sexta-feira, 24 de abril de 2020

Amor e crime

Era para ser um dia como outro qualquer. Se não fossem as circunstâncias que nos conduziram até aqui. Saudações, eu sou Satou Matsuzaka, uma garota como qualquer outra do Colégio Makikou. Eu acabei de voltar da casa da minha melhor amiga, Shouko Hida, não exatamente para estudar e fazer as tarefas passadas pelos nossos professores. Ah, sim, eu esqueci do principal. Eu larguei, deixei de lado qualquer contato com meninos. Ou homens… o que é a mesma coisa. Não foi difícil encontrar garotas e Shouko mostrou-se bastante interessada e aplicada em nosso… relacionamento. O perfume de Shouko ainda estava vívido em meu nariz, minhas mãos ainda estavam meladas com nossos fluídos corporais e minhas pernas estavam bambas quando eu cheguei em casa e foi ali que tudo começou a mudar.
- Oi, mãe, eu cheguei.
– Satou chan! Eu tenho uma novidade incrível para você!
- No… novidade?
- Hai! Eu vou me casar!
Eu me segurei como eu pude. Mamãe não toma jeito. Ela está sempre às voltas com homens. Sempre acaba quebrando a cara, em muitos sentidos e sou eu quem acaba tendo que “resolver” o problema, o que nos leva a mudar de cidade. Tudo começa a rodar e é inevitável o enjoo.
- Mãe! De novo? Essa é a quarta ou quinta vez! Quando vai aprender?
- Ah, meu moranguinho, antes foi antes. Eu agora acertei a mão. Você vai ver! Seu futuro pai, Rintaro, é homem de verdade.
- Você falou isso das outras vezes. Você tinha me prometido que seria só nós duas, depois da última vez.
- Satou chan, isso não é justo. Você tem sua amiga… como é mesmo o nome? Shouko. Eu também preciso de alguém. Vamos, não fique assim com essa expressão, senão vai ficar velha mais cedo. Além do que está tudo combinado e acertado. Nós vamos nos casar em um mês.
- Ma… mamãe! Como você “resolve” isso sem me avisar, sem me consultar? A quanto tempo conhece esse homem?
- Ah, meu moranguinho, isso foi pouco depois que chegamos em Shiou. Eu conheci Ritaro enquanto eu trabalhava e tudo fluiu tão naturalmente que aconteceu. Eu sei que te deixei de fora, perdoe-me, mas eu sabia que você ficaria contra.
- Você tem ideia no que está nos metendo, mãe?
- Hai! Foi por isso que nós resolvemos que você passaria a viver com seus futuros irmãos até o casamento. Você vai ver só! Voltar a ter uma família, um pai e irmãos, vai nos colocar de volta nos eixos.
Eu crispei minhas mãos no espaldar da cadeira, fazendo com que lascas de madeira saltassem pelo ar. Isso não é bom. Isso não tem futuro. Isso não vai terminar bem. Minha cabeça gira, pensando e repensando na dor, no desconforto, no medo e incerteza, que eu e minha mãe sentimos a cada mudança. Eu morei em tantos lugares quanto pessoas eu matei. Desde meu primeiro pai. Ele nos mataria, se tivesse tido chance. Ele foi o primeiro onde eu vi aquela expressão de medo, horror, surpresa e desespero, enquanto sentia sua vida esvair. Ele foi o primeiro com quem eu descobri meu lado sombrio e essa força sobre-humana.
- Não fique assim, meu moranguinho. Não julgue sem conhecer. Vamos, seja uma boa garota, arrume suas coisas. Amanhã cedo o caminhão de mudança vem levar as coisas mais pesadas.
Mamãe só estendeu um pedaço de papel com o nosso novo endereço. No topo do papel rasgado do meu caderno, em letras maiúsculas, eu leio: MANSÃO ASAHINA. Mamãe nunca foi boa com sutilezas. Exceto quando ela me chama de “moranguinho”. Ela começou com esse apelido depois de minha “conversa” com papai… o primeiro… tudo porque meu uniforme de colégio estava inteiro coberto pelo sangue dele. Sim, eu não estava satisfeita, para dizer pouco, mas ela ainda é minha mãe. Eu subo pelas escadas, batendo os pés tão forte que trinca onde eu piso. Meus olhos estavam cheios de lágrimas quando eu quase estouro a porta do meu quarto ao fechá-la. Eu me jogo na cama e aperto o travesseiro, imaginando o pescoço do meu futuro novo pai. Por fim, encaro a lua brilhando através da janela e solto meu grito mais selvagem. Instintivamente, eu pego meu celular e aperto a discagem automática.
- Alô? Satou? O que foi?
A voz de Shouko do outro lado me acalma e me consola.
- Princesa… mamãe vai se casar…
- Hã? Que? Mas como… Ela não pode… Isso é sério?
- Infelizmente sim… [snif] Eu não sei o que fazer… [snif] Eu não sei o que eu vou fazer se eu ficar sem minha Princesa… [snif]
- Eu… [snif] Meu coração também dói… [snif] Satou… Vamos pensar com calma… Olha, aconteça o que acontecer, eu NUNCA JAMAIS vou te deixar, oquei?
- O… oquei.
- Isso! Eu serei sua rocha, assim como você foi a minha. Agora… vamos aos fatos. Qual é o plano de sua mãe?
- Ela agendou o caminhão de mudança para amanhã. Ela praticamente me intimou a arrumar as coisas e ficar pronta para ir para a nossa nova casa.
- Ligeira! Oquei, foco! Arrume suas coisas. Amanhã bem cedo eu vou onde vocês estão. Como se eu fosse te pegar para ir na escola, entendeu? Eu gentilmente me ofereço para ajudar na mudança. Assim eu te acompanho e sondo o território inimigo.
- Vo… você promete?
- Eu prometo! Eu quero ser a primeira a inaugurar seu quarto novo.
[risos]- Shouko… só você para pensar em sacanagem em um momento tão crítico.
[risos abafados]- Eu fico feliz quando você fica feliz.
[gemido abafado]- Essa linha é minha.
[respiração audível]- Não… não é… [gemido]
[respiração acelerada]- Shouko… você está…
[respiração acelerada, gemidos]- S…Satou…
Cinco minutos. Bastam cinco minutos. Eu esqueci mamãe, casamento, mudança. Minhas mãos se afundam enquanto eu penso no corpo de Shouko, nas lindas mãozinhas delicadas dela, no cheiro de nossos corpos se entrelaçando. Nossos gemidos ressoam alto através de nossos celulares. Dane-se o monitoramento do Governo. Estrelas pipocam no forro do meu teto. Meu corpo parece que vai derreter. Por dez longos minutos, eu mal posso me mover. Minha pulsação e respiração estão descontroladas. Tudo em minha volta é cor de rosa.
- Sho… Shouko… eu tenho que desligar. Eu tenho que arrumar minhas coisas.
– Hai. Amanhã cedo eu estou aí. Promessa.
Eu largo o celular, mas eu sinto a presença de Shouko. Minhas mãos e pernas ainda estão trêmulas, mas eu consigo ajeitar minhas coisas. Deve ser prática. Quando eu volto para a cama, meu corpo parece um saco de batatas. Eu simplesmente apago.
- Bom dia, moranguinho! Acorda, preguiçosa! O caminhão da mudança chegou e sua amiga também.
Sete da manhã. Mamãe está animada demais. Minhas malas estão onde eu deixei. Sem falar ou responder, eu troco de roupa e desço as escadas. A casa está cheia de homens. Eu sinto os olhos nojentos deles sobre mim. Eu me seguro para não matá-los.
- Satou! Bom dia! Eu vim te buscar para a escola. Mas parece que você vai se mudar, né?
Shouko está no que restou da cozinha, sentada em um caixote, tomando chá em um copo de vidro e mastigando um pão velho. O sol da manhã lança luz através da persiana por sobre seu uniforme de colégio. Se não tivesse tanta gente estranha olhando, eu rasgaria esse uniforme e transaria com ela ali mesmo.
- Bom dia, Shouko. Pois é. Desculpe. Coisa da minha mãe. Ontem de noite ela resolveu que nós vamos morar na casa de meu futuro padrasto.
- Mesmo? Senhora Matsuzaka, parabéns!
- Hai! Obrigada, Shouko.
- Como senpai da Satou, é minha obrigação ajudá-la na mudança.
- Hai! Boa ideia, Shouko. Assim, Satou fica menos estressada.
Mamãe é fácil de enganar. Ela ainda acredita que eu e Shouko somos apenas boas amigas. Ela simplesmente se desliga de nós e fica saltitante, dando atenção aos homens da mudança, dando comida e cerveja. Ela nem liga quando esses homens nojentos alisam ela. Eu sei muito bem o que se passa naquelas mentes sujas. Eu sei que eles sonham em pôr as mãos em mim. Aqueles que tiveram tal ousadia não vivem mais.
- Oquei, meninas. Tudo empacotado. Podemos partir.
O caminhão foi na frente, eu e Shouko sentamos naquela van velha, competindo espaço com caixas e malas. Mamãe ligou o rádio em alguma estação e cantarolava aquelas músicas piegas românticas. Eu não estava no meu melhor humor, para dizer o mínimo, quando eu senti algo nas minhas pernas. Shouko fazia a expressão de pôquer mais perfeita enquanto deslizava seus dedos entre minhas coxas. Ainda eram quinze para as oito da manhã, mas para mim o sol brilhava como se fosse meio dia.
- Hai! Chegamos, meninas.
Eu voltei para a realidade tão rápido quanto a mão de Shouko saiu do meio de minhas pernas. O pessoal da mudança estava no meio do trabalho. Aparentemente recebendo ajuda de outros homens. Aqueles que, possivelmente, eu terei que chamar de irmãos. Mamãe é uma pessoa comum, classe média ou, como diz meu professor, pequeno-burguesa, que procura mais em ter do que ser. Ela deve estar achando que está dando o golpe do baú. Ela realmente acredita que homem rico é diferente.
- Nossa! Vocês vão morar aqui? Uau!
Ao contrário da mamãe, Shouko sabe como fingir. Eu posso dizer sem modéstia alguma que ela tem mais consciência política e social do que muitos alunos. Ela fica ao lado da mamãe para apreciar a vista.
- Saudações. A senhora deve ser nossa futura madrasta. Muito prazer. Eu sou Masaomi e este é…
- Wataru! Prazer em te conhecer, mamãe!
- O prazer é meu! Embora nós tenhamos nos conhecido antes. Permita-me apresentá-los…
- Ah! Vocês vão ser minhas irmãs mais velhas? Por favor, cuide bem de mim!
- Perdoe Wataru. Ele é sempre assim, atrevido.
- Ele é adorável! Mas eu só tenho uma filha. Apresente-se, moranguinho!
- Saudações. Satou Matsuzaka. E esta é a minha melhor amiga, Shouko Hida.
- Prazer em conhecê-las. A senhorita Hida também é bem vinda à nossa humilde casa.
- Hai! Obrigada! Prazer em conhecê-los!
Foi assim que eu conheci onde seria meu futuro lar e meus irmãos. Eu conheço casas de alto luxo por fora e por fotos. A Mansão Asahina tem cinco andares, certamente vários cômodos. O saguão de entrada é grande como a casa de onde saímos. Muito luxo e requinte. Eu não sei se vomito agora ou depois. Um elevador liga os níveis. Masaomi se detém diante de uma porta com um cartaz dizendo “bem vinda, irmã”.
- Nós nos demos a liberdade de colocar os móveis. Mas se não estiver do seu agrado, basta dizer.
Masaomi abre a porta e Wataru faz aquela misura desnecessária. Grande. Dá dois ou três do meu quarto original.
- A chave, irmã. A porta também tem fechadura de segurança alfanumérica que você pode programar.
- Ai, caramba! Essa cama é o máximo!
Eu não consigo evitar meu embaraço. Shouko foi entrando e deitando na cama.
- A senhorita Hida tem bom gosto e sofisticação. Sim, essa é certamente a melhor cama. Mas se tiver algo que você quiser trocar, irmã, basta dizer.
- Hã… não… tudo bem… eu só vou precisar de um tempo para me acostumar.
- Fique à vontade. Nós preparamos um chá de confraternização para você conhecer a todos. Doze horas está bom?
- Eh… sim… eu acho que sim.
- Excelente. Arrume suas coisas e descanse. Nos vemos às doze, no salão de jantar. Ah, sim, fique com esse mapa, para se orientar.
- O… obrigada.
- Não há de quê. Bem vinda, irmã.
Educados. Gentis. Atenciosos. Eu não notei sequer um sinal de intenção sexual. Isso é novidade para mim. Existem homens assim? Meus pensamentos são interrompidos pelo abraço de Shouko.
- Hei… irmã… a cama está muito vazia. Se importa em me fazer companhia?
Minhas roupas somem rapidamente. Assim como minha consciência. Depois eu penso nos meus irmãos. Agora eu tenho que cuidar da minha Shouko.
O som suave e harmonioso que ressoa pelos corredores faz com que eu acorde e eu olho ainda incrédula para o dossel acima da cama enrolado com suaves tecidos brancos de seda. Eu ainda custo crer que eu estou vivendo esse sonho de princesa. Eu perdi completamente a noção de tempo, descansando nesse colchão forrado com lã de carneiro e alpaca.
– Hei, preguiçosa, acorda! Esse deve ser o sinal para o chá de confraternização onde você vai conhecer seus futuros irmãos.
Shouko está fechando o zíper da saia quando alguém bate na porta.
– Irmã? Está acordada? Está vestida? O chá está pronto!
Desligada como sempre, Shouko abre a porta e eu tenho que me enrolar com aquele caríssimo lençol de cetim.
– Oi! Wataru, né? Ela vai estar pronta em cinco minutos, né, Satou?
– Pois é. Eu sou rápida.
– Oba! Shouko chan também vai vir?
- Infelizmente eu não vou poder ir, Wataru. Eu tenho que ir à escola. Eu vou avisar para a secretaria que você vai faltar hoje, ocupada com a mudança, combinado, Satou?
– Não se esqueça de me trazer a matéria e as tarefas de hoje, lá pelas seis da tarde.
– Hai! Tchauzinho.
Shouko se vai e eu me sinto terrivelmente sozinha e abandonada. Não tenho muita opção senão me arrumar. Então eu noto que minhas coisas estão “milagrosamente” guardadas no lugar. Boa garota, Shouko. Meu cabelo está horrível, mas vai ter que aguardar. Eu visto o conjunto de blusa, saia, meias e cinto mais fuleiro que eu tenho, eu não tenho tempo para me produzir. Eu pego o mapa, uma vez que eu vou ter que me achar por conta própria. Eu aciono o elevador, o monitor mostra a seta subindo e a cadência dos andares quando eu sinto aquele nojo instintivo.
– Boa tarde, bela do dia. Você deve ser a nossa futura irmã, né?
Eu me viro para encarar a fonte daquela fedentina, mas ele está perto demais. Eu só sinto os braços dele me envolvendo. Um homem desconhecido te abraçando. Não é necessário muito raciocínio. Meu joelho acerta as bolas dele em cheio. Ele se contorce no chão, tentando recuperar o fôlego.
– Tsubaki? Você não está importunando nossa irmã, está?
Outro chega e eu acho que estou vendo dobrado, pois o que está no chão é igual ao que acabou de chegar, salvo alguns detalhes.
- Tsc. Tsubaki, você não tem jeito. Veio importunar nossa irmã. Recebeu o que merece. Saudações, eu sou Azusa e este no chão é meu irmão gêmeo, Tsubaki. Por favor, não nos julguem mal só por causa de meu irmão imaturo.
Eu sei o suficiente sobre homens e o que eles têm na cabeça. Quando as coisas não saem como planejado, eles dizem que era só brincadeira. Quando querem tentar ser gentis. Falam coisas bem piores.
– Hei, eu ouvi um som de coisas quebrando. Quem está brigando?
– Oi Subaru. Tsubaki levou uma boa de nossa irmã.
– Mesmo? Parabéns, irmã. Faz tempo que ele merecia levar uma surra.
- Hei vocês aí em cima? Vão descer ou ficar brigando?
– Hunf. Lá vem o Masaomi dar uma de pai. Melhor nós descermos. Ukiyo não gosta de atrasados.
O elevador abre com um leve sinal de campainha. Os dois que estão em pé revezam os olhares entre eu, o abusado e o elevador.
– Eu concordo. Vamos. Mas sem esse lixo, por favor. Muito prazer, meu nome é Satou Matsuzaka.
Eu entro no elevador e aperto o andar térreo. Os outros dois entram juntos. Eu nem olho para eles. Curiosamente eu não sinto coisa alguma deles. Eu sou muito boa nisso. Será que existem homens que conseguem esconder muito bem suas intenções? O elevador abre quase na entrada da cozinha. Uma vez eu vi em um filme a cozinha de um hotel de luxo. Parece a padaria da esquina comparada com essa cozinha.
– Boa tarde, atrasados. Vocês vão ficar sem pudim.
– Não seja cruel, Ukiyo. Tsubaki nos atrasou.
– Desculpa não aceitas, Azusa. Ele é seu irmão gêmeo. Você deveria discipliná-lo.
– Eu vi tudo. Como é de se esperar de Tsubaki, ele foi importunar nossa irmã.
– Ah. Entendo. Nesse caso, eu vou abrir exceção. Mas só dessa vez. Por nossa irmã.
Eu estou com uma sensação estranha e esquisita. Ou será vontade de rir em ver aquele homem, todo engravatado, vestindo um avental, fazendo e servindo comida? Eu estou passando por muitas novidades.
– Ah, sim, Yusuke ligou avisando que vai se atrasar. Ele está estudando para as provas semestrais.
– Wataru também ligou dizendo que está preso no trânsito.
– Francamente. Eu não sei por que eu ainda aceito essas desculpas esfarrapadas.
– Porque você é nosso irmão, Ukiyo.
– E porque você é justo, como o advogado da família.
Os três riem e eu fico sem entender coisa alguma.
– Oi pessoal. O que eu perdi? Eu consegui trazer o Kaname.
– Que todos os seres encontrem a felicidade e as causas da felicidade. Que todos os seres se libertem do sofrimento e das causas do sofrimento. Que todos os seres encontrem a felicidade livre de sofrimento. Que todos os seres vivam em equanimidade, livres de paixões, de agressões e de preconceitos.
– Oh, bem, pelo menos Masaomi e Kaname estão presentes. Eu espero que isso seja aceitável para você, irmã.
Silêncio. Minha mente está espaçando. Quanto mais inimigos eu terei que enfrentar?
– Hã? Ah… claro, sem problema. Nós temos muito tempo para nos conhecer. Prazer em conhecer a todos. Eu sou Satou Matsuzaka.
Os cinco riem e eu fico sem entender coisa alguma. Minhas emoções, sensações e intuições estão bagunçadas. Eu nunca tinha conhecido homens tão diferentes. Minha cabeça roda, tentando compreender como podem ser irmãos. O chá é incrivelmente saboroso. Os biscoitos são crocantes e explodem sabor pela minha boca. Eu nunca comi um bolo tão gostoso como esse. Seria tudo isso uma estratégia para baixar a minha guarda? Eu tento conter a enorme fome, mas meu estômago me denuncia. Ninguém me repreende. Mais biscoitos e mais bolo enchem meu prato. Eu não sei por que eu fico embaraçada com isso.
– Fuaa! Eu consegui!
– Wataru, está muito atrasado. Vai ficar sem pudim.
– O que? Sério? Ah, dá um tempo! Eu fui com Luis buscar o Iori e o Yusuke.
– Isso é verdade. Eu sou testemunha. E nós conseguimos trazer Iori e Yusuke.
– Hai. Presente.
– Eu também.
– Com atraso, também. Com isso só ficam faltando Natsume, Hikaru e Fuuto. Que não podem estar presentes porque estão trabalhando.
– Hei e o Tsubaki?
– Ele deve se juntar a nós, assim que recuperar o fôlego e a masculinidade.
– Como assim? O que nós perdemos?
– Nossa linda e adorável irmã deu a lição que o Tsubaki merecia há tempos.
Os olhares de todos se voltam para mim. Eu não gosto de ser o centro das atenções. Os olhos de Wataru brilham com admiração. Luis não para de reparar meu cabelo. Iori parece incrédulo. Yusuke está embasbacado – eu acho que nós nos conhecemos do colégio. Masaomi parece intrigado. Kaname apenas sorri. Será que é possível acabar esse dia agora?
Aos poucos, eles ficam dispersos, conversando de outros assuntos. Eu respiro aliviada. Eu quase não percebi que Tsubaki juntou-se a nós, mas teve o bom senso de sentar longe e ficar [quase] fora da minha vista. Garoto esperto. Infelizmente você é o primeiro na minha lista.
Rápido como se reuniram, também se separaram. Cada qual foi cuidar dos assuntos pessoais ou das tarefas domésticas. Eu sinto que em algum momento eu vou receber uma cartela com a agenda das minhas tarefas domésticas. Eu estou estufada de chá, biscoito e bolos. Entediada, resolvo explorar a mansão e conhecer cada canto e detalhe. Conhecer o território é crucial para qualquer assassino. Eu encontrei coisas muito interessantes nessa minha exploração, coisas que não aparecem no mapa. Novamente aquele som suave e harmonioso [embora com outras notas musicais] ressoa. Uma voz [Masaomi?] abafada pede para atender a porta. Eu estava mais perto. Eu grito algo e abro a porta.
– Oi Satou. Aqui estou eu, como prometi. Eu te trouxe a matéria do dia e as tarefas da escola.
Ah, Thanatos! Que alívio e satisfação em rever Shouko! Eu a agarro [com firmeza, mas com delicadeza], a arrasto para meu quarto, arranco as roupas dela e nós passamos a noite inteira brincando.
O sol se esgueira lentamente pelo meu quarto, passando pelo belo vitrô e a luminosidade multicolorida me desperta. Eu observo o dossel e o teto acima dele, ainda custando a acreditar que eu estou vivendo um sonho de princesa. Eu solto um urro de bocejo e olho em volta. Shouko não está presente. O cheiro vem convidativo da cozinha, mas antes eu preciso de um banho urgente. Trôpega, ainda não totalmente acordada, eu me arrasto pelo corredor, entro no elevador e sigo pelo quinto andar até o banheiro, certa e confiante que está livre, pois ou meus irmãos estão na cozinha, ou na escola, ou no trabalho. Meu corpo está parcamente coberto com meu roupão, eu simplesmente abro a porta e entro.
– Ah! Quem é? Sa… Satou chan? Irmã?
[bocejando]- Bom dia. Eu preciso tomar banho.
Eu passo seminua a poucos centímetros do coitado do Subaru, roxo de vergonha, se encolhendo próximo da pia, segurando com força a toalha que envolve o quadril de seu corpo nu. Eu removo meu roupão e o jogo displicentemente em cima do meu irmão que esbugalha os olhos por cinco segundos, mas logo vira os olhos para não ficar encarando meu corpo completamente nu. Eu deslizo a divisória e ligo o chuveiro. Temperatura perfeita. Eu reparo que eu tenho várias opções de sabonetes, shampoos e óleos corporais. Eu nem me dei conta que eu me despi para o Subaru, ou eu estava testando ele inconscientemente.
– Bo… bom dia, irmã. Fique à vontade. Eu… eu terminei aqui. Eu vou descer e separo seu desjejum, oquei?
– Hai.
A água ajuda a recobrar a consciência. Que sensação estranha. Eu não sinto medo ou vergonha de ter ficado nua diante do Subaru. Som de roupas farfalhando e o vulto dele através da divisória atiçam minha curiosidade. Discreta e lentamente, eu abro uma brecha e espio. Que esquisito. Subaru vestiu primeiro a camiseta. Eu consigo ver o seu treco. Nada mal. Talvez eu me permita brincar um pouco com isso antes de matá-lo. Não que eu goste de meninos ou homens. Mas também não os odeio. Antes de me descobrir, antes de começar a me relacionar com meninas, antes de conhecer Shouko, eu era a garota mais vadia do colégio. Eu devo ter tido tantos homens quanto tive de vítimas. Subaru termina de se vestir e sai, fechando a porta com gentileza. Novamente sozinha, no chuveiro, eu só consigo pensar em Shouko. Eu vou ter que fazer aquela mágica com os dedos.
[gemendo]- Sho… Shouko…
Eu sinto como se eletricidade tivesse passado por minha espinha. Estrelas pipocam por onde eu olho. As pernas bambeiam e eu tenho que me ajoelhar e sentar no chão do chuveiro. Meu corpo inteiro treme, minha pulsação e respiração estão aceleradas. Consegue ver o que você faz comigo, Shouko?
Um relógio em algum ponto dessa mansão soa oito vezes. A diversão vai ter que esperar. Eu tenho que ir para a escola. Shouko certamente vai me ajudar nisso, com grande alegria. Eu escovo o cabelo, faço tranças, coloco lacinhos e presilhas. Eu borrifo um tiquinho de perfume. Eu apronto meu rosto com maquiagem básica. Eu me enfio no uniforme, caprichosamente limpo e dobrado, tal como eu deixei em cima do cesto de roupa. Eu saio saltitando pelo corredor, cantarolando alguma música, como se eu fosse uma garota normal. Eu capricho na minha expressão de menininha inocente e ingênua quando eu entro na cozinha.
– Bom dia, pessoal!
[coro]- Bom dia, irmã!
– Bo… bom dia.
Subaru vira o rosto e olha para o chão, com o rosto avermelhado. Ele deve ter gostado do que viu. Eu vou considerar um elogio. Eu disperso a atenção desnecessária dos demais, comentando e elogiando a refeição matinal preparada e servida por Ukiyo. A conversa virou rapidamente aquelas trivialidades que gente normal troca. Subaru pega no tranco e consegue esquecer o embaraço.
– Drogadrogadroga! Eu estou atrasado!
– Yusuke…
O cabelo vermelho de Yusuke parece uma tocha, com o movimento agitado dele. Ukiyo faz aquela expressão séria e grave enquanto Yusuke enfia vários biscoitos na boca e verte o achocolatado garganta abaixo. Eu não sei por que eu começo a dar risada. Isso é raro. Shouko vai ficar com ciúmes se souber.
– Chega de brigas e discussões, pessoal. Yusuke, pelo menos leve sua irmã na escola dentro do horário.
[resmungando]- Hai.
Alguns minutos depois eu e Yusuke estamos no portão da frente, esperando chegar o ônibus escolar. Eu acho esquisito, não faz sentido Yusuke ir para o colégio de ônibus escolar, sendo de família rica, mas é regra da casa, cada filho tem que fazer por merecer, trabalhar e comprar. Nós embarcamos no ônibus e Yusuke puxa conversa.
– Então… Satou chan…
– Hai, Yusuke kun?
[engole seco]- Pois é… nós somos alunos do mesmo colégio. Em que turma você está?
– Eu sou da Turma 4B.
[surpreso]- Eu estou na 4D. Você deve ser muito inteligente.
– Hai. Você é gentil Yusuke.
[embaraçado]- Você não estranha?
– Eu? Estranhar o que?
[constrangido]- Bom… do nada você morando em uma casa cheia de homens.
– Não. Nadinha. Vocês são meus queridos irmãos.
[incomodado]- Você é uma boa garota, Satou. Mas você tem que ter cuidado. Principalmente com Iori. Tsubaki é um babaca, mas só gosta de provocar. Iori é mais perigoso.
[sorrindo]- Obrigada pela dica, Yusuke kun! [aperto os braços dele entre meus seios, deixando ele roxo]
– C… claro… não há de quê… só não fique tão perto assim de mim. Eu também sou perigoso.
– Awww… Yusuke kun… você só diz isso porque gosta de mim, né?
Eu fico mais próxima e aperto ainda mais o braço dele entre meus seios. Eu sinto a temperatura do corpo dele subir exponencialmente, assim como o volume em suas calças.
– Po… pois então… é por isso que nós temos que conversar. Nós somos alunos do mesmo colégio e estamos no mesmo ano letivo. Se você ficar perto assim de mim, nossos parceiros vão comentar, os professores vão comentar. Boatos sujos vão surgir falando coisas sobre nós.
– Deixem que digam, que falem. Por meus irmãos eu sou capaz de fazer qual-quer-coi-sa.
Eu soletro as sílabas vagarosamente, fazendo biquinho, para ressaltar meus lábios, a poucos centímetros do rosto de Yusuke. Ele está trêmulo, seu corpo parece uma caldeira, suor escorre pela testa dele e o volume em suas calças aumenta. Homens são muito previsíveis. Eles são o sexo fraco.
– Nã… não fique falando bobagens nem prometendo coisas. Eu posso levar a sério.
– Awww… Yusuke kun… assim eu fico ofendida. Eu sempre falo sério. Eu sempre cumpro o que prometo.
[bufando]- Bo… bom… nós chegamos no colégio. Depois nós conversamos mais sobre isso, oquei?
– Hai!
Eu tenho que segurar a risada. Yusuke cambaleia entre tantos alunos, tentando disfarçar a ereção com a mochila. Eu não sei se ele vai conseguir segurar, pois nossa primeira aula é de inglês e a professora da turma dele adora caprichar no decote. O busto dela é tamanho D e ela não costuma usar sutiã. Todos os meninos ficam com as calças molhadas no fim da aula.
– Satou chan!
Eu sou envolta em uma brisa de primavera, morna, perfumada. Minha boca se enche de água assim que eu vejo Shouko se aproximar. Essa é a vantagem de ser mulher. Dá para disfarçar a excitação.
– Hai, Shouko chan! Vamos para a sala de aula?
– Hai!
Nós caminhamos pelas dependências do colégio de dedinhos entrelaçados, o máximo que é permitido. Os professores vêm e vão. Completamente inúteis. Eu assisto as aulas porque eu sou obrigada. Quando eu quero aprender realmente algo, eu vou à biblioteca. A animação só acontece no intervalo. Uma explosão de pessoas correndo para fora das salas de aula. O pátio fica preenchido com o burburinho das conversas. Os quiosques faturam alto com comida, bebida, cigarro e outras coisas menos lícitas. Em um canto, os valentões resolvem as diferenças. Em outro canto, os amantes fazem uma luta diferente. Eu e Shouko estamos em nosso lugar favorito, dando comida uma à outra na boca [nota: no Japão, isso é sinal de intimidade amorosa].
– Com licença. Boa tarde, senhorita Hida. Pode me emprestar minha irmã?
– Hã? Ah! Oi, Yusuke kun!
Shouko é bastante compreensiva ou desligada. Eu sou “cedida” e Yusuke me leva até uma das laterais da biblioteca, um local que provavelmente eu sou a única que conhece e frequenta.
– Satou chan, eu acredito que você é séria. Saiba que eu também sou sério.
– Hai, Yusuke. Eu sei que você é sério.
Yusuke chapa a palma da mão na parede ao lado do meu rosto e me encara.
– Satou chan, nós nos conhecemos desde o primeiro ano da segunda série. Eu me apaixonei por você na primeira vez que eu te vi.
– Eu sei disso, Yusuke. Você não é bom em esconder seus sentimentos.
– Eu tive que juntar toda a coragem que eu tenho para te dizer isso. Por favor, me escute. Daqui a alguns dias, nós seremos parentes, familiares. Você deve ter sentido que conviver com meus irmãos é muito arriscado para você. Eu sou capaz de jurar que devem estar apostando quem vai ser o primeiro a te foder. Isso é certo, todos eles querem te foder.
– Vo… você também, Yusuke kun?
[bravo]- Preste atenção! Isso é muito sério! [bufando] Ouça muito bem, Satou. Eu te amo. O único jeito de você ficar livre de ser estuprada pelos meus doze irmãos é você se tornando minha namorada. O que me diz?
Eu respiro fundo e solto o ar. Eu tinha colocado Tsubaki como primeiro na minha lista, mas felizmente eu sempre preparo planos secundários. Isso vai adiantar minha agenda, mas eu ainda estou dentro do controle de segurança.
– Yusuke kun, agora quem fala sou eu e você escuta. Eu te agradeço por ser gentil e sincero. Mas veja bem, nós vamos ser irmãos. Como se isso não bastasse, meu coração está preenchido.
Lágrimas começam a correr pelo rosto de Yusuke. Que sensação esquisita. Eu estou sentindo pena e compaixão?
– É… é a Shouko, não é? Eu ouvi vários boatos, mas é só olhar para vocês que qualquer um vê que vocês se amam. Eu espero que a Shouko seja forte. Porque isso não vai fazer a menor diferença para meus irmãos. Na verdade, isso só vai estimulá-los e torná-los mais violentos.
Yusuke enxuga as lágrimas e recupera a compostura.
– Muito bem. Você fez sua escolha. Eu tenho que aceitar e te apoiar. Eu vou sofrer muito, mas meu amor por você é mais forte. Era o que eu tinha a dizer. Vamos voltar.
Quando voltamos onde Shouko estava, ela estava raspando o fundo do bentô. Shouko gulosa.
– Senhorita Hida, obrigado. Eu deixo a minha irmã aos seus cuidados. Ame-a tanto ou mais do que eu a amo. Isso é tudo. Obrigado.
Yusuke dá meia volta e sai andando com classe e elegância. Existem homens honrados assim?
– Ué… eu entendi direito? Yusuke está abençoando nosso amor?
– Parece que sim… hei, Shouko, sobrou algo do bentô?
– Hihihihi… tarááá!
Shouko faz surgir um bentô igualzinho ao que ela tinha comido tudo.
– Ma… mas como?
– Um garotinho que se diz chamar Wataru apareceu e entregou esse bentô que, segundo ele, foi feito por um tal de Ukiyo. Eles são seus irmãos, né?
Minhas emoções estão em confusão. Eu custo a crer que existam homens assim. Meu estômago ronca, então eu desisto de tentar entender.
Exatamente às cinco da tarde o colégio soa o sinal que concede alforria aos alunos. Eu não encontro Shouko. A mãe dela deve ter vindo buscá-la. Os ônibus escolares estão mais lotados do que as linhas suburbanas. Enquanto eu penso em rotas alternativas, um carro buzina e pisca os faróis.
– Irmãzinha? Sou eu, Tsubaki. Venha, eu te dou carona.
Eu não sei por que eu olho em volta, tentando achar Yusuke. Eu devo agradecer a Thanatos adequadamente por essa oportunidade.
– Hai! Obrigada, Tsubaki kun.
Eu entro e, como é de se esperar, ele começa aquela ladainha que eu conheço de cor.
– Sabe, Satou chan? Eu gostaria muito que você me perdoasse. Não foi a minha intenção te assustar ou te magoar. O caso é que eu sou assim, carinhoso. Você pode me perdoar, minha querida irmã?
– Hai! Na verdade, sou eu quem deve te pedir desculpas. Eu reagi sem pensar.
– Muito obrigado, Satou chan. Será que eu posso te dar um beijo, de reconciliação?
– Hai! Pode sim, Tsubaki. Afinal, nós somos irmãos.
A borboleta voa sem se dar conta da teia da aranha até ser tarde demais. Tsubaki inclinou-se e caprichou no beijo de língua enquanto sua mão direita se agitava entre minhas coxas. Eu não sinto coisa alguma. Ele beija muito mal e não sabe usar a mão. Ele recua, surpreso e irritado, percebendo que eu não estava excitada.
– Você é mesmo uma vadia bem puta, né, irmãzinha?
– Hai?
– Não me venha com essa. Você não me engana com essa falsa inocência e ingenuidade. Eu sei tudo sobre você, irmãzinha. Eu sei que você foi a vadia mais puta do primeiro ano do segundo grau.
– E se eu fui? O que você tem com isso?
[gargalhada]- Nada. Absolutamente nada. Para falar a verdade, eu fico aliviado. Quer saber de uma coisa, irmãzinha? Nesse exato momento tem uma aposta rolando entre nós para saber quem vai ser o primeiro. Os outros vão ficar decepcionados quando souberem que você é rodada, mas o que me interessa é ganhar o dinheiro da aposta. Talvez, se eu gostar, se você for boa, eu deixe você viva para ser estuprada pelos outros.
– Tsubaki kun, não siga por este caminho. Volte, você ainda tem tempo.
[gargalhada insana]- Acha mesmo que pode mandar em mim, irmãzinha?
Tsubaki freia o carro em um lugar ermo.
– Garotinha… eu posso quebrar seu pescoço com uma mão só.
Tsubaki envolve meu pescoço com a mão que estava entre minhas coxas e seus dedos vão se estreitando, fazendo força. Ele gargalha enquanto faz um esforço considerável tentando me esganar. Cinco minutos depois ele para de gargalhar. A mão esquerda se junta à mão direita. Ele está bastante dedicado. Mas está irritado e contrariado. Por mais força que ele faça, eu estou completamente tranquila.
– Ma… mas que Diabo? Que truque é esse? Como isso é possível?
– Tsubaki kun, meu pobre irmão, você disse que sabia tudo sobre mim, mas não sabe coisa alguma.
Eu abro o porta-luvas do carro e pego o calibre 38, uma das coisinhas que eu achei em minhas explorações. Eu aponto, miro e aperto o gatilho. A cabeça de Tsubaki pipoca, pedaços de crânio, cérebro e sangue se espalham pelo vidro do lado do motorista. Eu suspiro. Não foi uma obra prima. Mas dá para ajeitar. Eu coloco o revólver na mão de Tsubaki e aperto por cima da mão dele, assim as impressões digitais dele ficam gravadas no cabo. A cereja no bolo. Eu removo as luvas de silicone que eu sempre uso nas mãos. A parte fácil, sair e limpar as maçanetas. Eu vou caminhando pelas ruas em direção ao meu novo lar. Com toda tranquilidade, eu abro a porta e me deparo com todos na sala de jogos, vendo as notícias no telão. Todos parecem tensos e concentrados.
“Atenção para a notícia de última hora do Jornal da Tarde. Foi encontrado hoje o corpo do jovem Tsubaki Asahina nas cercanias de Hell’s Kitchen. Segundo informe da Polícia, o jovem foi encontrado morto com um tiro na cabeça, supostamente disparado pelo mesmo. A Polícia continuará a investigar, mas a primeira hipótese é de suicídio. Mais informações a qualquer hora”.
A melhor parte da minha arte acontece agora. As expressões naqueles rostos. Horror. Medo. Indignação. Tristeza. Dor. Luto. Eu cubro meus olhos e até consigo derramar algumas lágrimas. Um disfarce necessário para esconder que eu atingi o orgasmo. Shouko… perdoe-me por desperdiçar meu mel.
Funerais são acontecimentos interessantes e peculiares. Dos eventos que fazem parte das convenções sociais, este deve ser o único onde o “homenageado” não está presente… bom, seu corpo inanimado é mais semelhante aos demais móveis, aquilo que nos faz sermos nós, chame de alma, de espírito, de fagulha divina, não está mais encasulada no corpo. Outra parte, igualmente curiosa, mas desprezível, é a forma como os convidados se comportam. Pessoas com relativa proximidade de parentesco se reúnem em um local onde vão prestar suas últimas homenagens ao falecido. Esse é o protocolo, a regra implícita, para os velórios, mas eu pessoalmente prefiro que aqueles (ou aquelas) que são preciosos para mim façam algo por mim enquanto eu estiver viva. Essas pessoas que se apresentam nesse desfile mórbido o fazem por outros interesses. Alguns pensam no que vão receber de herança. Outros vão para fisgar o viúvo ou a viúva. Em meu papel de irmã inconsolável, eu ouço as conversas sobre negócios e oportunidades comerciais. Eu me sinto como se eu estivesse na Bolsa de Valores, não em um funeral.
- Deve ser difícil para você, irmã. Mal nós começamos a ser uma grande família e você está tendo que lidar com a dor da perda.
A expressão de Masaomi é igual à dos inúmeros “pais” que passaram pela minha vida e de mamãe. Essa expressão é uma excelente fachada e costuma sumir rapidamente assim que os candidatos a “pai” desenvolvem essa atração física e sexual que homens costumam expressar com mulheres, com qualquer mulher, algo que eu tive que aprender instintivamente no ginásio, no Colégio Sweet Amoris, na minha pré-adolescência, algo que se intensificou insuportavelmente assim que comecei a menstruar.
- Masaomi san, perdoe a minha indiscrição, mas eu soube que isso aconteceu antes na família de vocês, quando o senhor Asahina perdeu a esposa e vocês perderam sua mãe. Você e seus irmãos podem me ajudar com essa experiência.
[corado]- Eu tenho certeza de que nós vamos te ajudar, irmã. Kaname vai começar o ritual de despedida para o Tsubaki. Você está acostumada aos rituais budistas?
- Mais ou menos, Masaomi san. Eu costumo seguir o Shintoismo, mas eu não sou completamente desinformada sobre o Budismo.
- Hm. Isso não será empecilho. Basta seguir a fórmula do Shintoismo de Honra aos Ancestrais. Você vai ficar bem.
Masaomi volta ao lugar dele, do lado direito de Kaname, como o protocolo da hierarquia familiar indica. O lado esquerdo está vazio, denunciando a ausência de Rintaro, o que gera constrangimento aos meus futuros irmãos. Kaname inicia a leitura das sutras indicadas para um funeral e eu agradeço por ter lido o Bardo Thodol. Ainda que seja outra escola do Budismo, lembrar essa poesia e o som da música me ajuda a aturar a chatice desse ritual desnecessário. Apesar da minha determinação, eu começo a entrar em estado de semi-dormência e minha mente é invadida com minhas fantasias com Shouko. Quando Kaname faz soar a cumbuca de bronze assinalando o final do ritual eu estou completamente ensopada com meus próprios fluídos corporais. Ah, Shouko, veja só isso! Veja o quanto eu te amo! Quanta vergonha mais eu terei que passar até que eu possa assumir o nosso amor?
- Tsubaki san foi embora. Irmã, você não vai nos deixar, vai?
O cheiro de leite antecede a sensação de ancoramento. Wataru está ao meu lado, puxando a manga da minha blusa, com os olhos carregados de lágrimas.
- Wataru kun, eu não posso prometer coisas que estão além do meu alcance. Eu só posso te prometer que eu serei sua onee chan enquanto eu puder.
- Por favor, seja minha onee chan e cuide de mim.
Wataru sai correndo com um bicho de pelúcia. Ele segura aquele brinquedo de uma forma que sugere que aquilo supre mais do que sua carência emocional, algo que disparou minha curiosidade, o que, com a descoberta, pode vir algum ganho significativamente interessante e eu, com minhas fantasias, fico imaginando coisas entre eu, Shouko e o brinquedo, aumentando a umidade entre minhas coxas.
- Por favor, perdoe Wataru kun. Ele é tão emocionalmente carente quanto tem de atrevido.
Ukiyo parece chateado. Eu imagino que ele deve estar assim porque seus irmãos preferiram contratar um buffet para servir o lanche aos convidados.
- Lamento igualmente por mim mesmo. Aqui não é o lugar mais adequado, mas eu acho ser o momento mais propício, considerando que você será nossa irmã em breve. Como advogado da família Asahina, eu devo te incluir no testamento de Tsubaki. Por favor, preencha este formulário.
Formalíssimo, Ukiyo estende com ambas as mãos um calhamaço de papel e uma caneta. Uma das vantagens de ter uma vida como a minha é conhecer justiça, leis e advogados muito bem. Eu também sou excelente em leitura rápida. Muita bobagem é colocada nesses documentos oficiais, tudo por causa da norma técnica e outras burocracias sem sentido. Tirando todo o jargão técnico, escrito unicamente para induzir as pessoas a erro ou ilusão, eu sei que eu tenho uma pequena parcela sobre a “herança” de Tsubaki assim que mamãe consumar seu casamento com Rintaro. Nenhum dado que eu coloque aqui irá me comprometer, minhas ações são perfeitamente planejadas e executadas. Nada que eu coloque aqui há de colocar em risco minha preciosa Princesa. Quando eu devolvi o papel preenchido, eu não consegui notar qualquer intenção perniciosa de Ukiyo, ou ele deve disfarçar bem, ou realmente está expressando seus sentimentos verdadeiros, o que é esquisito, estranho e novidade para mim. Ele se retira, junto com todo o formalismo e eu trato de ir ao banheiro, pois eu preciso enxugar toda essa baba que eu derramei. Que pena que Shouko não possa “cuidar” disso. Ao sair, Azusa parece estar me esperando. Será que eu terei que alterar de novo a minha lista de vítimas?
- Você está bem, irmã?
- Hai. Eu só fui lavar o rosto e refazer a maquiagem.
- Kaname vai precisar de ajuda para desmontar tudo, limpar o átrio e recolher o lixo.
- Nani? Só nós dois vamos reorganizar tudo?
[riso discreto]- Iori e Subaru vão ajudar também. Afinal, nós somos uma família, né?
A gentileza sincera me pega desprevenida. Eu passo a tarde junto desses meus quatro irmãos, catando lixo, limpando, arrumando, mas mantendo minha visão periférica e protocolos de segurança em nível máximo. Entediada por ver que todos parecem concentrados no que fazem, eu não consigo evitar de pensar na Shouko.
- Com licença? A Satou chan está?
A voz de Shouko soa aos meus ouvidos como se fosse um coral de anjos cantando diretamente do céu. Eu nem ligo de derrubar o lixo que eu tinha em mãos pelo chão. Eu sinto que vou ter problemas em disfarçar minha alegria e ansiedade de ficar com a Shouko.
- Boa tarde, senhorita Hida. Satou chan está aqui conosco.
- Pri… digo, Shouko chan, boa tarde. O que você veio fazer aqui?
- Como assim, o que eu vim fazer aqui? Eu sou sua senpai. Eu não posso te deixar sem apoio em um momento difícil desses.
- Mas… Shouko chan, você não precisava vir até aqui.
- Precisava sim. Você não foi à escola, então eu te trouxe a matéria e as tarefas de hoje.
[desanimada]- Ah, Shouko chan, você é cruel.
[riso coletivo]- Satou chan, a senhorita Hida tem toda razão. Nós não podemos monopolizar sua atenção. Você deve ir para casa e cuidar das lições e tarefas escolares. Eu acho que eu consigo pedir para o Luis te levar de carro de volta até nossa casa.
A forma como Azusa fala é confortante e carinhosa. Ele está realmente me incluindo como parte dessa família. Quando um homem tem interesse em foder com uma mulher, a casa, quando tem alguma, é dele, não dos pais, assim como o carro e outros objetos, aos quais a mulher, quando conquistada, será acrescentada a esse patrimônio.
- Senhor Azusa, não será necessário incomodar o senhor Luis. Eu tomei a providência de chamar um táxi para nos levar. Por favor, confiem em mim que eu terei certeza que Satou chan irá estudar e fazer as tarefas da escola.
-Não é incômodo algum. Mas como a senhorita teve tal cuidado, eu creio que essa é a melhor opção. Todos de acordo?
Kaname sorri feito um idiota. Subaru resmunga algo, mal levanta os olhos, ainda tentando processar a nossa cena no chuveiro. Iori tem uma expressão sacana, confirmando o que Yusuke falou dele, mas isso não é surpresa para mim. A minha agenda fica maluca com minhas constantes edições, mas Iori merece uma atenção especial. Eu fui dispensada e entregue para Shouko. Eu seguro o que eu posso a minha euforia, mas mal eu entro no táxi, minhas mãos vão, instintivamente, rodeando o corpo de Shouko.
- Desculpe atrapalhar o namoro de vocês, meninas, mas nós temos que conversar.
- Hã? Quem é você?
- Uryuu Minene. Assassina contratada pelo Templo Omekata. Nona Portadora do Diário e representante dos Homens Sem Face. A frase de segurança é Valar Morghulis.
Essa frase dispara um gatilho. Por mais que eu esteja excitada e a fim de comer a Shouko, a motorista do táxi é minha superior, eu tenho que ouvir e deixar a diversão para depois.
- Minene san, eu estou às ordens.
- Como esperado. Satou chan, eu sei que isso vai contra nossos manuais, mas eu posso te dizer que Shouko também faz parte dos Homens Sem Face, então nós podemos falar tranquilamente.
- Sho… Shouko?
- De… desculpe por não ter te dito antes, Satou chan.
- Eu sei que vocês vão ter muito que conversar e brincar, mas no momento nós precisamos falar do Projeto Deus Ex Machina.
- Projeto Deus Ex Machina?
- Sim, Satou chan. O Templo Omekata, ou para ser mais exata, a senhorita Tsubaki Kasugano, está nos oferecendo uma polpuda recompensa se nós ajudarmos ela a deter os demais Portadores de Diário.
Quando eu encarnei no Mundo dos Animes, eu tinha ciência da possibilidade de cross-overs, spin-offs e múltiplas sobreposições, mas essa informação era demais para meu entendimento.
- Satou chan, se nós colaborarmos com a senhorita Kasugano, eu tenho certeza que o Templo Omekata vai achar um lugar no multiverso onde nós possamos viver nosso amor tranquilamente.
- Exatamente, meninas. Eu mesma vou garantir isso. Mesmo que eu tenha que fazer certas coisas imundas com o escritor dessa história.
Eu também tinha ouvido falar do escritor dessa história. Eu fiquei receosa quando recebi o convite e hesitei em concordar. Mas meu criador original não tinha mais lugar para a minha manifestação depois que o anime Happy Sweet Life acabou. Eu queria um final feliz para eu e Shouko. Esse escritor brasileiro que se diz pagão, bem como sua reputação, tanto me incomodava quanto me atiçava a curiosidade. Se bem que, pensando no tempo extra que eu estou passando com Shouko, valeu a pena aceitar.
- Minene san… eu espero que você não precise fazer nada estranho.
- Nós somos assassinas treinadas e nós gostamos mais de meninas do que de meninos. Em muitos aspectos, no Mundo Humano, nós somos estranhas. Enfim, a Inteligência acredita que Reisuke Houjou, o Quinto, seja na verdade um usuário. O verdadeiro Portador de Diário é o indivíduo conhecido como Wataru Asahina.
- E eu estou convenientemente em uma condição que é vantajosa para nossa associação.
- Exatamente, Satou chan. Considere isso como uma missão bonificada, uma vez que você estará tratando de assuntos pessoais, né?
[encabulada]- Eh…. então... muito obrigada, Minene san.
[alegre]- Não há de que. Nós chegamos.
Minene sani estaciona o táxi diante de um motel. Shouko, entusiasmada, desce do táxi e corre para a recepção. Por algum motivo, ou simplesmente instinto, eu viro meu rosto na direção da senhorita Minene.
- O que está esperando? Vá em frente!
- Mi… Minene san… isso está certo? Está tudo bem?
- Não fique muito convencida. Considere a noite que vocês duas vão passar juntas aqui com seriedade. O Projeto Deus Ex Machina não é algo fácil. Outros portadores de diário estão por aí, prontos para matar, então enfrentar Wataru pode ser mais perigoso do que você imagina. Essa pode ser a última noite em que vocês ficam juntas, portanto, divirtam-se.
- Satou chan! Venha ver! Suíte presidencial! Está tudo pago!
Minene san desaparece, arrancando com o táxi. Shouko acena para mim em seu uniforme colegial. Eu estimo que o escritor dessa história terá uma satisfação peculiar em assistir essa cena. Para meu azar (ou sorte), eu estou com tanto tesão por minha Princesa que eu não ligo. Essa pode ser minha última noite com ela? Então eu vou caprichar. Eu vou dar e sentir prazer sem limites ou restrições.
Horas depois, sons de pássaros e o brilho do sol fazem com que eu perceba que o dia seguinte chegou. O som da água vindo do banheiro indica que Shouko deve estar tomando banho. Eu, apesar de achar que abusamos do presente que a senhorita Minene nos deu, levanto, vou ao chuveiro e abri a divisória.
- Ah! Satou chan! Você acordou!
- Shouko chan, você é cruel. Veio tomar banho e nem me chamou.
- Gomenasai Satou chan. Você estava dormindo tão profundamente que eu não quis te acordar.
- Yurushi wa arimasen. Você tem que ser castigada.
Eu envolvo Shouko em meus braços e nós recomeçamos a luta que tivemos de noite. Um festival de pernas, braços, mãos, bocas e fendas em um balé frenético. Eu estou sem fôlego, sentada no chão do banheiro, deixando a água do chuveiro lavar meu corpo, novamente coberto de suor e outros líquidos corporais.
- Satou chan… isso foi… intenso… mas nós não podemos abusar da gentileza de Minene san. Você tem que voltar para a mansão Asahina e eu tenho que voltar para a escola.
- Oquei… um intervalo… mas prometa que vai voltar a me ver, Princesa.
[sorrindo]- Você não tem jeito… foi dura com Wataru, está prestes a matar essa criança e quer que eu prometa algo que diz não ser capaz de cumprir?
[emburrada]- Shouko cruel…
[riso abafado]- Escute bem, Satou chan. Eu te amo. Aconteça o que acontecer, eu NUNCA JAMAIS vou te deixar.
Shouko termina de se vestir e simplesmente sai do quarto. Sozinha, eu tenho que me vestir, me contentar em guardar a memória dessa noite e sentir o resto do cheiro da Shouko. Eu fico no ponto de ônibus e, com alguma ajuda do Destino ou da Fortuna, um ônibus chega, eu embarco e, apesar de estar cheio, eu não sinto qualquer olhar malicioso na minha direção, então eu me permito relaxar. Eu avisto a mansão Asahina e percebo Ukiyo e Masaomi no enorme portão de entrada. Ukiyo parece olhar na direção do horizonte e Masaomi está falando no celular. Eu desço do ônibus, caprichei na expressão de pôquer e começo a minha aproximação.
- Tadaima! Ukiyo san, Masaomi san!
- Imouto avistada.
- Ah! Que alívio! Alô, Central de Desaparecidos? Pode cancelar o meu pedido, por favor. Nossa irmã está de volta.
- Iterashai, imouto chan. Mas vai ficar de castigo. Não vai ganhar pudim.
- Ah! Nani? O que eu fiz?
- Você sumiu e não nos disse onde ia. Considerando que perdemos Tsubaki, pode imaginar o quanto nós ficamos preocupados com você.
[arrependimento fingido]- Gomenasai.
- O que está feito, está feito. Satou chan, onde você estava?
- Eu passei mal depois que saí do funeral. Shouko pediu para o táxi nos deixar em um ambulatório médico. Eu recebi medicação e Shouko achou melhor que eu descansasse. Eu acabei dormindo na casa de Shouko por causa da medicação.
- Hm. Entendido. Nós teremos que agradecer a senhorita Hida apropriadamente. Ela tem nos ajudado e muito. Você também deve agradecer apropriadamente à sua senpai, Satou chan.
- Hai! Promessa!
Durante essa cena doméstica eu senti uma real preocupação e aborrecimento vindos de Ukiyo e Masaomi, intenção sexual zero, o que me deixa surpresa. A casa está silenciosa, Subaru está em seus treinos de basquete, Yusuke deve ter ficado detido na escola de novo, Luis deve estar ocupadíssimo em seu ateliê, Iori deve estar galinhando por aí, Natsume, Fuuto e Hikaru devem estar trabalhando. Mesmo estando bravo comigo, Ukiyo estende a xícara de chá e “esquece” meu castigo, enchendo meu prato com bolo, biscoito e inclui uma taça de pudim. Apesar de estar faminta depois de tanto “exercício” com a Shouko, eu mantenho a classe. Dou uma desculpa qualquer e vou para o meu quarto. Os dois parecem mais tranquilos e não demonstram desconfiar de qualquer coisa. Como planejado, eu faço um desvio e vou na direção do quarto de Wataru. A porta do quarto dele é igual à minha e isso me faz imaginar muitas coisas. Afinal, por que Wataru ia precisar de uma porta com fechadura de segurança alfanumérica? Qualquer gambiarra dá conta da fechadura comum. Felizmente meus passeios pela biblioteca foram propícios. Um pequeno aparelho comprado em Akihabara consegue burlar a senha alfanumérica.
Eu entro no quarto do Wataru. Um quarto comum de um garoto. Vários volumes de animes, alguns explícitos. Uma coleção de “action figures”, a maioria feminina, a que ele deve descabelar o macaco, especialmente uma muito parecida comigo. Eu não sei porque eu me sinto orgulhosa, até elogiada. Isso só confirma que meninos e homens não são diferentes. Infelizmente, irmãozinho, você não terá tempo de concretizar seus sonhos mais pervertidos.
Eu me aproximo da cama, com minha faca tática favorita. Wataru está em sono profundo, roncando. Ele nem vai sentir. Por que eu fico me repetindo isso? Cuidadosamente, eu levanto o futon e o que eu vejo me deixa estranhamente surpresa e envergonhada. Wataru está completamente nu, expressão de êxtase, seu semen está empoçado e o consolo instalado dentro do bicho de pelúcia ainda está levemente inserido em seu ânus. Eu não sei por que eu sinto pena do Wataru, nem por que eu fico imaginando como deve ser difícil para ele esconder esse segredo de seus irmãos e da família. Eu sinto compaixão e simpatia pelo Wataru e isso é perigoso e proibido para pessoas com o meu tipo de vida. Eu sinto lágrimas rolarem pelo meu rosto enquanto eu cumpro com a minha missão. Wataru abre o olho, tenta resistir, sobreviver, a minha mão abafa a tentativa de grito, o sangue dele se junta ao semen, então seus olhos perdem o brilho. Eu tenho que segurar o choro, pela primeira vez na minha vida e na minha profissão. Adeus, irmãozinho.
Eu apago os indícios e vou para o meu quarto, mas não consigo dormir. Depois de tantas milhagens, pela primeira vez eu sinto raiva de mim mesma , culpa e remorso. Meus sentimentos e pensamentos são incompatíveis para pessoas do meu tipo, eu certamente serei expulsa da corporação se isso chegar ao conhecimento de alguém. Eu estou em um estado tão deplorável que a senhorita Minene me desprezaria no ato. Eu penso até que nem Shouko pode me animar agora. Eu tenho que recorrer à minha farmácia, engulo quatro cápsulas de PS4, uma droga sintética, a única que faz efeito em mim, que me acalma e me faz dormir.
Gritos estridentes, passos pesados e apressados, não são a melhor forma de despertar. A casa está agitada, não demora muito para que sirenes e luzes de giroflex completem o cenário. A vantagem é que eu não vou precisar fingir muito. Eu estou me sentindo péssima.
- Hei… o que aconteceu?
- Satou chan, por favor, aguarde na sala. Nós vamos precisar de seu testemunho assim que a polícia chegar.
- Po… polícia?
Masaomi só aponta para o sofá. Os policiais chegam e Ukiyo aparece com chá, biscoito e bolo para todos. Pouco depois chegam Azusa e Iori. Yusuke e Subaru chegam juntos. Eu pisco o olho três vezes, pois eu acho que eu estou vendo dobrado [provavelmente efeito colateral tardio do PS4], eu vejo dois Luis entrando junto com mais dois homens que eu imagino serem Natsume e Fuuto. Eu não sei por que eu viro o meu rosto quando a perícia passa pela sala com o saco com o corpo de Wataru.
- Sumimasen. Satou san, né?
- Hai.
- Eu sou a major Motoko Kusanagi. Eu vou colher o seu testemunho, oquei?
- Hai, Kusanagi san.
- Vamos começar com algo simples. Seu nome, idade, essas coisas.
Eu vou falando um discurso que eu decorei há tempos. Eu aproveito para escanear essa oficial da polícia, mas meus sentidos aguçados leem informações incoerentes.
- Muito bem, Satou san. Pode, por favor, me dizer onde você estava ontem à noite, às 23 horas?
- Em meu quarto, dormindo, Kusanagi san.
- Entendo. Você deve ter passado por uma experiência difícil com a morte de Tsubaki, né?
- Deve ser estranho para a senhorita, afinal, eu não sou parte dessa família.
- Eu estranho qualquer coisa. Satou san, eu não sou humana.
- Eh? Como assim?
[riso curto discreto]- Eu sou um ciborgue.
[surpresa]- Eh? Como? Você é tão linda!
[riso envergonhado]- Eu sou um ciborgue de prótese completa. O meu criador teve o cuidado de me fazer extremamente sensual. Homens são pervertidos, né?
- Eh… acho que eles não têm jeito. Eles são naturalmente pervertidos.
- Eu ainda estou aprendendo conforme eu vivo nesse corpo. Satou san, se não for atrevido e ousado de minha parte, mas você pode me ensinar o que é ser mulher?
Eu não sei por que eu senti meu rosto pegar fogo. Eu estou sendo cantada por um ciborgue feminino. Eu sou tão gostosa assim? Será que é assim que Shouko me vê?
[ruborizada]- Eh… nós podemos falar sobre isso em outro lugar?
[ruborizada]- Tem toda razão. Tem muito homem aqui. Aqui. Pegue e esconda isso.
Kusanagi passa discretamente para minhas mãos um papel amassado. Ela escreve alguma coisa na caderneta dela, sai, fala com os demais policiais e some. Os policiais acabaram de colher os testemunhos e a perícia também acabou o que tinha que fazer.
- Satou chan, eu vou ligar para Shouko, avisando que você não vai poder ir à escola hoje. Você deve tentar relaxar.
- Hai. Então é verdade? Wataru está… morto?
[fingindo ser forte]- Infelizmente sim, Satou chan. Aparentemente assassinado. Eu vou pedir para o Luís e o Hikaru ficarem com você até a senhorita Hida chegar.
Então o “outro” Luis é Hikaru. Luis é cabeleireiro e estilista. Hikaru é cross-dresser. Qualquer um pode dizer que eles são gays, então por que Wataru escondeu sua sexualidade? Vergonha? Dúvida? Eu lembro bem como era a minha vida quando eu tinha a idade de Wataru. Foi uma época de muitas descobertas, incertezas, dúvidas, medos e perigos. Foi durante o primeiro ano escolar, na Escola Sweet Amoris, especialmente a época do ginásio quando meu corpo começou a mudar drásticamente e meu interesse em meninos [e sexo] crescia junto com o meu corpo. Eu tive muito prazer conforme eu explorava o meu corpo e as muitas formas de sentir prazer. Infelizmente isso atraiu a atenção, tanto de meninos quanto de homens. Eu admito que eu escolhi alguns, digamos, para minhas “experiências científicas”, eu até me diverti um pouco. Mas alguns começaram a ficar inconvenientes, outros, violentos. Eu acho que foi o meu pai… o primeiro… o original… eu notei quando ele começou a olhar daquele jeito nojento. Eu sabia o que ele queria comigo, eu deixei ele ter a iniciativa, o que ele teve a coragem de fazer, o que facilitou muito o meu “trabalho” de despachá-lo para o Mundo dos Mortos.
Entre minhas explorações e descobertas, eu acho que minha “iniciadora” no Mundo Yuri [yuri é um gênero de anime que apresenta relações homoafetivas entre mulheres] foi a minha professora de inglês. Mas quem realmente me deixa doida ao ponto de ficar descontrolada é a Shouko. Mas com esses dois vigias, eu não sei se vou conseguir “brincar” com a Shouko e tem ainda a major. Eu tenho que dar um jeito nisso. Talvez, pedindo com jeito, prometendo algo, o escritor dessa história me conceda um desejo.
- Alô? Sim, Hikaru falando. Estúdio? Entendo. Oportunidade única? Segura a peruca, bee, que eu estou indo aí. Desculpe, pessoal, eu tenho que ir.
[cinco minutos depois]- Eh, Satou chan, eu tenho que acabar com as alegorias da escola de samba. Tudo bem? Você consegue ficar sozinha?
- Hai, Luis san. Eu estou bem, eu vou ficar bem.
[cinco minutos depois]- Satou chan? Sou eu, Shouko! Gomenasai, eu só passei para deixar a matéria e a tarefa da escola. Mamãe está com visitas e eu vou ter que ajudar. Depois nós conversamos, oquei?
Domo arigato gozaimasu, escritor. Eu vou te recompensar e eu tenho uma vaga ideia do que eu posso fazer, mesmo que seja contra minhas crenças. Eu roubo uma motocicleta e vou zunindo pelas ruas até o endereço que estava rabiscado no papel amassado. Eu não sei por que eu sinto vergonha, não é a primeira vez que eu entro na casa de uma mulher e eu invadi os quartos de muitas meninas. De onde vem essa consciência? A minha curiosidade é maior do que a minha prudência, então eu me aproximo da porta e apertei a campainha.
- Satou chan? Pode entrar que a porta está aberta.
Isso está errado em muitos níveis. Eu engulo seco e entro. Ambiente simples, sem decoração, poucos móveis, pintura neutra. Eu observo o local visualmente e não noto qualquer sinal de armadilha.
- Desculpe por meus hábitos espartanos. Eu não tenho coisas bonitas ou elegantes, por favor, aceite tomar chá nesse caneco de alumínio.
Kusanagi sai da cozinha vestindo só um avental. Eu não sei por que isso me deixa constrangida. Excitação, até é normal, mas não vergonha.
- Eh… tudo bem. Eu estou acostumada a coisas simples. Eu não sou uma burguesinha.
- Pode se servir de sembei [biscoito japonês] o quanto você quiser.
[envergonhada]- O… obrigada… então… agora podemos conversar.
[riso curto envergonhado]- Diga… o que você sentiu quando me viu vestida assim?
[roxa]- E… eu… eu senti… eh… atração… eh… eu fiquei... excitada [viro e abaixo o rosto].
[riso envergonhado]- Sabe, Satou chan? Eu nem precisava ter ido na mansão Asahina. Qualquer policial presente poderia ter colhido seu testemunho. Mas mesmo assim eu fui e conversei com você. Só com você. [roxa] Satou chan… eu estou te admirando há algum tempo. Isso é esquisito?
[roxa e fumegando]- Eh? Eu? [ela acena afirmativamente] Eeeh… esquisito? Eu não sei. Por que seria esquisito?
[enrubescendo]- Eu sou uma ciborgue e uma policial. Em muitos aspectos é errado. Eu te vi uma vez, durante minha ronda, enquanto você estava em uma excursão escolar. Algo aconteceu dentro de mim, eu não sei o que é e eu estou com medo.
[abanando]- Bom… eeh… eu não sei… você viu algo em mim que te atraiu. O que você viu, Kusanagi san?
[roxa]- A pessoa com quem eu quero estar o tempo todo.
[engolindo seco]- Eeeh… eu sou tão bonita assim?
[roxa e fumegando]- Você é muito gostosa.
Hm. Bem. A circunstância vem a calhar. Considere isso a minha recompensa, escritor dessa história. Mesmo sentindo vergonha e constrangimento, eu me levanto, tiro minha roupa e vou para cima de Kusanagi. Ela me olha com surpresa, medo, mas satisfação. Eu a beijo com paixão e ternura, o corpo cibernético dela demonstra os mesmos sinais que eu conheço bem. Eu consigo sentir a respiração e pulsação dela acelerados enquanto eu removo o avental para observar melhor esse corpo. Perfeito. Igual aos meus sonhos mais ousados. Ela treme, eu devo ser sua primeira transa, então eu vou ter que ser gentil. Mais beijos e minha mão começa a explorar cada centímetro daquele corpo sintético e não noto diferença alguma. Textura igual, maciez igual, reação igual, gemidos iguais. Eu fico olhando a flor do jardim dela, a forma, a cor, o cheiro e os líquidos corporais bem similares. Eu sorrio enquanto a vejo mergulhada no êxtase e me ofereço para receber a minha parte. Eu dou algumas dicas, orientações, no começo, ela aprende rápido e não demora muito para eu atingir o orgasmo múltiplo. Fim da luta, nós duas estamos no chão, completamente exaustas e felizes.
[resfolegando]- Então… Kusanagi san… o que achou?
[resfolegando]- Eu nunca senti algo assim antes.
[suspiro]- Eu vou te pedir que você continue a desenvolver e explorar o seu corpo, o seu desejo e o seu prazer. Por mais nojento que seja, você deve experimentar, pelo menos uma vez, trepar com um homem.
[recuperando o fôlego]- Mesmo? Hm. Olha, se algum dia você não estiver usando esse escritor, você me empresta ele? Eu soube de boatos sobre ele...
- Eh… eu também ouvi algo… mas eu sou uma profissional. Eu não misturo trabalho com prazer.
[insinuante]- Mas depois que essa história acabar…
- Eeeh… depois é depois. Agora eu tenho que voltar. Vamos seguir o roteiro, oquei?
- Eu quis transar com você, Satou chan. Fui eu quem convenceu o escritor a incluir essa cena. Mesmo que eu tenha que trepar com ele. Aliás, eu quero trepar com ele. Eu quero saber se é verdade que ele carrega o Deus da Floresta dentro dele.
- Bo… bom… isso é outro assunto. Nos vemos por aí, Kusanagi san.
- Até mais, Satou chan. Pode vir quando quiser. Eu sou sua boneca e sua puta.
Novamente eu fico envergonhada e constrangida. Eu vou ter que apresentar Shouko para a Kusanagi. Quem sabe nós começamos um triângulo amoroso. No momento, eu só quero voltar ao meu quarto e dormir, eu estou precisando descansar depois desse sexo cibernético.
Eu tive alguns sonhos estranhos e admitir isso é muito estranho. Eu estou acordada, vestida e preparada para o café da manhã que Ukiyo deve ter preparado para mim, quando alguém bate na porta e me chama.
- Satou chan? O café está pronto. Hoje eu vou te acompanhar em seu caminho até a escola. Masaomi fez questão disso.
A voz é do Yusuke e não é necessário olhar para saber que ele deve estar com o rosto vermelho. Eu só penso na Shouko e na Kusanagi, o que me ajuda a fingir melhor.
- Bom dia, Yusuke kun. Obrigada e desculpe pelo incômodo.
[enrubescido]- Não… tudo bem… não é incômodo. Afinal, você é minha irmã.
[rindo discretamente]- Hai! Isso e por que você gosta de mim, né?
[roxo]- Não… não fique falando essas coisas do nada. Alguém pode ouvir e ficar falando mal.
[sorriso sacana]- Awww… Yusuke kun… eu te disse que eu não me importo com isso, né? Ou você não acredita na sua irmãzinha?
[roxo e fumegando]- E… eu acredito em você, Satou chan. Vamos, antes que esfrie.
Eu tenho que segurar o riso enquanto Yusuke me acompanha pelo trajeto tentando disfarçar sua ereção. Talvez eu tenha que infringir uma das minhas regras para conferir o treco dele com o que eu vi do Subaru… para propósitos científicos, é claro. Como eu disse antes, não é que eu goste de meninos ou homens. Mas também não os odeio. Apenas não suporto quando são nojentos. Tem um ou outro que até se tornam brinquedos e escravos interessantes. Dependendo de como vai transcorrer a minha aventura na mansão Asahina, eu até considero a possibilidade de incluir Subaru e Yusuke em meus brinquedos. Mas não hesitarei em matá-los, se interferirem em meu relacionamento com Shouko e Kusanagi. Enfim, eu não sou uma pessoa ruim, eu sou um docinho, se souber lidar comigo. Eu digo isso no caso do escritor dessa história estiver com algum pensamento impróprio. Até que ele é uma gracinha. Bom, voltemos ao roteiro.
- Bom dia, dorminhoca.
- Hai, Ukiyo san. Por favor, perdoe meu atraso. Eu estava com muito sono.
[suspiro]- Tudo bem. Nós também não dormimos bem. Duas tragédias em tão pouco tempo. Eu espero que isso não afete sua impressão sobre nós, Satou chan.
[envergonhada]- Ha… hai… não… eu não… quer dizer… sou eu quem está invadindo a vida de vocês… eu não…
[sorrindo]- Bobagem. Satou chan, você é a melhor coisa que aconteceu nessa família. Eu acho que posso falar em nome de todos. Você é a pessoa mais especial dessa família.
Eu sinto vapor sair de meus ouvidos. Essa vergonha e constrangimento são incomuns e autênticos. Eu realmente sinto que sou bem-vinda a essa família, não sinto nenhum sinal de intenção sexual e isso me deixa incomodada. Eu terei que alterar a minha agenda e que se dane meu diário. Eu tento desviar meus pensamentos observando o Yusuke, o que geralmente é engraçado, mas eu começo a sentir empatia por ele, afinal, eu sei pelo que ele deve estar passando e isso é mais perturbador ainda, considerando a vida que eu tenho e a pessoa que eu sou. Eu quase perco o apetite e quase não sinto o sabor do que eu estou comendo, algo que eu vou ter que esconder do Ukiyo e essa consideração me deixa preocupada.
[desviando o olhar]- Satou chan, se você acabou, eu acho melhor nós irmos à escola.
- Hai, Yusuke kun. Eu acabei. Vamos à escola juntinhos, oquei?
[enrubescendo]- Ha… hai.
[sorrindo]- Eu fico feliz em ver que vocês se dão bem. Yusuke, eu confio em você para estreitar o nosso relacionamento com Satou chan, oquei?
[roxo e fumegando]- Ha… hai.
- Tsc. Está tarde. Se vocês forem de ônibus, vão chegar atrasados. Eu vou chamar um táxi.
- Hei, Ukiyo san, eu posso chamar uma amiga? Ela é taxista.
- Hm. Sim, isso pode ser feito. Por favor, Satou chan, chame sua amiga.
Eu ligo para Minene san e, usando os códigos apropriados, explico a situação. A voz dela emite satisfação, o que eu interpreto que minha atitude foi aprovada. Eu me permito sentir elogiada e feliz. Cinco minutos depois eu e Yusuke entramos no táxi da Minene san.
- Bom dia, Satou chan. E esse jovem, quem é?
- Bom dia Minene san. Esse é Yusuke, meu irmão.
- Bom dia.
- Bom dia, Yusuke kun e me perdoe.
Minene solta um gás na direção do Yusuke que dorme instantâneamente.
- Eu te peço perdão também, Satou chan. Mas só assim nós podemos conversar.
- Hai. Tudo bem, Minene san. Eu é que fui inconveniente.
[riso]- Bobagem. Sua atitude foi ousada, mas providencial. Novamente, eu te devo desculpas. Eu não liguei para você, então, meus parabéns pela missão bem sucedida.
[envergonhada]- Ha… hai… obrigada.
[riso]- A sua ação ajudou muito o Projeto Deus Ex Machina. O Templo Omekata, ou para ser mais precisa, a senhorita Tsubaki Kasugano, está muito satisfeita com os resultados. Se você não tiver outro compromisso, você pode vir ao templo e conhecer a senhorita Kasugano?
- Hai. Será uma honra e um prazer.
[riso sacana]- Eu vou convidar a Shouko também. Eu acho que vou até pedir à senhorita Kasugano casar vocês duas.
[roxa]- Eeeeh?
[gargalhada]- Sim, eu vou fazer isso. Os demais portadores de diário estão por aí. Wataru não era o mais perigoso. Eu sei o que é perder alguém que você ama, Satou chan. Vocês devem se casar. Eu não quero ter arrependimentos.
[envergonhada]- Minene san…
[sorriso]- Vamos, não é hora de confidências. Quando tudo isso acabar, Satou chan, vamos sair todas juntas, como boas amigas, oquei?
[acanhada]-Ha… hai.
Minene administra o antídoto no Yusuke que desperta sem qualquer efeito colateral ou lembrança. Ele pede desculpas, todo envergonhado, por ter dormido e nós discretamente rimos. Yusuke vai para a classe dele e eu posso me deleitar com a companhia de Shouko. No intervalo das aulas, nós acabamos nos enredando para saciar um pouco da saudade que sentíamos uma da outra. Pouco tempo, eu diria, mas geralmente eu só preciso de cinco minutos de paixão tórrida com minha Princesa. O difícil, ainda que eu tenha adquirido algum costume, é disfarçar minhas pernas bambas e a expressão de êxtase. Ao final das aulas, na saída do colégio, Shouko “atira”, sem hesitar.
- Satou chan, Minene san me mandou uma mensagem sobre nós irmos ao Templo Omekata e conhecer a senhorita Kasugano. Vai ser algum tipo de reunião sobre o Projeto Deus Ex Machina?
[disfarçando]- Eu acho que sim. De qualquer forma, nós devemos ir. Pode ser que tenhamos uma bela surpresa.
emburrada]- Você está escondendo algo de mim, Satou chan. Isso não é justo.
Nós mal tínhamos acabado de transar horas atrás e eu fiquei com uma vontade enorme de fazer de novo, só de ver essa expressão no rosto de Shouko. Eu quase fico constrangida em me ver assim tão tarada, mas a Shouko consegue provocar isso em mim, então, a culpa é dela, certo? Antes de entrar na mansão Asahina, eu arrasto a Shouko para um canto discreto e nós podemos “dançar” mais um pouco. Eu mal consigo me manter em pé, tenho dificuldade em controlar minha respiração e pulsação, então pouco posso fazer senão acenar enquanto Shouko se despede e volta para a casa dela.
Eu cheguei em meu quarto e desabei na cama. Ukiyo não pareceu chateado por eu ter pulado a janta. Masaomi estava no celular, aparentemente falando com Natsume ou Fuuto sobre a ausência deles e a indelicadeza de não ter vindo me conhecer. Eu estou quase em sono profundo, entretida com um sonho molhado envolvendo eu, Shouko e Kusanagi quando meu celular toca. Qualquer pensamento ou palavra que eu tenha preparado para compensar minha irritação somem assim que eu vejo que a ligação é da senhorita Minene.
- Minene san, eu estou às ordens.
[risos]- Satou chan, desculpe ligar tarde. Você deve estar cansada e com sono. Eu acabei de falar com a Shouko. A associação preparou um evento no Templo Omekata para o Projeto Deus Ex Machina. Eu não posso entrar em muitos detalhes, mas os Homens Sem Face deram um jeito para que sua escola vá visitar o Templo Omekata. A senhorita Kasugano está muito interessada em te conhecer. Entretanto, tenha cautela, essa atividade pode e vai atrair a atenção de outros Portadores de Diário. Mais uma coisa: você pode deixar de formalismo comigo. Nós somos amigas, né? Boa noite, bons sonhos.
O celular fica mudo e eu volto a dormir, eu consigo retomar o sonho molhado que agora inclui a senhorita Minene. Eu sou incorrigivelmente tarada. Como a senhorita Kasugano vai encarar a minha pessoa? Será que ela… ah, que coisa, eu mal conheço a senhorita Kasugano, uma sacerdotisa e comecei a fantasiar com ela. Eu não presto.
O resto da semana passou como uma tediosa rotina. A representante de classe fez uma pausa dramática, no final do período, na sexta feira e anunciou que o colégio vai em uma excursão ao Templo Omekata, por ocasião da proximidade das festividades de lua cheia. Todos ficaram animados, por diversos motivos, mas o consenso é que todos [meninos e meninas] queriam conhecer a sacerdotisa Kasugano. Os alunos [e alunas] fazem pequenos grupos, pessoas com afinidade ou amizade, o que me faz dispensar os convites que me fazem. Eu certamente vou acompanhar a Shouko, sem dúvida.
Se tivesse sido combinado, não teria dado tão certo. Eu entro no ônibus de excursão e Shouko está lá, reservando o meu lugar ao lado dela. Shouko esperta. Eu nem ligo para os olhares vindo dos meninos e meninas. Eu só espero algum dia poder confessar publicamente meu amor pela Shouko. A minha vontade é de agarrar ela e fazer coisas que o leitor dessa história deve estar cansado de saber. Os professores e monitores tem bastante trabalho para organizar o pessoal e ter ordem, afinal, nós vamos visitar um templo, não é o parque da cidade.
Na entrada do templo, os serviçais estão usando uma guirlanda de pano com olhos desenhados e agitando os gohei [varinhas de purificação]. Eu vou seguindo a fila e admirando a beleza do jardim e a parte externa do templo. Eu deixo na caixa de oferendas uma nota de cinco yens, pego um talismã e passo pelo toori que dá acesso ao espaço mais sagrado do templo. Eu vi diversos templos, budistas e shintoístas, mas por alguma razão desconhecida eu me sinto à vontade aqui. Do nada, uma garota, que se parece muito comigo, me puxa para o lado e começa a falar.
- Você não veio atrás do Yuki, veio?
- Hã? Quem? Quem é você, garota?
- Yuno Gasai. Noiva de Yuki.
- Meus parabéns. Boa sorte. Eu não tenho [muito] interesse em meninos.
- Hm. Bem. Por acaso é uma Portadora de Diário?
- Qual é seu problema, garota? Nós mal nos conhecemos!
- Isso não irá me impedir de te matar, se você for uma Portadora de Diário.
- Mas que garota esquisita. Eu nem sei o que é ser Portadora de Diário.
- Hm. Então você não sabe nada sobre o Projeto Deus Ex Machina?
- Qual é, garota? Sai do meu pé. Ou eu te denuncio.
- Hm. Entendi. Dessa vez passa. Mas eu vou ficar de olho em você.
Eu menti em muitas partes. Eu sei quem é Yuno Gasai. Ela é a única herdeira do Banco Gasai. Minene tinha me avisado que outros portadores de diário apareceriam, então ela e esse tal de Yuki devem ser portadores de diário. Yuno é muito parecida comigo, eu cheguei a pensar que eu estava olhando para um espelho ou um clone. Tirando a parte de gostar de meninos [embora eu não os odeie], ela tem a mesma natureza e vida que eu tenho. Se nós tivermos que nos enfrentar, eu não sei qual de nós duas vai vencer. O som metálico e harmonioso de uma cumbuca de bronze esvai meus pensamentos.
- Bom dia, alunos e alunas do Colégio Makikou. Como todos esperavam, recebam a sacerdotisa, a senhorita Tsubaki Kasugano.
Meus olhos se enchem de faíscas. A figura da senhorita Kasugano está envolta em pequenos pontos de luz. Eu só senti algo parecido quando eu conheci a Shouko. Deuses, eu peço perdão, mas eu estou apaixonada pela senhorita Kasugano.
- Sejam todos bem vindos. Por favor, façam uma fila, eu vou atender a todos. Eu tenho uma revelação pessoal a cada um de vocês.
Eu sinto um arrepio na espinha, um misto de excitação e medo. Eu vou ficar bem perto da senhorita Kasugano. Será que ela vai notar a minha excitação? Será que ela vai me desprezar? O que Shouko vai pensar disso? E Kusanagi? E Minene? Ah, do que adianta ter um coração se o coração pode ser quebrado? E essa fila que não anda?
- Bom dia, senhorita. Nome?
- Satou Matsuzaka.
- Hai. Aguarde, por favor, a senhorita é a próxima.
Eu fico apreensiva, ansiosa e nervosa. Até parece o meu primeiro encontro. Aquele que eu tive com a minha professora de inglês. Eu definitivamente não sou normal. O serviçal acena e eu me aproximo da senhorita Kasugano, sento a poucos centímetros dela e sinto meu corpo inteiro suar de tesão.
- Bom dia, Matsuzaka san. Eu sei o que você sente e eu sei o que você pensa.
[envergonhada]- Ha… hai.
[sorrindo]- Não há necessidade de sentir vergonha. O que você sente por mim é muito natural e saudável.
[enrubescendo]- Ha… hai.
- A senhorita Minene deve ter te explicado o motivo principal de você ter vindo aqui. Eu agradeço sua vinda. Mas você deve estar se perguntando como eu posso saber quem você é se eu sou cega, né?
Eu fico confusa e desorientada. Eu estava tão entretida em me deliciar com a bela aparência e forma física da senhorita Kasugano que nem me dei conta que ela é cega. Se bem que isso não altera em nada o meu interesse nela. Mas a pergunta é interessante. Ela sabe tudo sobre mim? O que eu devo fazer a respeito?
[quase roxa]- Eeeh… então a senhorita sabe que eu gosto de meninas?
[riso discreto]- Hai. Eu senti uma forte atração física e sexual vinda de você em minha direção.
[roxa e fumegando]- Eeeh… isso não é estranho… proibido?
Ela abre um belo sorriso, inclina e pega em minha mão. Eu sinto uma energia percorrendo meu corpo inteiro, minha pele inteira reage, pipocando. Eu sinto meus líquidos corporais começando a escorrer por entre minhas coxas.
- Não, Satou chan. Não é estranho nem proibido. Eu fico lisonjeada e feliz de saber que você gosta tanto assim de mim. Eu fiz a Minene te trazer aqui exatamente porque eu gosto muito de você também.
Eu sinto tontura e quase desfaleço. Isso é possível? Uma pessoa tão linda, tão sagrada, gostar de uma assassina como eu?
- Satou chan, por favor, colabore com o meu templo. Em troca de sua ajuda, eu te prometo uma “sessão particular” entre nós duas. Combinado?
[super roxa]- Eeeh… mas eu sou....
- Lésbica? Psicopata? Assassina? Você é tudo isso e muito gostosa, Satou chan. Eu te amo exatamente como você é.
Eu me contorço inteira. Minhas coxas retesam. Eu sinto uma vergonha enorme porque acabei de molhar o tatame do templo com meus líquidos corporais. Eu estou além de qualquer esperança ou de conserto.
- Eu vou repetir só mais uma vez, Satou chan. Eu te amo. Exatamente como você é. Não tenha vergonha. Nunca mais.
Sem que eu ou os demais esperasse por isso, a senhorita Kasugano move sua mão até meu rosto, nos aproxima e então me beija de uma forma que poucas pessoas [meninas e mulheres] alguma vez fizeram comigo. Eu estou mergulhada em um oceano róseo, a poucos segundos de ter um orgasmo múltiplo. Eu me permito de não sentir… não… eu me proíbo de sentir vergonha.
[riso]- Assim é melhor. Eu vou aguardar ansiosamente por seu sucesso.
Aos poucos eu recobro a consciência e percebo que Shouko está ao meu lado.
- Satou chan, está se sentindo melhor?
- Hai, Shouko chan. Por favor, me perdoe.
- Hai? Por que me pede perdão?
- Porque eu me apaixonei pela senhorita Kasugano.
[riso]- O que tem isso demais? Você não é propriedade minha. Eu vou continuar a te amar, sempre. E eu sei que você vai continuar a me amar, sempre.
- Vo… você não se importa?
- Com o quê? Amor não diminui nem pode ser dividido. Amor sempre será amor. Você tem muito amor para oferecer, Satou chan. Eu também tenho. Vamos distribuir amor para todas as pessoas que nós escolhermos.
Sim, eu devo agradecer ao escritor dessa história de forma apropriada, mas na hora certa. No momento, eu vou ter que me concentrar no Projeto Deus Ex Machina, na esperança de que isso possa acertar o meu destino, de preferência convivendo com todas as minhas amadas.
O evento estava acabando, nem os professores nem os alunos pareciam escandalizados com o beijo que a senhorita Kasugano deu em mim. Eu nunca esperei finais felizes, mas eu não vou reclamar se eu conseguir um. Eu acho que vou ter que confiar em você, escritor, oquei?
Eu vou seguir o roteiro. Vejamos. Eu percebo a agitação, um vulto salta na direção da senhorita Kasugano, fora da minha área de combate. Grito de dor, sangue… eu respiro aliviada ao ver que a senhorita Kasugano está bem, mas não o escritor. Sério, escritor? Eu vou ter que reavaliar a minha impressão sobre você e homens em geral. Enfim, eu percebo que foi a senhorita Yuno quem atacou a senhorita Kasugano. Eu vou fazer a cena de luta com ela. Considere isso uma recompensa, escritor.
Eu vou deixar como está o roteiro. Empate. Nós duas sobrevivemos, mas com o orgulho ferido. Yuno some com o tal do Yuki. Shouko está fazendo os curativos, quando a senhorita Kasugano se aproxima.
- Você está ferida. Vai precisar de descanso e reabilitação. Eu vou providenciar o quarto de hóspedes. Tudo bem, Shouko?
- Hai! Só não esgote a minha bandida, deixe um pouco para mim.
[riso]- Eu vou cuidar bem da Satou chan.
Eu acho que você vai me cobrar por isso depois, escritor pervertido. Eu vou permitir. Considere um privilégio. Eu sei agradecer e eu estou grata pela noite maravilhosa que eu passei com a senhorita Kasugano. Eu queria passar o resto do mês fazendo essa cena, mas eu sou profissional e tenho um roteiro a encenar.
Eu creio que essas são as últimas cenas, eu não sei se fico receosa ou esperançosa. Pontualmente, Minene liga para mim.
- Satou chan? Eu tenho boas e más notícias. O Décimo Primeiro Portador de Diário é o prefeito da cidade. O Templo Omekata está especialmente generoso se nós o pegarmos. A má notícia, se é que eu posso dizer assim, é que Natsume, Fuuto e Iori podem estar envolvidos com o senhor John Bacchus. Eu suspeito que seus irmãos podem ser policiais ou membros de alguma organização secreta.
- Hai. Deixe-me cuidar do Iori. Desses suspeitos, eu odeio ele.
- Claro, claro, Duquesa. Se você tiver problemas e precisar de ajuda, é só me chamar, oquei?
Minene inventou um apelido para mim. Eu fico animada, lisonjeada e excitada. Eu não tenho tempo para fantasiar com Minene. Depois eu “cuido” pessoalmente da Minene. Os fatos que eu tenho envolvem meu colégio, o prefeito, o templo, os portadores de diário e o Projeto Deus Ex Machina. Meu instinto indica que eu devo cruzar os dados para ver quem e quais pessoas possam ter todos esses fatos em comum. Dois nomes que chamam a minha atenção: Natsume e Iori. Segundo a inteligência, Natsume trabalha como executivo de games apenas como fachada, ele tem ligações com a Interpol. Com Iori, eu tive mais dificuldades, eu tive que usar certas “técnicas” [sedução, sensualidade sexo selvagem] para obter da Inteligência dos Homens Sem Face que ele está envolvido com o MI8. Iori deve se achar um James Bond. Isso só me deixa com mais vontade de matá-lo. Eu começo a elaborar um plano na mente, quando meu celular toca.
- Olá, irmãzinha.
- Iori san?
- Sabe, não foi fácil descobrir seu passado. Eu estou impressionado. Eu poderia acabar com você, desmascarando sua farsa na frente de todos, mas isso não me satisfaria. Você precisa ser detida, julgada e sentenciada.
- Nem em seus sonhos mais loucos.
[gargalhada]- Eu sabia que você diria isso. Eu estou com alguém que quer falar com você…
[grito]- Satou chan!
- Essa é a minha oferta, irmãzinha. Entregue-se. Eu vou te estuprar e matar. Depois eu fodo e libero sua amante. O melhor de tudo é que eu ainda vou ser condecorado. Eu estou te esperando.
Essa foi uma estratégia e um movimento péssimos, irmão. Assim que a ligação acaba, todos os meus limites e códigos de segurança estão liberados. Não foi algo bonito de se ver, então eu vou poupar o escritor e o leitor dos detalhes. Eu abracei Shouko, nós duas empapadas de sangue e isso não nos impediu de fodermos gostoso, ali, no chão duro de cimento e eu estava adorando cada segundo. Nós estávamos nos recuperando quando o celular dela tocou.
- Duquesa, é a senhorita Minene.
-Hai?
- Satou chan, querida, parabéns. Sua ação veio no momento certo. O Templo Omekata, melhor dizendo, a senhorita Kasugano exige sua presença. Hoje é o equinócio, ela vai abrir o portal entre os mundos. Nós vamos poder viver todas juntas em um mundo ideal. Venha, que eu quero que todas nós viremos uma bela e grande família.
Sério, escritor? Se continuar assim, eu terei muito trabalho em te agradecer de forma apropriada. E se for assim, você vai ter que assumir a responsabilidade e durar até o final, oquei? Oquei. Enfim, vamos seguir o roteiro. Eu vou toda alegre ao Templo Omekata, junto com a Shouko. Minene e Kasugano estão lá, acompanhadas da senhorita Kusanagi. Eu fico instantaneamente excitada, só com as minhas fantasias.
- Que bom que você veio, Satou chan. Hoje é uma noite muito especial. Você vai nos ajudar no ritual de celebração do outono. E nós temos uma convidada muito especial. Por favor, senhorita, pode aparecer?
Meus olhos ardem de paixão e desejo. Diante de mim está a grande Aria Stark. Na associação dos Homens Sem Face ela tem o nível de um general e é ídolo de todos nós. Eu estou muito feliz em conhecer a senhorita Aria pessoalmente, então não pergunto qual o objetivo do ritual.
[riso]- Satou chan, por favor, pegue a anotação do escritor e escreva por ele. Nós vamos precisar dele para o ritual.
Oh, bem, não é algo que eu goste de fazer, mas não deve ser difícil colocar palavras em determinada ordem em um texto. Você vive disso, escritor? Fácil demais. A senhorita Kasugano entoa um hino e eu percebo que a senhorita Aria está diferente, envolvida com uma enorme energia espiritual. A senhorita Kasugano entoa outro hino na direção do escritor e eu sinto uma enorme energia espiritual em todo o ambiente. Algo começa a mudar no escritor. Ele, que eu admito ter ficado impressionada com sua “ferramenta”, fica três vezes maior… em todos os sentidos e eu fico com ciúmes e inveja da senhorita Aria. Ela apenas sorri, satisfeita com o resultado [eu também ficaria e eu nem gosto - muito - de meninos]. Ela faz um sinal, o escritor deita no altar que é uma cama king size e, sem qualquer hesitação, se posiciona em cima dele e começa a tragar aquele treco todo dentro dela. Isso é possível? Eu definitivamente quero experimentar. Por razões científicas, evidente. Eu conheço essa dança muito bem, então eu consigo perceber quando a senhorita Aria tem orgasmo múltiplo e eu fico imaginando como deve ser receber essa enorme carga de sêmen dentro do ventre… deve ser sensacional… ah, eu vou querer experimentar… você vai ter que aguentar, escritor!
[sorrindo]- Parabéns, senhor escritor. O ritual foi um sucesso. O portal está aberto e nós podemos achar um lugar, dentro do multiverso, onde nós possamos viver todos juntos e felizes. O que me diz, Satou chan? Quer experimentar o que é sentir um Deus gozando dentro de você antes de partir?
Eu vou ter que resumir. Eu, Shouko, Minene, Kusanagi e Kasugano encontramos um lugar onde nós podemos viver juntas e foder a tarde inteira, se quisermos. Eu, em nome de todas, só te digo, escritor, que você é bem vindo. Venha em nossa casa quando quiser. Eu certamente vou querer repetir nossa trepada. Azar seu se eu ficar grávida. Eu não vou me importar de sentir você preenchendo todos os meus buracos com o seu sêmen. Aliás, eu faço questão. Nós até fizemos uma agenda, para que cada uma possa ter a sua vez. Nós apostamos entre nós para ver quem fica grávida de você primeiro. Então não fique chateado se eu te drenar. Eu fiquei viciada. Foda-me gostoso, eu sou sua puta.

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