Neste blog eu escrevi textos analisando as raízes do Cristianismo, sua história, doutrina e estrutura. Também tem um texto humorado onde se imagina o que aconteceria se o Papa fosse mulher. Acredito ser desnecessário ressaltar a incompatibilidade do Monoteísmo com o Politeísmo, do Cristianismo com o Paganismo.
Entretanto houve uma época onde esse abismo não estava tão nítido e definido, haviam religiões antigas “pagãs” que tinham um enfoque na questão do “pecado”, na expiação individual e na “redenção” do “pecador” por intermédio da ação de um Deus, um “Salvador”. Diversas ordens esotéricas, religiões de mistério e ordens iniciáticas existiram antes do Cristianismo, o influenciaram, conviveram e foram assimiladas pelos cristãos primitivos. As primeiras comunidades cristãs eram um caldo sincrético, onde o misticismo judaico confluiu com o misticismo pagão, judeus helenizados congregavam com gentios.
Isto que comumente chamamos de Cristianismo, seja Católico ou Protestante, foi o resultado de um longo processo histórico, mas que está longe de representar o Cristianismo como um todo. O Cristianismo em sua origem consistia de grupos que tinham diferentes Evangelhos, doutrinas, estruturas e práticas. Muitos destes não aceitam os Concílios que resultaram na Igreja Católica, não fazem parte da Igreja Ortodoxa e não fazem parte da Igreja Protestante.
Isto que chamamos de Cristianismo está baseado em um texto sagrado chamado Evangelho, cuja autenticidade, originalidade e veracidade são discutíveis. Dependendo da vertente, o Evangelho é composto por textos diferentes, tem autores diferentes e frequentemente os conteúdos são contraditórios. Torna-se muito difícil chegar a uma conclusão de quem era e o que ensinou Cristo. No entanto, suscitou muita polêmica e revolta entre os cristãos quando foi lançado o livro intitulado “Judith Christ of Nazareth, the Gospels of the Bible, Corrected to Reflect That Christ Was a Woman”, do Institute LBI, unicamente por afirmar, segundo a interpretação de um Evangelho, que Cristo era mulher.
Na história do Cristianismo, quando estudamos vertentes conhecidas como heresias, não podemos nos esquecer de que os hereges ainda eram cristãos. Quando lemos textos do Cristianismo, ao lidarmos com os textos não canônicos conhecidos como Apócrifos, ainda assim são textos cristãos. Livros como Nag Hamadi e outros textos Gnósticos dão um bom exemplo de como as noções mais aceitas como sendo pertencentes ao Cristianismo tornam-se difusas e nebulosas.
Considerando que “Cristo” é um título e que títulos são concedidos tanto a homens quanto mulheres, este título é comum entre dois gêneros. A coisa complica bastante quando levamos em consideração que Cristo é uma palavra grega, uma péssima tradução do hebraico Ha-Massiah, significando “Ungido”. Mesmo o nome Jesus tem origem grega, resultado de uma transliteração de Iesus, outra péssima tradução do nome hebraico Yeshua. Este personagem, histórico ou não, era o líder rabino dos judeus helenizados que congregavam junto com os gentios, da congregação messiânica dos Nazarenos, da raiz Notzri, não porque eram originários da cidade de Nazaré. Como em outras congregações judaicas messiânicas, acreditavam que a vinda do Ha-Massiah era iminente e que depois viria o Juízo Final. Como em todas as congregações judaicas, era extremamente sexista, patriarcal e misógina. Mas para os gentios e suas crenças era normal e natural que uma mulher fosse a Iniciadora, a Profetisa e a Sacerdotisa. Em grupos com mais gentios que judeus, não apenas as mulheres estavam presentes na organização e na estrutura da ecclesia, como também Cristo era mulher. Mas estes eram os hereges que foram combatidos, censurados, perseguidos, presos, torturados e executados pela Igreja.
Pouco ou nada foi escrito no Evangelho da Igreja sobre a importância e o papel da mulher no Cristianismo. A despeito disso, o Evangelho canônico contém trechos que conflitam com a visão sexista, patriarcal e misógina contida no Cristianismo oficial. Considerando que a Bíblia foi uma invenção recente na história do Cristianismo e da Igreja, há uma enorme probabilidade que os santos padres escolheram e pinçaram os textos e trechos que os agradavam e interessava para a sustentação do poder e autoridade da Igreja. Aquilo que o padre ou pastor lê para os cristãos é uma fabulosa fraude que não contém os verdadeiros ensinamentos de Cristo. Pode ser que algum dia os ensinamentos de Cristo Mulher sejam achados e divulgados. Isso certamente vai acabar com a Igreja, seja a Católica, a Ortodoxa ou a Protestante. Se isso vai modificar ou acabar com o Cristianismo tal como é concebido hoje em dia, apenas Deus sabe.
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