- Bom dia a todos.
- Major de um batalhão. A senhorita não é muito jovem?
- Depende. Qual a idade de referência? Afinal, eu tinha 33 anos antes de reencarnar nesse corpo.
- As pessoas podem perceber a senhorita dentro de uma faixa etária. Como a senhorita responde a isso?
- Tolice. Eu sou um personagem, não uma pessoa real. Ainda que se for considerar alguma cronologia pela referência do Mundo Humano, eu tenho mais de cem anos.
(nota: ela tinha 33 anos na encarnação anterior e ela reencarnou em 1914 perfazendo o cálculo 2021+33-1914=140)
- Você lembra de sua encarnação anterior?
-Oh, sim. Eu fui um assalariado japonês. O curioso, por uma questão de registro, é que a minha encarnação anterior deu-se entre 1980 e 2013, era vulgar. Por obra da entidade X [que eu também chamo de Seimei], eu fui reencarnada em uma outra dimensão bastante semelhante ao Mundo Humano, em 1914, era vulgar.
- Deve ser complicado. Você reencarnou, teoricamente, em uma data histórica anterior à sua encarnação e, como se não fosse o suficiente, em um corpo feminino. Como você lida com isso?
- Eu reencarnei com alguns privilégios. Eu não esqueci aquilo que aprendi como assalariado japonês. Então eu lido com tranquilidade o fato de que meu sexo anatômico é diferente de minha identidade e preferência sexual.
- Qual a sua relação com seus comandados, em especial a senhorita Viktoriya Ivanovna Serebryakov?
[virando o rosto]- Absolutamente profissional.
- Não há nem um pouquinho de atração física ou sexual?
[enrubescendo]- Eu dei ordens explícitas a todos que não façam nada sexual, já que somos companheiros de armas.
- Mas a senhorita é a única que a chama de Visha.
[vermelha]- Nós... estudamos juntas no Colégio de Cadetes. Foi uma feliz coincidência nos reencontrarmos em 1923 [data de referência dessa dimensão], no fronte oeste, quando a República Franca tentou invadir o Império [referências dessa dimensão similares às ocorridas no Mundo Humano].
- Não acha suspeito o fato dela ser originária da República Russa?
- Não. Viktoriya nasceu em Rus durante o regime czarista em Moscou e, durante a guerra civil, ela fugiu com sua família e buscou refúgio no Império. Ela esqueceu a maior parte de suas memórias de infância em sua antiga terra natal e tudo o que restou foi fugir do Exército Vermelho.
- Então a senhorita não tem qualquer atração física ou sexual por sua tenente?
[roxa]- Não. Nenhuma. Podemos ir para outra pergunta?
- O seu dossiê militar é impressionante. A senhorita se ofereceu voluntariamente para ser cobaia do Elenium 95!
- O doutor Adhelheid von Schugel pediu-me esse favor, considerando o meu talento precoce em manipular a energia mágica.
- Não acha isso contraditório?
- Explique-se.
- O seu dossiê, ao citar seus relacionamentos, diz a respeito da entidade X, que a senhorita o odeia profundamente e guarda um rancor indescritível contra ele. Por ser atéia, a senhorita se recusa a reconhecê-lo como seu Criador.
- Eu sou uma libertária, eu defendo o livre arbítrio e a busca por uma vida confortável.
- Ainda assim, não é contraditório? A senhorita reencarnou e demonstrou habilidades paranormais.
- Citando: "quando você elimina o impossível, tudo o que resta, por mais improvável que seja, deve ser a verdade".
- Uma frase atribuída a Sherlock Holmes, um personagem literário, que não tem evidência de existência.
[impaciente]- Eu sou um personagem de anime. Eu também não tenho evidência de minha existência mas, como qualquer idiota pode ver, eu estou aqui.
- Isso não faz a senhorita questionar seu ateísmo?
- Não. Eu simplesmente aceito a realidade tal qual eu a vivo.
- Não é apenas teimosia, como consta em seu dossiê?
[zangada]- Eu não sou a representante do ateísmo. O que eu acho ou penso é irrelevante. Considerando que a minha atual condição é um ato de sadismo da entidade X, eu acho que os descrentes vão entender a minha teimosia.
- Isso inclui suas técnicas?
- Sim. Demonstrou eficácia, eu mantenho. Eu sou metódica, como deve ter notado.
- Sim, como sua lealdade e tenacidade, mesmo diante de uma missão suicida.
[convencida]- Eu sou o melhor soldado do Império.
- Qual a sua expectativa, considerando que conhece o transcorrer da história, diante dos inimigos, aliados e nações que se declaram neutras?
- Não muita. O anime do qual eu faço parte [Youjo Senki] não teve continuação. O Império ruirá, dando espaço à República e ao Terceiro Reich. A sequência, como sabemos, é a Segunda Guerra Mundial. A minha memória da encarnação no Mundo Humano [do ano de 2013, era vulgar] diz que essa dimensão passará pelas mesmas provações.
- Como encararia se seu batalhão tivesse, entre seus comandados, algum soldado originário do Reino de Ildoa [similar à Itália, no Mundo Humano], ou, quem sabe, originário do Reino de Southerly [que eu apontei aqui como sendo similar ao Brasil, no Mundo Humano]?
- Eu não tenho informações suficientes para dar uma opinião. Em minha encarnação anterior, qualquer pessoa de outra nação é vista como estrangeiro. Na atual encarnação, latinos são vistos como barulhentos, preguiçosos, folgados e atrevidos.
- Para qual time a senhorita torce?
- Eu não sou muito aficionada em esportes, mas se eu tivesse que escolher um, eu escolheria tiro desportivo.
- Qual a sua opinião política?
- Considerando a minha atual encarnação, eu apoio o Imperador e tendo a avaliar as decisões do Parlamento conforme as circunstâncias. Se eu for pensar na minha encarnação anterior, eu também apoiava o Imperador e mantinha minhas opiniões diante das decisões do Primeiro-Ministro.
- Como a senhorita vê sua participação no cross-over Isekai Quartet?
- Não muito bem. Eu tenho que fazer comédia. No universo do Youjo Senki eu fico mais à vontade. Nesse, do Isekai Quartet, tem o Ains que é também um ser humano que reencarnou dentro de um vídeo game. Eu tenho que recusar os convites dele de fazer parte das Plêiades. Eu fico incomodada com a impressão de que ele queira me incluir em algum tipo de harém.
- O tema de seres humanos reencarnados em outro mundo ou em um vídeo game são constantemente utilizados no Universo do Anime.
- Sim. No Isekai Quartet tem o Subaru Natsuki, Kasuma Sato, Naofumi Iwatami e Seiya Ryuguin.
- Como a senhorita lida com o gênero ecchi do Universo do Anime?
- Com repulsa. Embora eu entenda sua popularidade, considerando a minha encarnação anterior como homem.
- Então a senhorita não aprova os doujinshi nos quais a senhorita é retratada?
[roxa]- Desprezíveis. Mas eu estava sem trabalho e eu tenho que pensar em minha carreira.
- Então a senhorita está ciente de que existem pessoas que leem esse tipo de material?
[fumegando]- Sim.
- Permita-me aproveitar a deixa. Como a senhorita encara a obsessão do Comissário Loria?
[roxa e fumegando]- Constrangida. Se eu considerar que, em minha encarnação anterior esse tipo de "entretenimento" é comum no Japão.
- Em sua encarnação anterior a senhorita consumia esse tipo de "entretenimento"?
[explodindo]- Não.
- Mas entende porquê esse gênero de arte é procurada?
[se abanando]- Eu acho que sim. Eu sou um personagem, certo? Um personagem com atributos femininos. Loria é um personagem com atributos masculinos. Então eu acho normal haver atração física e sexual. No Mundo Humano, personagens estão além de qualquer forma de cronologia. No Mundo Humano, pessoas tem fetiches, fantasias, que são preenchidas com personagens. Na fantasia, uma pessoa pode se imaginar tendo qualquer forma física e interagir com personagens, nesse Mundo do Anime, onde fator como "idade" não se aplica. Então isso explica porquê eu aceitei encenar esses doujinshi.
- Como a senhorita encara as leis que visam proibir esse tipo de arte?
- Ridículas. Eu preciso trabalhar. Eu sou um personagem, eu não sou uma pessoa real. Eu sou retratada como uma forma feminina, então eu vejo com naturalidade que pessoas [homens e mulheres] tenham alguma atração física ou sexual por minha forma.
- Permita-me retomar. Então a senhorita está ciente de seu sexo e sexualidade e não se importa em ser vista como objeto sexual?
[enrubescendo]- Eu sinto que o senhor está provocando de propósito. Bom, embora eu tenha tido uma encarnação anterior como homem, eu estou ciente de que nesta encarnação eu tenho um "corpo feminino", com a mesma sensibilidade e desejos.
- Isso não é confuso?
- Não. Em minha encarnação anterior eu li algo a respeito de pessoas intersexuais e pessoas transgênero. Isso deixa mais fácil entender o que sinto quanto ao meu sexo e sexualidade.
- Então nós podemos presumir que a senhorita gosta de meninos e meninas?
[roxa]- Sim, vocês podem.
- Como a senhorita vê a objeção de algumas formas de feminismo contra a pornografia, a prostituição e a sensualidade natural da mulher?
- Como eu vejo a objeção de algumas feministas por eu [ou qualquer forma feminina] ser vista como objeto sexual, eu imagino? Confusa, eu diria. Eu sou um personagem feminino, meu "corpo" foi criado com formas femininas atraentes. Um corpo feminino é naturalmente um "objeto sexual", um resultado evolutivo, porquê eu seria contra? Eu acho que, o que deve ser modificado, é a forma como a pornografia e a prostituição são produzidas.
- Então o doujinshi com a senhorita e esse gênero de "entretenimento" não deve ser proibido?
- Não. Eu preciso trabalhar. O meu trabalho alivia a frustração sexual de homens e mulheres. O meu trabalho é uma válvula de escape de muitas fantasias sexuais. Eu prefiro que meu público tenha seus orgasmos em segurança do que se arrisquem nas ruas. Eu posso dizer até que meu trabalho evita abuso e violência sexual.
- Para encerrar, como a senhorita encara estar sendo entrevistada por um escritor pagão?
- Com curiosidade. Eu imagino que o seu convite tenha um interesse especial. Eu deixo aos seus eventuais leitores descobrirem.
- Obrigado por ter vindo, major Tanya Degurechaff. Despeça-se do público e deixe sua mensagem.
- Senhoras e senhores, obrigada por me ouvirem. A minha mensagem é que tenham uma vida feliz, próspera e repleta de conforto.
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