do purê de Scoby, faço várias coisas, como máscara de argila, gelatina de algas marinhas e sabonete.

Ela começou a produzir sabonetes no final de 2020, depois que recebeu sinais por meio de um sonho, conta:

— Gosto sempre de dormir com mantras direcionados para o sono, para ir entrando numa outra frequência, até para poder me conectar mais com meus sonhos, porque eu recebo muitos sinais através deles. Sempre faço uma higiene mental noturna, para poder estar mais aberta ao que vem durante o sono. E a ligação com o sonho é uma característica metafísica marcante da bruxaria. No caso dos sabonetes, veio uma mensagem muito clara para eu começar a fazê-los.

Este grupo de pessoas que faz da bruxaria seu estilo de vida encontra em áreas como o artesanato e as artes um meio de subsistência, com produtos que acabam sofrendo influências dessa cultura esotérica. Dany Stenzel, além de atriz e instrutora de ioga, produz bonecas de pano místicas, tingidas com ervas, cacau, café e especiarias como cravo e canela. O cheiro dos produtos fica por conta da sócia Cris Marotta, que trabalha com aromaterapia e cristais.

— Faço cheirinhos personalizados. Na conversa com o cliente, entendo suas necessidades e produzo um aroma para a casa ou para ele próprio com óleos essenciais voltado para a cura — explica Cris. — Também faço terapia usando cacau, que se transforma numa bebida com propriedades que regulam a pressão arterial, são antioxidantes e dão um relaxamento espiritual.

Jane Fabres produz pomadas, óleos e xaropes a partir de plantas e ervas.

— A principal planta que uso para fazer pomadas é o guaco, que é antibactericida. Ela é indicada para mordidas de mosquito e cobra, o que tem muito em Vargem Grande — diz.

Lolli Celtic é tatuadora e faz chapéus de bruxa junto com o marido, Pedro Sol.

— Ele faz o cone do chapéu, e eu faço a aba. Depois, a gente casa as duas coisas, e ele ganha uma energia muito diferente. Usamos muito urucum dentro do chapéu, para trazer a força da ancestralidade. Então, ele é um instrumento de cura. O chapéu do Halloween não é só um enfeite; tem magia. Além da proteção, ele nos conecta com a nossa essência e o nosso propósito neste mundo — pontua.

Nathália Ribeiro é instrutora de reiki e DJ. Sempre que pode, inclui sons xamânicos em sua lista de músicas nos eventos. Mônica Ferrão confecciona acessórios como brincos e pulseiras a partir de materiais reutilizados, como cristal, sementes secas, cápsulas de café, cascalho, pedra e galho. Marcele Scram é tatuadora, artista plástica e, assim como Carol Santosha, faz rituais xamânicos.

— As pessoas sempre me procuram querendo amuletos, seja na arte desenhada na pele, na parede ou em telas. E eu procuro me conectar com elas, para que o trabalho possa transmitir uma luz e uma boa sensação. Sempre consigo incluir elementos que estão no inconsciente da pessoa, mas dos quais ela nem tinha falado. É muito mágico — diz Marcele.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/barra/noticia/2024/10/27/que-elas-existem-existem-saiba-como-vivem-as-bruxas-de-vargem-grande-video.ghtml

O poder de Heka

As vidas dos antigos egípcios eram inextricavelmente entrelaçadas com a magia. Ela estava presente em tudo, da religião à política, e do nascimento à morte. A magia era uma força tão prevalente que, no início do terceiro século d.C., o teólogo e filósofo cristão Titus Flavius Clemens, mais conhecido como Clemente de Alexandria, declarou que: “O Egito era a mãe dos mágicos.”

Até o período romano, Heka era a antiga palavra egípcia para magia, mas essa palavra não era tão claramente definida para os antigos egípcios, e podia ser vista como uma força da natureza que também podia assimilar os atributos de um ser divino em forma humana. Como um ser, acreditava-se que Heka havia sido criado por Atum no início dos tempos, ele também era considerado filho de Khnum, que também criou as almas dos indivíduos. As lendas dizem que Heka lutou e conquistou duas serpentes, e ele era geralmente retratado como um homem sufocando duas serpentes gigantes entrelaçadas.

Enquanto a prática da magia era aclamada por suas propriedades vivificantes e de aprimoramento por alguns — por exemplo, era ligada a remédios na medicina, também era vilipendiada por outros como uma arte obscura. Este conceito é examinado mais a fundo na seguinte apresentação 'Magia e Demonologia no Egito Antigo' com Rita Lucarelli, Professora Associada de Egiptologia, Departamento de Estudos do Oriente Próximo; Curadora da Faculdade de Egiptologia, Museu de Antropologia Phoebe A. Hearst, Universidade da Califórnia, Berkeley. No vídeo, Lucarelli revela como os conceitos de 'magia' e 'demônios' eram definidos e usados no Egito antigo, com foco especial nos papéis que os demônios desempenhavam em práticas e feitiços mágicos.

O uso de amuletos como um dispositivo apotropaico era muito comum, pois todos, do rei aos plebeus, queriam evitar a má sorte.

Fonte, citado parcialmente: https://www.ancient-origins.net/news-ancient-traditions-preview/egypt-magic-heka-0021533