domingo, 6 de julho de 2025

O modelo Orbán

“Em meio ao desfecho próximo do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe de Estado, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro observam o início de uma mudança significativa em seu discurso político. Durante um ato na Avenida Paulista no último domingo (29), Bolsonaro, pela primeira vez, concentrou mais energias e focou seu apelo na eleição de uma maioria no Congresso Nacional, em vez de insistir em sua própria candidatura à Presidência em 2026.”

O comentário de Andreia Sadi coincide com o de vários outros comentaristas. João Cezar de Castro Rocha, por exemplo, vem reiterando que o interesse de Bolsonaro e de toda a direita e extrema direita é conquistar maioria no Congresso Nacional particularmente no Senado Federal. "Exatamente como fez o primeiro ministro da Hungria Viktor Orbán." A estratégia da extrema direita brasileira de conquistar a maioria no Senado tem paralelos diretos com a trajetória de Viktor Orbán na Hungria — e é justamente esse o alerta feito pelo professor João Cezar de Castro Rocha.

O modelo Orbán inspira a extrema direita no Brasil - Viktor Orbán não deu um golpe. Não fechou o Congresso. Nem precisou suspender eleições. Mas hoje governa um país onde a democracia virou uma casca — bonita por fora, apodrecida por dentro. A “revolução legal” promovida por Orbán é, segundo o professor João Cezar de Castro Rocha, o modelo ideal para a extrema direita brasileira.

“A ideia não é destruir o sistema: é capturá-lo”, alerta o professor. Em entrevista ao podcast Onde Vamos?, Castro Rocha traça o paralelo direto entre o bolsonarismo e o projeto iliberal que Orbán levou à frente na Hungria: manipular a Constituição, desacreditar o Judiciário, controlar a mídia e infiltrar ideologia religiosa na política.

Enquanto Orbán usou a maioria parlamentar para redesenhar o Estado húngaro, aqui no Brasil a extrema direita aposta em ataques sistemáticos ao STF e ao TSE, tentando destruir a credibilidade das instituições para depois dominá-las. O 8 de janeiro foi apenas a forma bruta de uma tática mais longa e inteligente: "transformar o sistema por dentro, mantendo uma aparência democrática."

Se na Hungria o governo se aliou à Igreja Católica para sustentar seu autoritarismo, no Brasil o elo é com o neopentecostalismo de viés teocrático. Castro Rocha chama a atenção para a chamada “teologia do domínio”, adotada por setores evangélicos que sonham com um Estado regido por princípios religiosos — desde que interpretados por seus próprios pastores.

Celular: a arma mais poderosa - A arma mais poderosa da nova extrema direita não está no púlpito nem no palácio: está no celular. A digitalização da política, o uso de fake news e a criação de “verdades alternativas” — turbinadas por algoritmos — permite ao bolsonarismo aplicar a mesma lógica de Orbán sem precisar fechar jornais ou mandar prender jornalistas. Basta descredibilizar tudo.

“Não há mais disputa racional”, diz Castro Rocha. “Eles constroem uma realidade paralela, onde o bolsonarismo vira fé, e a democracia, inimiga”. Enquanto a esquerda aposta em programas sociais e medidas institucionais, a extrema direita aposta em emoção, ressentimento e espetáculo — um coquetel eficiente que seduz, radicaliza e transforma cidadãos em soldados ideológicos.

A estratégia da extrema direita brasileira de conquistar a maioria no Senado tem paralelos diretos com a trajetória de Viktor Orbán na Hungria — e é justamente esse o alerta feito pelo professor João Cezar de Castro Rocha.

A comparação de Castro Rocha - Na Hungria, Orbán usou a maioria de dois terços no Parlamento, conquistada democraticamente, para reescrever a Constituição em 2011. Com isso, impôs regras que dificultam a alternância de poder, enfraqueceram o Judiciário, submeteram a mídia e permitiram o controle de agências reguladoras. Tudo “dentro da lei".

No Brasil, a extrema direita busca conquistar o Senado como peça-chave para repetir essa lógica: com maioria, pode aprovar emendas constitucionais, nomear aliados ao STF e ao STJ, pressionar ou deslegitimar o TSE e blindar juridicamente o projeto autoritário.

Orbán nunca precisou dar um golpe clássico. Sua estratégia foi usar as próprias ferramentas da democracia liberal para subvertê-la: criar regras de jogo que garantem sua permanência no poder. Um autoritarismo de verniz democrático.

Segundo Castro Rocha, o bolsonarismo aprendeu essa lição: não é necessário romper com a legalidade — basta usá-la contra seus próprios princípios. Com o Senado dominado, seria possível desidratar a Constituição de 1988, enfraquecer a separação dos poderes e pavimentar um “Estado de exceção permanente”, disfarçado de ordem institucional.

Controle do Judiciário como objetivo comum - Em Budapeste, Orbán nomeou aliados ideológicos para as cortes superiores, criou um Conselho Judicial obediente e reduziu a autonomia do Ministério Público. A consequência é a ausência de freios ao Executivo.

No Brasil, a ofensiva contra o STF tem sido constante. Ter o controle do Senado permitiria à extrema direita indicar ministros com perfil alinhado ao autoritarismo — o que, ao longo do tempo, deslocaria o centro de gravidade institucional para o lado da repressão e da impunidade.

O paralelo é claro: Orbán é um espelho no qual a extrema direita brasileira se mira. Ambos usam as estruturas democráticas para construir, legalmente, regimes autoritários. Conquistar o Senado, nesse contexto, não é apenas mais um passo eleitoral — é a chave para selar, por dentro da democracia, o seu próprio fim.

Fonte: https://www.brasil247.com/blog/a-chave-para-selar-por-dentro-da-democracia-o-seu-proprio-fim

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