Nós somos mal vistos por falarmos de Paganismo e Bruxaria. Nós
somos mal vistos por defender abertamente a sacralidade da natureza, do corpo,
do desejo, do prazer e do sexo. Nós somos mal vistos por nossas práticas e
ferramentas e pelo nosso comércio com espíritos da natureza, gênios, entidades
e Deuses. Isto também acontece dentro da Comunidade Pagã, quando celebridades pagãs
afirmam, por exemplo, que não há sacrifício de animais na Bruxaria. Infelizmente
pagãos modernos estão adquirindo o péssimo hábito provinciano, arrogante e
prepotente em julgar certos ritos como atrasados, selvagens, incultos e
impróprios de serem mantidos por pessoas supostamente mais cultas e
civilizadas. Isso é um resquício de puritanismo e moralismo hipócrita da
cultura judaico-cristã.
Este é um texto crítico, especialmente diante da popularização
da “Religião da Deusa” e do Dianismo no Paganismo Moderno, na Wicca e Bruxaria
tradicionais.
Eu não vou falar nem Dione Fortune com sua Teosofia, nem de
Apuleio com sua obra escrita dentro de um contexto pós-helenização do oriente
Médio e Egito. Eu vou desvendar a maior paganice e wiccanice em voga: a de
creditar às esculturas das “Vênus” do Paleolítico e do Neolítico como “evidência”
da existência de um “antigo culto à Deusa Mãe”.
Considere isto como uma resenha e crítica ao livro "Da Sedução e Outros Perigos", de Flávia Regina Marquetti - Editora Unesp.
Considere isto como uma resenha e crítica ao livro "Da Sedução e Outros Perigos", de Flávia Regina Marquetti - Editora Unesp.
Quando olhamos para um período da história humana,
especialmente arte, pegar os itens que interessam para uma hipótese e
desconsiderar outros itens ou contexto onde a arte foi produzida é preguiça e
desonestidade intelectual.
Essas esculturas, como toda arte, não podem ser lidas ou
interpretadas conforme nossas tendências, preferências ou necessidades. Esses artistas
simplesmente representaram algo evidente: a mulher é a portadora da vida, mas ela
não é a única responsável pela gestação. Por comparação e analogia, as
esculturas simbolizam a semelhança entre a mulher e a natureza, enquanto
portadoras da fecundidade e da fertilidade. Há uma nítida equiparação quando
comparamos a modificação no corpo da mulher [das fêmeas em geral] e a
modificação da flor para o fruto e é este princípio misterioso que está sendo
figurado na escultura.
O dito popular conta-nos, com propriedade, que a mulher entra "em trabalho de parto" e que a mulher "dá a luz" e nisto esconde-se o mistério da gravidez, da fecundidade e da fertilidade. A flor e a fêmea recebem um material [polem/semen] e de sua parte, forma, trama, tece o fruto/feto. Por extensão, o feminino e a natureza [floresta e campo] ficaram associado à arvore, às abelhas, às aves e à serpente. Estas são as representações que configuram as diversas imagens de "Vênus" ao longo das eras.
O dito popular conta-nos, com propriedade, que a mulher entra "em trabalho de parto" e que a mulher "dá a luz" e nisto esconde-se o mistério da gravidez, da fecundidade e da fertilidade. A flor e a fêmea recebem um material [polem/semen] e de sua parte, forma, trama, tece o fruto/feto. Por extensão, o feminino e a natureza [floresta e campo] ficaram associado à arvore, às abelhas, às aves e à serpente. Estas são as representações que configuram as diversas imagens de "Vênus" ao longo das eras.
A arte do Paleolítico e do Neolítico não está centrada
apenas em figurar o princípio feminino com a natureza, nem tem a intenção de
declarar a existência de um culto universal a uma única Deusa Mãe.
Existem esculturas também de cavalos e bisões. Se as
esculturas das “Vênus” fossem uma evidência de um antigo culto a uma Deusa Mãe,
então podemos considerar as esculturas e pinturas de algumas “Vênus” junto com
bisões como evidências de um antigo culto ao Bisão.
Nas cavernas da França, em Pont d’Arc e Angles sur l’Anglin,
baixos relevos mostram a “Deusa Vênus” acompanhada, cortejada ou até mesmo
sugerindo uma relação sexual com um bisão. O bisão é um animal que mais está
representado em pinturas rupestres em diversas cavernas.
Tal como as representações da mulher alteraram-se com o
desenvolvimento da humanidade, a figura do bisão também teve alterações,
resultando na representação do touro como a enigmática manifestação de um Deus regente
e consorte de diversas Deusas.
O desdobramento mítico dessa Deusa e Deus primordiais podem
ser vistos no mistério do Hiero Gamos, na Morte Sacrificial [do Deus da
Vegetação ou do Touro] e no Renascimento Cíclico da vida e da natureza. Somente
existe a vida e o renascimento com a morte e o sacrifício.
“Ninguém pode viver senão destruindo a vida, senão matando
outros seres vivos. Nenhum ser pode subsistir sem devorar outras formas de
vida, vegetal ou animal. Isso é um aspecto fundamental da natureza. Toda a vida
do mundo, animal ou humana, é uma interminável matança. Existir significa comer
e ser comido. Todo ser vivo alimenta-se de outros seres e irá se tornar o
alimento de outros seres num ciclo interminável.”[Alain Danielou – Shiva e
Dioniso].
Nossas origens, nossas raízes e nossa espiritualidade
estiveram enterradas por séculos pela hipocrisia moral cristã. Muitos são os
que se dizem pagãos e bruxos que trazem consigo esse puritanismo e não são
capazes de seguir as Verdades Eternas que existem nos mitos, nas práticas e nas
tradições. Esse é o Caminho pelos Bosques Sagrados. Este é um caminho que
somente pode ser trilhado com terra, sementes, folhas, flores, raízes, penas,
entranhas, sangue, ossos, sêmen. Esse é o caminho do bruxo e da bruxa.
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